Um dia usufruindo de paz e tranquilidade durante uma pauta de turismo e, no outro, sendo intimidados por familiares de detentos na porta de uma delegacia. Ora curtindo o glamour de um cenário sofisticado durante a cobertura de uma mostra de decoração, ora bebendo chá, mas de cadeira, à espera do político que se recusa a falar. Ou ainda vivenciar o contraste de conhecer em primeira mão o trabalho do artista mais aplaudido do momento, para, horas depois, acompanhar o enterro de uma vítima de acidente de trânsito. Vida de repórter é assim. Dias de glória alternados com dias de agruras, sempre. Raro é o profissional que logo nos primeiros meses de estágio já não colecione histórias inusitadas, engraçadas, curiosas, assustadoras ou surpreendentes de outras formas.
O jornalista Duda Rangel, personagem fictício apaixonado pelo jornalismo e autor do blog Desilusões Perdidas, sucesso na rede, tem entre as suas citações uma que é comum no meio jornalístico. “Gosto do cheiro de café. Gosto do jornal fechado, do jornal folheado. Gosto do bar. Dos amigos. Gosto da conversa fiada. Da piada. Gosto dos dias alegres e dos cheios de melancolia também.”
É exatamente assim. Alegria e melancolia andam de mãos dadas às vezes, ou muitas vezes. Eu mesma, com nove anos de GCN e mais uma meia dúzia de outros na profissão, já passei por todas as situações citadas no início do texto. Somam-se a elas um sem número de outras, que vão desde cantadas de sertanejo famoso até blackout total de mais de dez horas durante “aquela” pauta preparada com antecedência que incluía um ensaio fotográfico com modelo e peças internacionais “só” a 400 quilômetros da redação e de equipamentos que resolvessem a imprevisível penumbra. Se vale como consolo, no fim, sempre dá certo.
Companheiro de trabalho desta última e de muitas outras enrascadas, o repórter fotógrafico Divaldo Moreira quase pode ser chamado de para-raios no quesito imprevisto. Sua coleção de histórias inclui até uma quase detenção, ou, como o policial envolvido classificou, “uma carona” de carro policial.
Tudo porque um soldado da Polícia Militar não gostou de ser fotografado - embora estivesse em via pública e no meio de um grupo grande de pessoas -, durante uma confusão envolvendo camelôs da Praça Dom Pedro. Moreira conta que, após uma discussão acirrada, o policial o obrigou a entrar na viatura e o conduziu até a delegacia. Diante do delegado, ambos registraram boletins de ocorrência de preservação de direitos, sem maiores consequências.
Uma delegacia de polícia também foi o cenário de uma das agruras que fazem parte do currículo do, também repórter fotográfico, Dirceu Garcia. Ele foi agredido pelo pai de um auxiliar administrativo acusado de envolvimento em um grave acidente de trânsito que terminou com a morte de uma babá. Na saída da delegacia onde o filho havia acabado de prestar depoimento, o empresário descontrolou-se e partiu para a agressão a Garcia, com socos e pontapés, para impedir o seu trabalho.
Como se não bastasse, o advogado do rapaz tapou a lente da câmera com a mão. Foi preciso a ajuda de um policial e de outras pessoas para controlar a situação. “Fiquei revoltado porque aquele senhor tinha que estar nervoso e incomodado pelo fato gravíssimo de o filho dele ter matado uma pessoa. Este era o grande problema da vida dele naquele dia, e não o fotógrafo que estava trabalhando”, disse Garcia, que registrou um boletim de ocorrência na mesma delegacia.
Empurrões, xingamentos e muita confusão rondaram o mesmo fotógrafo em outra situação. Após o final de uma partida de futebol no Lanchão, um dos dirigentes da Associação Atlética Francana partiu para cima de Garcia, tentando impedir os registros fotográficos e tomar o seu equipamento, por não querer que uma confusão envolvendo atletas, membros da comissão técnica, torcedores e o juiz fosse fotografada. Desta vez, em uma reação instintiva, Garcia revidou as agressões. “Nunca tinha agredido ninguém, mas o clima era de tensão e nervosismo e precisei me defender. Tanto eu tinha razão que um policial presenciou tudo e saiu em minha defesa, me protegendo”, afirmou o fotógrafo.
Menos violenta, mas não menos assustadora - ao menos para os aficionados em tecnologias - foi uma das situações vivenciada pela repórter do GCN Ana Catarina Prebill. Por sugestão do editor Leandro Ferreira, ela teve que encarar 72 horas sem fazer uso de nenhum equipamento de comunicação e escrever uma matéria especial que abordava o quão tênue é a linha que divide os benefícios da tecnologia e o vício digital. “Não podia acessar a internet, falar ao celular, assistir televisão ou sequer ligar um computador. Foi uma experiência tão marcante que sempre me lembro dela, mas se me perguntar se eu quero repeti-la, a resposta é imediata: não”, diverte-se a repórter.
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.