O barquinho de papel


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Era um barquinho de papel amassado, chamado Eduardo, e fora forjado por dedos rápidos e carinhosos. Ele queria ir para a água, só desejava navegar. Quando o fez, ela guardou-o com zelo em um lugar seguro e difícil de escapar. As chaves ela levava em um cordãozinho junto de seu coração. E como todo mundo sabe é no criado mudo que adormecem os silêncios e onde se guardam os segredos e os perfumes.
 
Ele e a menina nunca haviam conversado. Deu-se que ele decidiu conhecê-la através do universo daquela gaveta e lá estavam as fotos de seus joelhos esfolados na infância, dos amores perdidos e papéis de bombons comidos. Havia lições passadas a limpo e descobriu que ela era educada e adorável.
 
E ele era um barco de papel amarelo, feito do verbo amar e da palavra elo e talvez só por rebeldia quisesse desatar.
 
Admirou a menina que escrevia cartas e poesias, que guardava as pontinhas que quebravam dos lápis de cor,  juntava a miçangas, era apaixonada por banho de chuva e bolas de sabão.    Estava lá, tudo junto do que antes era só um papelzinho e então ele agora também sentiria a falta dela.
 
 Eduardo, àquela altura de sua vida de dobradura, estava cheio de cola e glitter da gaveta e então em uma noite decidiu conversar com a menina porque achou que ela o entenderia e o fim da conversa foi mais ou menos assim: 
 
-Eu quero ser livre e conhecer o mundo inteiro, desde que você me criou, eu sonho em navegar na chuva. (disse-lhe o barquinho um pouco incerto)
 
A menina já cheia de suspiros e crente de que tudo não passava de um sonho bom, respondeu com uma voz manhosa:
 
- Eu sentirei saudade, mas farei sua vontade. Sei que é preciso lhe deixar ir.
 
Então,sem medo de molhar-se na chuva,foi até a beirada da calçada e tirou as folhas trazidas pela enxurrada com delicadeza, foi gentil e colocou com lágrimas ao redor de seu sorriso o barquinho na água. Sussurraram um adeus que não foi tão triste assim.
 
Despediram-se, pois despedidas acontecem na vida. O barquinho de papel navegou para sempre dentro e fora do coração da menina. Ainda há saudades.
 
Milla Souza

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