Complemento e suplemento

São duas palavras muito encontradas na área de exatas (o complemento de um ângulo, por exemplo, na matemática) e na nutrição

12/10/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“O êxito está em ter êxito e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio senão o fizerem ali?”  

Fernando Pessoa, escritor português
 
 
São duas palavras muito encontradas na área de exatas (o complemento de um ângulo, por exemplo, na matemática) e na nutrição (o suplemento alimentar). Complemento é a porção que falta para completar o todo. Se um indivíduo necessita de 2 gramas de vitamina C por dia e toma apenas 1 grama, é preciso complementar com mais 1 grama para se chegar a 2. Suplemento é o que passa. Se um indivíduo necessita, em média, de 2 mil calorias diariamente, suplemento calórico é o que passa dessa quantidade.
 
Em muitas outras áreas do conhecimento humano e de suas relações, essas duas palavras foram tomadas emprestadas para designar algo de mais ou de menos. Assim como “resiliência”, que vem da Física, passou a incorporar a literatura da psicologia comportamental para designar a capacidade que alguém possa ter de manter-se íntegro após passar por forte estresse.
 
Voltando às nossas duas palavrinhas: quando um jornal apresenta um caderno a mais de sua publicação diária, chamamos de suplemento (literário, econômico, político etc.). Se a tarefa escolar de casa apresenta lacunas de informação, logo a professora diz: “É preciso complementar sua lição com a leitura de tal fonte de pesquisa...) e assim por diante”.
 
Notando o comportamento e a produção diária de algumas pessoas, observa-se facilmente o tanto que falta para complementar o serviço que lhe foi atribuído: Um relatório mal feito, um e-mail mal redigido, uma ata incompleta, uma planilha de custos com ausência de informações... E quando pensamos que essas carências se restringem apenas à produção laboral, notamos que também falta muita coisa em suas atitudes, em seus relacionamentos, na sua própria educação e conduta no trabalho e às vezes na sociedade e na família mesmo. É exatamente o tipo de pessoas que mereceria um choque de complementos.
 
As empresas, cientes dessa deficiência, têm programado, ao longo do período útil do ano, eventos de treinamento de lideranças, de relacionamento humano, de comunicação. Não há mês que se passe sem que, honrosamente, seja eu convidado a ministrar cursos de capacitação de pessoas, após a constatação pelos seus superiores imediatos de carências, de déficits de produção, de desencontros na comunicação interna e com clientes.
 
Verifica-se, nestas situações, que os funcionários sabem desempenhar suas funções respectivas, mas nivelam-se por baixo, produzem o mínimo possível, o tanto que lhes garanta a empregabilidade. Fica difícil, assim, para tantos setores: o da empresa, que necessita de mais para o cumprimento de seus cronogramas, o do próprio funcionário, que necessita de mais para elevar a autoestima.
 
Este tem sido um problema atual e constante nos dias de hoje: a lei do menor esforço! Há necessidade premente de complementos em vários comportamentos de indivíduos, e há suplemento de menos, ou melhor dizendo, inexiste o suplemento. Ou, se quiserem, a proatividade. 
 
Quantas notícias temos diariamente pela mídia impressa e televisiva de lares desorganizados, desfeitos, de desamores, de desafetos. O balconista atendendo mal-humorado o cliente, o pai que chega cansado ao lar e não quer conversa com ninguém, a esposa que reclama dos preços dos alimentos e da falta de chuva, o jogador de futebol que faz corpo mole em campo por conta de uma semana de atraso no salário, o motorista que dirige em forma ofensiva no trânsito, a falta de espiritualidade generalizada, o aluno que não faz a lição de casa, os políticos que se locupletam em prejuízo do bem-estar da coletividade que os elegeu... É assustador e infinito o rol de exemplos.
 
Houve uma época em que professores, pais, educadores, líderes religiosos, políticos pediam a todos que dessem o máximo de si para SUPLEMENTAREM suas tarefas, seus deveres, visando ao bem-estar de todos, visando ao progresso... Plantar árvores demais e cuidar da sustentabilidade verde é garantir as águas sazonais tão necessárias. Mas o homem descuidou, desmatou, plantou cana demais, sugou a água do subsolo até a última gota, esvaziou de nuvens os céus de outubro.
 
Não é mais tempo de se solicitar suplemento. É pedir demais. Triste, não? Que ao menos promovam o complemento de seus deveres, ao menos para dar sustento à esperança de dias melhores para nossos filhos e netos.
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email  - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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