Papéis avulsos

Um dos maiores problemas do dilema brasileiro, no presente, é compreender o homem comum, a vida social do homem simples e cotidiano

05/10/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“Ainda dá tempo. Escolha o candidato a deputado estadual e federal, a governador, a senador e a presidente que apresente um passado público limpo, honesto, ético e de construção. Não se deixe levar pela emoção de quem torce por um time de futebol, mas pela sua consciência de um país melhor para seus filhos”. 
 
 
1 Dilema 
 
Um dos maiores problemas do dilema brasileiro, no presente, é compreender o homem comum, a vida social do homem simples e cotidiano, cuja existência é atravessada por mecanismos de dominação e alienação que distorcem sua compreensão da História e do próprio destino. Veja, por exemplo, pelas estatísticas de intenção de votos para presidência da República. Há uma variável constante a partir não da opinião pública fortemente fundamentada em programas, acervo político do candidato, história cultural dos postulantes, etc. O que muda a opinião pública é a mídia. No afã de não querer “perder o voto”, votemos naquele que já se encontra na dianteira ou, ao menos, com chance de “virada”. É emocionante, mas muito pouco útil e confiável.
 
Há mais: o homem comum coloca-se no meio do caminho de uma civilização que se enriquece continuamente de pensamentos, de experiências e de problemas. Por isso, sente-se cansado da vida, não pleno dela. Observe bem: nós só captamos o transitório, o provisório, nunca o definitivo.
 
 
2. Ordem e Progresso
 
É a contradição tremulando na bandeira nacional. Politicamente, o povo brasileiro é de vocação liberal, mas de um liberalismo fundado nas tradições do poder pessoal e do clientelismo político - opostos da própria noção de liberalismo. No Brasil, é impensável a existência de ordem e de progresso, porque o progresso se tem subordinado ao primado da ordem, ainda que ninguém queira reconhecer essa realidade que faz de nosso País um todo antiprogressista, mesmo quando suas elites queiram parecer convictamente modernas. Até a arraigada consciência nacionalista de tantos de nossos pensadores e líderes é uma forma política de reconhecimento das irracionalidades do moderno, quase sempre reduzido a expressões de um caráter supostamente postiço e estrangeiro.
 
Não vejo o moderno no argumento de um governo socialista, na busca de diálogo com o Estado Islâmico, na quantidade de alunos em nossas faculdades públicas em detrimento da qualidade da pesquisa, num governo que despreza e odeia a classe social que promove as artes, a cultura, as ciências, o progresso, e promove o chamado programa de “igualdade social”, como se fosse possível esse utópico nivelamento. A ordem é o estabelecimento da pirâmide social, como se fez a democracia dos países desenvolvidos há séculos; o progresso advém de uma diretriz estarrecedoramente simples: Fazer bem feito, com ética e honestidade aquilo que lhe foi confiado pela sociedade, e não viver às custas de uma bolsa-esmola em troca de votos. 
 
 
3. Da coletânea de anedotas
 
Dizem que a ONU resolveu fazer uma pesquisa em todo o mundo. Enviou uma carta para o representante de cada país com a pergunta: “Por favor, diga honestamente qual é a sua opinião sobre a escassez de alimentos no resto do mundo.”
 
A pesquisa foi um grande fracasso. Sabe por quê?
 
Nenhum dos países escandinavos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia) entendeu o que era escassez.
 
Os africanos não sabiam o que era alimento.
 
Os cubanos estranharam o pedido e solicitaram maiores explicações sobre o que era opinião.
 
Os argentinos não tinham a menor ideia do que viria a ser por favor.
 
Os norte-americanos nem imaginam o que significa resto do mundo.
 
O Congresso nacional brasileiro está até agora debatendo o que é honestamente...
 
 
4. Gostei de ter lido
 
O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, de Olavo de Carvalho, publicado pela Record. Meu livro é da 10ª edição, de 2014. Apenas para conhecer o pensamento fundamental do autor, reproduzo um trecho da obra: “O declínio abissal da moralidade pública no Brasil não é causa sui: A atividade intelectual no Brasil se deteriorou e se prostituiu a tal ponto que mesmo o discurso formal do jornalismo e da comunicação acadêmica - para não falar daquilo que um dia foi a literatura - já não serve de instrumento para a autoconsciência. A linguagem dos publicitários e dos cabos eleitorais tomou tudo. O alvoroço de simular bons sentimentos e demonizar o inimigo pela via mais fácil bloqueia toda possibilidade de reflexão séria sobre as próprias palavras.”
 
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email  - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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