Sinais dos nossos tempos

O futuro do gênero humano está definitivamente ligado à tecnologia e à ciência, de tal modo que não compete a ninguém combatê-las, ignorá-las

14/09/2014 | Tempo de leitura: 3 min

“O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados”.
Arnaldo Jabor, escritor e jornalista
 
O futuro do gênero humano está definitivamente ligado à tecnologia e à ciência, de tal modo que não compete a ninguém combatê-las, ignorá-las ou renegá-las.
 
O homem é o único animal que se fez substancialmente a si próprio. Enquanto multidões de espécies de animais existem agindo de modo igual, por milhões de anos, o homem obteve suficiente domínio sobre sua evolução biológica, a ponto de influenciá-la em grau considerável. Está apto a controlar, quando menos, seu futuro próximo e se sobreleva entre as demais espécies, com a possibilidade de modificar as condições ambientais que o rodeiam.
 
O avanço da tecnologia abre perspectivas capazes de influenciar o ritmo e o alcance de todas as mudanças físicas, sociais e morais por que vem passando a humanidade.
 
Colocar-se alguém em oposição sistemática à tecnologia, além de atitude quixotesca, é opor-se à própria natureza do homem. É o mesmo que discordar de ter-se ele colocado em postura ereta, de ter desenvolvido a imaginação criadora, de ter aperfeiçoado a capacidade da fala.
 
Mas por que as preocupações decorrentes da vitória da tecnologia contemporânea crescem a cada momento? Certamente pelo fato de a civilização atual se desenvolver a um ritmo inusitado, irresistível e inacompanhável para aqueles milhões de criaturas humanas educadas para uma vida estática numa sociedade igualmente estática. Seja o acesso à Internet o mais palpável exemplo desse cada vez mais evidente descompasso. Quem conseguiu plugar-se a ela não sofre o desequilíbrio civilizatório de hoje, mas quem está fora e, por ventura, não lê jornais, provavelmente nem sabe os nomes dos candidatos à presidência. Talvez vote em quem lhe forneça um par de dentaduras. Se estiver apto a votar.
 
Cada vez mais eu penso que o conceito dos dois brasis, um civilizado outro atrasado culturalmente mais de duzentos anos, tão bem desenvolvido por Euclides da Cunha, possa ser uma realidade palpável nos dias de hoje. Há o brasileiro informado, “internatizado”, mas não nos esqueçamos que ainda há, nas periferias de nossas próprias cidades, o cidadão simples que coloca sobre a televisão um vaso de flores. 
 
Não é de se desprezar, contudo, a consistente observação de que o ingresso de grande número de pessoas no círculo de desfrute dos avanços tecnológicos ainda se faz à custa do alijamento, do empobrecimento absoluto das camadas populacionais mais carentes, por mais que haja bolsas-família. Quer dizer: se alguns milhões passam a ter a possibilidade de acesso aos bens da sociedade consumista, outros muitos milhões ficam mais longe não só dessa aspiração, mas de todas as mais elementares condições do progresso humano. Essa é, sem dúvida, a face mais cruel do capitalismo feroz.
 
Inegável, porém, que os benefícios da tecnologia se vêm tornando um direito tão fundamental quanto o da vida e da liberdade. Num curto espaço de tempo, a vida das pessoas de todas as camadas econômicas se beneficiou com aquisições que eram, se tanto, luxos de uma privilegiada e rarefeita classe superior.
 
Tal o impacto da tecnologia no uso diário, que ela se converteu em exigência moral, não material. Transformou-se até na mais visível expressão do impulso no sentido de verdadeiramente se praticar a justiça social.
 
Evidentemente que a tecnologia e suas consequências ajudaram a deitar por terra muitos dos fundamentos em que repousava a sociedade de base teocêntrica, estática, metafísica, mítica e sacral. Mas à semelhança do que ocorreu em outras civilizações - uma ética prática -, os dirigentes e pensadores contemporâneos deverão chegar a construir uma filosofia consentânea com o novo mundo que surge, em que os avanços do progresso estão chegando, indistintamente, para os bons e para os maus. Em suma, a grande tarefa será de conciliar o universal com o particular, o eterno com o efêmero. A opinião pública contemporânea se torna mais aguda, mais exigente, menos receptiva à antiga retórica e aos velhos dogmas. Nunca, como hoje, grande parcela do povo foi melhor informado, mais curioso e crítico, mais ciente dos abismos existentes entre o que lhe é dito e o que ele mesmo vê. Ainda bem!
 
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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