Já estão se mordendo

Os deuses gregos do Olimpo até que estavam se saindo muito bem. Cada qual com sua função voltada aos afazeres dos homens aqui da Terra

03/08/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância”.

Mahatma Gandhi, líder indiano
 
 
Os deuses gregos do Olimpo até que estavam se saindo muito bem. Cada qual com sua função voltada aos afazeres dos homens aqui da Terra, que era plana, de superfície esférica. Veio a civilização romana. Insatisfeitos, mudaram os nomes dos deuses, incluíram alguns, ignoraram outros e a vida, na Antiguidade, prosseguiu.
 
Surgiram os primeiros filósofos e concluíram, alguns, que toda aquela mitologia era pura invenção dos homens, extensão antropomórfica. Só a filosofia, então, se proporia a responder a questões do tipo há vida depois da morte? De onde viemos e para onde vamos? Por que a vida é como é?
 
Daí para frente vem o monoteísmo sob rótulos: cristianismo, judaísmo, islamismo... E a população mundial aumentando.
 
O que fazer para distrair e contentar tanta gente?
 
O pêndulo de Foucault provava a rotação da Terra, os astrólogos diziam que não estávamos sozinhos no universo, a Igreja medieval julgando e rotulando o que o povo devia saber e o que não convinha, os templários, a maçonaria... Pari passu o surgimento da pólvora, as navegações, as descobertas marítimas, o rádio, o telefone, a penicilina, o automóvel, o avião, as viagens espaciais, a internet... E a população mundial aumentando.
 
Parece não haver regime político algum de consenso, de unanimidade, que satisfaça a inquietação das nacionalidades. O contraditório talvez acuse o viés materialista desta visão, e aponte a alternativa da espiritualidade como recurso humano para minimizar o sofrimento, as dores de alma. Mas da espiritualidade surgem as religiões. E religiões matam inocentes no Oriente Médio, constroem ostentações no coração de São Paulo, redigem dogmas que nascem da racionalidade do homem, sob o título de revelação divina. Abrandam corações, é verdade, mas em número insuficiente para a sustentabilidade de uma cultura de paz. 
 
Implantam-se instituições, privatizam-se estatais, organizam-se as filas nos bancos comerciais, incrementam-se os serviços de atendimento ao consumidor, criam-se inúmeros partidos políticos, não necessariamente nesta ordem. O homem passa a ser joguete nas mãos de hábeis políticos e de um capitalismo de há muito designado de selvagem: em 2014, vinte mil milionários concentram a riqueza de 3,8 bilhões de pessoas... Mas a população aumenta, junto com as naturais demandas - Quem não quer receber muitos votos dessa população? Que igreja não quer ver os bancos de seus templos todos ocupados? Que fast food não deseja ver engarrafados os corredores de seus serviços drive thru? Se você não estiver me acompanhando, serei mais claro: já experimentou tomar uma linha de metrô, na capital paulista, em horário de pico? A tecnologia de ponta serve a um só ou a bilhões de pessoas? E por trás disso o leitor não enxerga um interesse pessoal ou partidário de enriquecimento material? Ou seja, na medida em que aumenta a população,  ampliam-se todas as possibilidades de inovações, de criação, de oferta para atraí-la, à custa de disputa de mercado, de áreas físicas, de traições, de mentiras, de falcatruas e, muitas vezes, à custa de sangue. 
 
Agora já se raciona energia elétrica, raciona-se água, em algumas partes do planeta raciona-se comida, ou há total falta dela... E a população aumentando.
 
Às vezes imagino a vida calma nas aldeias. Gostaria de saber a quantas anda por ali o uso de antidepressivos. Um amigo psiquiatra afirma que a depressão não encontra lugar, tanto faz o homem da metrópole quanto o do campo. Será?
 
Não seria a disputa por um lugar na tribo social ou na aldeia global um fator de desencontro entre as pessoas e do homem consigo próprio?
 
Muitos cursam a faculdade, mas o emprego não está garantido a todos, como era há décadas no Brasil, para quem lograsse findar um curso superior.
 
Li há pouco, numa revista semanal, um comentário sombrio: “o século XXI é o século da depressão... E do enfarte!” Se esta pressuposição estiver certa, sua gênese estaria no aumento populacional. É só começarem as análises estatísticas para que esta afirmação seja comprovada. 
 
O que mais incomoda agora o grupo Hamas? Antes de uma ideologia, é a gente judaica. Terra e judeus: não lembra alguém? O que mais incomoda, agora, o povo de Israel? Além da defesa de seu pedaço de chão, é o povo de uma faixa geográfica. Muito ódio entre israelenses e palestinos para pouca terra. Povo, gente, população...
 
Tanta gente... E de repente a vontade de pertencer a pequenos grupos, reduzidos grupos sociais... Se possível com um mínimo nível cultural a ponto de não se morderem! 
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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