Dia desses comentei sobre plantas um pouco estranhas que perdemos o hábito de comer sei lá porque, algumas nem são propriamente ruins, acho que é mais questão de costume, afinal, uma rúcula, que é deliciosa para a maioria de nós, pode parecer terrível a quem a experimenta pela primeira vez. Uma dessas plantas é a taioba - minha mãe a comia na juventude e jamais gostou, mas o seu gosto é contestado por muitos, que a consideram uma couve ainda mais saborosa.
A história da taioba é interessante porque antecede o descobrimento dessas terras pelos portugueses - por certo, quem teve a oportunidade de vê-la aqui na nossa região não tivesse ideia da andança da planta mundo afora.
Há um livro - Delícias do Descobrimento - bastante interessante, traz um elenco de boa parte da flora e fauna existentes no Brasil quando os portugueses chegaram, e a taioba figura entre eles. A despeito das inúmeras espécies de couves que os europeus já faziam uso, é fato que eles não renegaram a taioba e aprenderam com os índios a utilizá-la em pratos que originalmente eles utilizariam o espinafre ou couve.
Gabriel Soares de Souza relatou em seu diário de viagem: “As folhas desses mangarás nascem em muitas, como os espinafres, e são da mesma cor e feição, mas muito maiores, e assim moles como as dos espinafres, as quais se chamam taiobas, também servem cozidas com o peixe.”
Ao que parece, como se pode ler em vários diários de portugueses, a culinária indígena apreciava muito as folhas de taioba cozidas no caldo do peixe, rasgadas como se couve fossem.
O relato segue: “As folhas são grandes, de feição e cor das dos plátanos que se acham nos jardins de Espanha, aos quais chamam taiobuçu; comem-se essas folhas cozidas com peixe em lugar dos espinafres, e com as favas verdes em lugar das alfaces, e tem mui avantajado sabor; os índios as comem cozidas na água e sal, e com muita soma de pimenta.”
Mas a medida da pesquisa desse vegetal é a medida do espanto. Pois, na Nova Guiné e Polinésia, descobre-se que a agricultura se desenvolveu justamente em torno de uma espécie de taioba, o taro, ambos da mesma família da arumã das aráceas. Entre 9.000 e 5.500 anos atrás são encontradas evidências de um sistema de canalização e drenagem para o cultivo do taro. Lembrando-se que tanto as brasileiríssimas taiobas quanto os importados taros têm nas raízes uma preciosidade, os mangarás, uma espécie de castanha que dão excelentes doces. Fica para a imaginação saber-se quem carregou essas plantas de lá para cá, fato é que se dão muito bem tanto por lá como cá.
Lembro-me que, quando criança, utilizávamos essa palavra, taioba, para designar alguém bobo, idiota. Apelido em desuso, não encontrei qualquer referência a essa má qualidade da planta que possa estar relacionada a lerdeza humana...
DICA DA SEMANA
Salada de batatas
Temos o mau hábito de fazermos de qualquer jeito coisas que são simples de se fazer. As vezes nos esquecemos que a excelência reside na observação dos detalhes do que é simples. Uma boa salada de batatas ou mesmo a inclusão de batatas numa maionese exige alguns cuidados.
O primeiro: o cozimento deve se dar com a casca, assim evita-se que ela fique com aquele aspecto encharcado. A panela deve ter tamanho adequado. Nada mais irritante que escolhermos a panela errada para fazermos as preparações. Se sobra batata para cima da água está errado, se elas ficam apertadas também. Para que o cozimento se dê por inteiro é preciso que todas estejam muito bem imersas na água.
Não dá para descrever o ponto. Só o treino. Mas cuidado para que não fiquem muito moles. Descasque-as ainda quentes e corte-as em cubos. Se estiverem muito moles elas não sustentarão a forma de cubos.
Tempere-as imediatamente com sal, pimenta do reino, um pouco de limão e azeite. Quando fazemos tudo certo, é incrível, mas todos dirão que é uma salada especial.
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