Ainda nos primeiros estágios da civilização o homem sentiu necessidade de criar meios de se comunicar com as massas. Naturalmente que a primeira forma explorada foi a oratória, de que se valeram monarcas, políticos e filósofos, para expressarem os seus comandos, as suas ideias. A forma direta, através de discursos, sermões, não era perfeita porque efêmera e não atingia com precisão as pessoas ausentes do local de onde partiam. A conhecida máxima de que: “quem conta um conto aumenta um ponto”, denuncia o principal defeito dessa forma de comunicação de massa. Mas, logo que inventada a escrita, discursos ou um simples sermão já podiam vencer os séculos, compilados em manuscritos e transmitidos para a posteridade. Estava criado o primeiro mecanismo de mídia.
Com efeito, as primeiras publicações escritas regulares de que há registros ocorreram em Roma, no ano 59 a.C., as chamadas Acta Diurna. Essas atas, que continham informações gravadas em tábuas de pedra, eram afixadas em espaços públicos, portando informações sobre questões de estado, acontecimentos do dia, guerras, o obituário, etc. Na mesma época, também em Roma, os Graffiti anunciavam nos muros da cidade bens à venda, locações, os espetáculos, objetos perdidos. Realizavam trabalho correspondente ao dos “classificados” de hoje.
Mais alguns passos da civilização e se desenvolveu a xilografia - a reprodução de originais gravados em chapas de madeira, que serviam para produção em série de textos e de gravuras. Logo surgiu a tipografia, que definitivamente revolucionou a reprodução de escritos e fez surgir os grandes órgãos de comunicação de massa.
Consta que a necessidade de comunicação das metrópoles europeias com as colônias de ultramar, deu origem às “cartas noticiosas dos navegadores”, que transmitiam informações de interesse comercial. Na Itália, as fogli d’avvisi, divulgavam informações de interesse do comércio marítimo. Em 1583 foi publicada a primeira folha periódica, semestral, impressa com procedimentos tipográficos, a Relatio Historica, pelo austríaco Michael Von Eytzina. É curioso que uma das publicações mais duradouras de que se tem notícia foi feita na China, e difundia notícias da Corte, tendo circulado por mais de mil anos, entre 618 e 1911. É mais interessante ainda observar que esse mesmo problema de comunicação com os súditos e administrados subsiste até hoje!
Mas, o jornal como o conhecemos, surgiu da derivação do Latim diurnale, e significava, na sua origem, o salário de um dia de trabalho - um diário. “Trabalhar a jornal ou de jornal”, dizia-se do operário que recebia paga por cada dia de trabalho e não pela quantidade de trabalho feito, esclarece o Dicionário Ilustrado Lello Universal, na edição de meados do século passado. A mesma acepção se vê do Dicionário Aurélio, edição de 1975. Só na terceira opção ambos os glossários definem jornal como publicação periódica onde se relatam fatos do dia a dia. “Parece que foi de Veneza que irradiou para outros países o jornal”, esclarece cauteloso o sisudo Dicionário português. Portanto, a expressão “jornal” como o órgão de divulgação de notícias não o acompanha desde a sua origem.
Em meados do século passado todos os grandes dicionários definiam imprensa como a máquina com que se imprimem ou se estampam as matérias publicadas. Com o tempo, a máquina com que se imprimiam ou se estampavam os periódicos passou a significar o conjunto de todos os órgãos de divulgação de informações, incluindo livros, revistas, o rádio, a televisão etc. Mas, a Enciclopédia Barsa, edição de 1988, advertia: “a divulgação de notícias é apenas a primeira das funções da imprensa que, além disso, veicula e forma opinião e dá a medida exata em que se pratica a liberdade de expressão numa sociedade”. Ou seja, além de divulgar, a mídia passou também a influenciar no meio, ajudando os leitores a pensar.
A expressão mídia, no entanto, só surgiu no último quarto do século passado, dando nome ao departamento que se encarregava da divulgação das empresas, inclusive jornalísticas. Mas, na atualidade, já parece querer englobar todos os meios de comunicação, à moda do que se deu com imprensa. E verdade é que com a internet, o sistema de comunicação está cada vez mais pessoal, bastando que se atente para a ampliação das funções dos celulares, dos tablets, dos iPhones, etc. Apenas um elemento parece permanecer imutável, ao longo dos séculos, para o sucesso dos órgãos de mídia: o valor da mensagem! Senão, como explicar a perenidade dos diálogos de Platão, dos discursos de Cícero, ou do Sermão da Montanha?
José Borges da Silva é procurador do Estado e membro da Academia Francana de Letras
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