Perdemos a autoridade?

O respeito é uma vertente de uma atitude maior - a autoridade - diante de fatos, objetos, pessoas que nos inspiram admiração ou, ao menos

29/06/2014 | Tempo de leitura: 4 min

“Autoridade: sem ela o homem não pode existir e, no entanto, ela traz consigo tanto o erro como a verdade.”
Goethe, escritor e pensador alemão
 
O respeito é uma vertente de uma atitude maior - a autoridade - diante de fatos, objetos, pessoas que nos inspiram admiração ou, ao menos, exigem acato para observá-los melhor, analisá-los e, quando couber, promover a crítica necessária, sensata e justa. Daí, por exemplo, a expressão popular “Ele é uma autoridade quando fala de assuntos atuais”. E nós o respeitamos.
 
Num ambiente religioso, mesmo que eu não pertença ao grupo de fiéis, devo manter o silêncio em nome do clima espiritual envolvente, a que chamamos de egrégora. Ouvir por completo a opinião alheia antes do contraditório, se este for necessário, é sinal de respeito. As tradições vindas de nossos antepassados devem ser respeitadas, cultuadas mesmo, visto que se não o fizermos corremos o seriíssimo risco de causar rupturas e desfigurar o status cultural do grupo social a que pertencemos.
 
Os exemplos são muitos, mas o foco central reside no fato de que o respeito configura o cenário ideal para que a autoridade se estabeleça. O respeito e a hierarquia.
 
Quem vê o respeito a sua pessoa ameaçado perde evidentemente o respeito por quem o ameaça. Pior: talvez esse respeito por outro passe a ser substituído pelo medo e revolta. Isto gera o caos nos grupos sociais, nos governos autoritários, nos lares desajustados, nas famílias desorientadas.
 
O caso de bullying, nas escolas, é modelar. A criança vítima sente que não é respeitada pelos colegas e lhes devolve não na mesma moeda, mas com o sentimento de ódio, de repulsa, de busca de vingança. Na primeira oportunidade, mete-lhes uma bala na cabeça ou uma estocada no ventre. Não tem sido assim nos Estados Unidos? Não tem sido assim no Brasil?
 
O sentimento de ódio e a baixa autoestima são reações muito mais fortes que o respeito à autoridade formal do professor. Quando o mestre interfere ou ministra a aula, sua voz se perde na confusão mental estabelecida pela criança vítima, que nem mais espírito tem para a absorção dos conteúdos programáticos e das diretrizes de formação. E mais: como o professor pode manter sua autoridade em sala de aula se ele não retém nem uma milionésima parte do conhecimento disponibilizado em segundos (e não em anos) pela Internet, a qualquer criança, adolescente, adulto de qualquer raça, religião e classe econômica? O professor é muito menos que o computador; resta-lhe a formação moral que não funciona quando o lar está com rachaduras ou quando a mente do aluno encontra-se nublada. Sinceramente, não entendo por que bullying, família e Internet não estejam priorizados nas pautas de reuniões escolares, de forma sistematizada. 
 
Quando há uma hierarquia estabelecida, seja na escola, na família, na empresa, na política, nas forças armadas, na teia social em que nos inserimos, estabelece-se naturalmente a autoridade. Sucede que a autoridade exige comportamentos que se pautam (ou são premiados) pela evolução, pelo progresso, pelo avançar e galgar postos mais altos nessa mesma hierarquia. O filho que respeita a autoridade no lar será um pai que estabelecerá a autoridade e o respeito em sua futura família. O soldado raso, assim agindo, chegará a general. O aluno se diplomará por vias normais e criará vínculos trabalhistas. E assim, reconhecendo a autoridade do pai, do professor, do superior imediato construiríamos uma sociedade com menos males como a corrupção e a violência.
 
Quem não respeita a autoridade estabelecida colabora para o caos social. Mas quem abusa da autoridade muitas vezes não dimensiona o enorme mal que promove contra si e contra os que procuram segui-lo.
 
Infelizmente, esses dois cenários têm se tornado comuns nos dias de hoje: pais que gritam, espancam, ausentam-se; professores que empregam metodologias de formação às avessas; líderes políticos que se utilizam de falácias para a permanência no poder, ou para benefício próprio... O desacerto encontra-se nos dois lados: na autoridade e em quem deve respeito.
 
Há muita pressa em querer se formar; há muita pressa em querer chegar à patente de general; há muita pressa em querer ser vitorioso. Mata-se o pai por dinheiro; xinga-se publicamente a presidente do país por divergência política e insatisfação; debocha-se do colega mais gordinho na escola; chutam-se imagens tidas como sagradas por determinada religião; picham-se muros, carros e patrimônio público por puro deleite; desrespeita-se a história de um povo; achincalham a função do professor...
 
O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. E aí está o contraditório: a hostilidade que mostra sugere sua rebeldia contra a necessidade de obedecer para não sucumbir.
 
Eis a essência do desrespeito: a necessidade de obedecer para não sucumbir; isto gera violência. Aí impera o reino dos mais fortes, e não estamos falando de cultura ou razão. É o reino dos descarados, que se afirma com toda sua crueza sobre a fragilidade da nobreza do respeito à autoridade.
 
Perdemos a autoridade. Evaporou-se o respeito. Totalmente? Não; graças a Deus ainda sobram os sensatos de alma, coração e razão, de intenção e gestos. E é a estes que sobraram que dirijo minha mensagem de apelo: não desistam, façam do respeito sua vocação. Talvez seja uma gota de água fria no caldeirão da fervura, mas fará toda a diferença em busca da autoridade perdida.
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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