Ao vencedor, as batatas

Esta frase tornou-se antológica no meio literário brasileiro. A autoria é de Machado de Assis e foi exposta na obra Quincas Borba ao explicar parte

26/10/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes”.
 
George Bernard Shaw, escritor
 
 
Esta frase tornou-se antológica no meio literário brasileiro. A autoria é de Machado de Assis e foi exposta na obra Quincas Borba ao explicar parte de seu niilismo na filosofia a que denominou Humanitismo. É o enfoque principal do enredo, assim como o dessa Gazetilha: a inutilidade e vazio de uma vitória que, para tantos, sugere ser até mesmo uma questão de honra, de sobrevida. Quanto esforço para receber como prêmio um dos maiores abacaxis da história da política brasileira, qual seja, a herança maldita de um governo perverso. Explicando de uma melhor maneira o pensamento de Quincas Borba: “Supõe-se em um campo e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar somente uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrerão de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra, é a esperança. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações (...) Ao vencido, o ódio ou compaixão... Ao vencedor, as batatas”.
 
Aécio vencedor ou Dilma vencedora, não importa, receberá sua cota de batatas em lugar de uma coroa de louros. Ao Aécio, o legado maldito da rival; à Dilma, a continuação do mar de lamas. Já viram a capa da revista Veja de hoje? Pois então!
 
No PIB, a indústria engloba, além do setor manufatureiro e extrativo, a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás - em retração. Os dados, amplamente divulgados, já incorporam a reformulação da pesquisa de produção industrial do IBGE, algo que, segundo alguns analistas, foi relevante para reduzir as expectativas para a economia. Além desse fator, um dos principais ramos da indústria, o automobilismo, enfrenta queda de vendas e produção, e há ainda um cenário de aumento de estoques de diversos fabricantes. 
 
O setor de serviços, que engloba comércio, intermediação financeira e serviços públicos, entre outros, cresceu o pífio nível de 0,4% , feito o ajuste sazonal.
 
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias caiu 0,1% no primeiro trimestre desse ano, e ainda não se recuperou até hoje, em que pesem as considerações de alinhamento médio. 
 
A prévia da inflação acelerou no presente mês e o acumulado estourou o teto da meta. Não é possível, por exemplo, que o leitor não tenha sentido, num supermercado, por exemplo, que o valor de compra de uma nota de cem reais há seis meses deteriorou-se de forma notável. Não compro hoje com cem reais o que comprava com o mesmo tanto há seis meses.
 
No acumulado do ano, de acordo com o IBGE, a carestia também segue aumentando: chegou a 5,23% ante 4,46% do mesmo período de 2013.
 
Perdura a farra da impunidade criminal. Vai-se de mentirinha para a cadeia e depois se vê premiado com sistema prisional domiciliar. As delações premiadas revelaram que partidos políticos, dentre eles em destaque o partido da situação, beneficiaram-se tanto em bloco como em parcelas individuais, sob as vistas sempre cegas e ouvidos sempre surdos de Lula e Dilma.
 
Perdura ainda o pior dos pecados: a opção da quantidade em detrimento da qualidade. Insiste-se na tese falsa, no pressuposto absolutamente vesgo, de que a desigualdade social diminui na exata medida em que ocorram paralelamente duas condições: a administração (e não a extirpação) da miséria e o entupimento das salas de aula nas instituições de ensino superior por meio da execrável lei das cotas raciais.
 
Por que não se investe pesadamente na educação de ensino básico, reformulando-lhe o conteúdo programático, a grade curricular, as diretrizes educacionais, a qualificação docente, o salário dos professores? Não será aprimorando o último vagão que o trem andará melhor. Mas a lógica é simples, aterradora e odiosa: no último vagão do trem encontra-se um número maior de eleitores. Nos primeiros vagões estão os conscientes, os informados. Que se explodam, afinal o número é ínfimo.
 
Lembra-me os primeiros anos da ditadura militar: quanto mais desinformada a população, mais fácil será governá-la e direcionar o país para um regime de ditadura em surdina, com parlamentares comprados a preço de petróleo.
 
Nem me alongo mais, pois é assunto de embrulhar o estômago.
 
Assim, perdeu-se a magia das eleições presidenciais. Vou hoje às urnas pesaroso, pois quem quer que vença terá por prêmio um saco de batatas a descascar. Ah, é claro, e o poder, que a tantos corrompe. Imagino a estampa de fantoche do primeiro idiota que soltar um foguete para comemorar a vitória de seu preferido, seja este ou aquela. 
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email  - evertondepaula33@yahoo.com.br

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