A construção do poder popular, o ensino totalmente público, a legalização total das drogas e nada de Polícia Militar nas ruas. Agregado a isso, uma realidade que priorize pessoas em detrimento do lucro, distanciada de coisas que a mercantilizem. Seria este o modo ideal de vida da população para o candidato do PCB (Partido Comunista Brasileiro) ao governo do Estado de São Paulo, Wagner Farias. O político foi sabatinado ontem no GCN.
Farias chegou ao auditório “Jornalista Corrêa Neves” com 20 minutos de atraso, se desculpou, justificou que sua campanha tem pouca estrutura e, às vezes, o grupo “se perde” pela dificuldade de organização. “Somos militantes simplesmente, amadores, e não encaramos a política como profissão.”
O candidato deixou claro logo no início da entrevista que sua candidatura não existe somente com o propósito de se eleger. Segundo ele, o lançamento de seu nome no pleito de 2014 tem mais relação com o que chama de desejo de realizar um processo de transformações profundas e radicais na sociedade. “Nós acreditamos que, hoje, tanto o Estado de São Paulo quanto o governo federal se organizam de acordo com a lógica dos grandes grupos, dos bancos, das construtoras. E nós achamos que é necessário inverter essa lógica, desmercantilizar a vida, tirar o lucro da prioridade das relações de investimento do Estado e colocar as pessoas como princípio.”
Ao tratar a campanha eleitoral como um movimento, ele reiterou algumas vezes que o momento não se restringe a pedir votos. “A minha candidatura tem muito mais o interesse de fazer o debate político, de trazer à população os temas que nós acreditamos que sejam fundamentais de serem discutidos como parte de um movimento. Não temos problemas em assumir que nossa candidatura chega a ser uma ‘anticandidatura’. É mais que uma campanha, é uma campanha-movimento”, afirmou.
Em sua visão, questões relacionadas à educação, à saúde, à habitação e à segurança pública seriam definidas por conselhos populares específicos, que teriam poder de deliberação e não apenas consultivo, como ele considera um modelo apresentado pelo PT - partido no qual militou por cinco anos, mas se afastou por divergências ideológicas.
“Defendemos que é necessário investir na participação direta da população através de conselhos que atuem em cada setor da política. Nós queremos que os conselhos tenham participação na deliberação das questões e não apenas serem consultados, porque isso esvazia a participação popular. Eles viram meramente uma peça publicitária.”
Participação popular
Mencionando a construção do que chama de “poder popular” como forma de se chegar a um Estado socialmente mais justo, Farias afirmou que a efetivação desse modelo faria com que a população exercitasse a democracia direta. “Acreditamos que a estrutura apenas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são insuficientes, ou pior, se colocam no sentido contrário de que a vontade da maioria realmente se aplique. A população tem sido deseducada, despolitizada na prática, uma vez que acredita que democracia é só votar em dois ou três candidatos a cada dois anos.”
Socialismo brasileiro
Farias defende a implantação do socialismo no Brasil, mas adaptando o sistema aos moldes brasileiros. “Não queremos repetir modelos, mas defendemos uma sociedade socialista brasileira, com o controle de serviços essenciais pela sociedade. O socialismo brasileiro teria que passar por alguns elementos fundamentais, como a estatização do sistema financeiro, da saúde, educação, moradia, pois esses são serviços que não devem visar lucro”, defendeu o candidato.
Fim da PM
Wagner Farias disse ser favorável à extinção da Polícia Militar. “A PM é uma herança da ditadura. É uma força armada que trata os problemas como uma coisa que precisa ser aniquilada. Defendemos que a polícia não esteja acima da sociedade, mas a serviço dela e respondendo a um conselho de segurança”, disse.
Falta d’água
“O governo é tão hipócrita que em nenhum momento foi anunciado um racionamento de água, mas se você abre a torneira a noite nos bairros periféricos da cidade de São Paulo não tem água. É urgente que os lucros da Sabesp parem de ser repassados para acionistas. Eles devem ser investidos no sistema de abastecimento”, disse Farias, sobre a crise da água.
Cooperativas
Farias defendeu passar a gestão de fábricas em crise para as mãos de cooperativas de trabalhadores. “Fábrica fechada deve ser fábrica ocupada pelos trabalhadores.”
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