Estatísticas, Copa e Eleições

Em ano de eleição, coincidindo com a Copa do Mundo, não há como escapar das estatísticas. E o interessante é notar como a opinião pública

22/06/2014 | Tempo de leitura: 5 min

“Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave.”
Carlos Drummond de Andrade, escritor 
 
Em ano de eleição, coincidindo com a Copa do Mundo, não há como escapar das estatísticas. E o interessante é notar como a opinião pública, em vez de se manter neutra a elas, é levada por elas. Dilma sempre se manteve, desde ano passado, em primeiríssimo lugar nas pesquisas não oficiais que apontavam sua reeleição já no primeiro turno. Os então pré-candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos respectivamente em segundo e terceiro lugares, não somavam juntos um terço das intenções de voto de Dilma. Aí veio junho de 2013, e com ele as manifestações de rua, de um povo insatisfeito com as instituições públicas, embora não focassem direta e unicamente Dilma e o governo petista. Houve o que se lamentar da infiltração de baderneiros, que não eram arruaceiros sem classe social definida, mas sim um grupo de jovens de classe média (na maioria) que se denominavam black-blocs. Surgiram as primeiras estatísticas pós-manifestações de rua: Dilma caiu alguns pontos, e seus adversários continuavam pulverizados, desconhecidos mesmo em certas regiões do país.
 
Engrossam, concomitantemente, manifestações de outro caráter: as das redes sociais. Começaram de forma sutil, passaram para o nível discreto, seguiu-se a postagem mais agressiva e agora vivemos um verdadeiro escracho e acirrada discussão virtual entre estes e aqueles simpatizantes de partidos políticos diferentes e de diferentes candidatos à presidência da República. Não se trata mais de apenas criticar o governo Dilma, por exemplo, mas acintosamente de desrespeitar em forma grosseira a nossa mais alta autoridade pública. Em contrapartida, os candidatos adversários da atual presidente sofrem de igual modo achincalhes dos prováveis eleitores petistas, que os acusam das mais perversas formas de desgoverno, de desvio de verba a uso de drogas pesadas, seja em Minas ou Pernambuco. Isto não é bom para a democracia. Talvez andássemos melhor discutindo civilizadamente plataformas políticas ou pensamentos e intenções dos candidatos. Mas a tela do computador aceita qualquer palavra, qualquer comparação, quaisquer alusões grotescas. 
 
Interessante também notar como blogs espalhafatosos e e-mails tendenciosos buscam “fazer a cabeça” de seus leitores. Quem chegou a ler a biografia de Dilma Rousseff, por esses meios, encontrou fichas policiais altamente incriminadoras, com atos de terrorismo próprios de um caudilhista sulamericano. Mas enquanto isso ocorria nas telas dos computadores, o pré-sal ganhava espaço na mídia. Dilma sobe um pouco. Vem à baila o caso da Petrobras envolvendo a suspeita compra da refinaria de Pasadena. Dilma cai um pouquinho. 
 
O fraco desempenho da economia como um todo, o mensalão petista (e agora tucano mineiro), investimento em infraestrutura física do porto de Cuba, a importação de médicos cubanos, manifestações de descontentamento com a forma de governo levadas às ruas, greves implicam refazer os cenários das intenções de voto.
 
A presidente viu sua vantagem na corrida pela presidência da República diminuir e, se a eleição fosse hoje, teria os votos de 38% dos eleitores brasileiros, segundo dados do Ibope (10 de junho). Seu adversário mais próximo é Aécio Neves, com 22%, seguido por Eduardo Campos com 13%. Na contramão desses números, comenta-se a tendência lenta e constante de queda de Dilma.
 
E Lula? Que papel desempenha neste cenário? Tem se saído bem, mantendo-se fisicamente longe dos “palanques eleitorais” públicos, mas causando uma enorme sombra sobre sua sucessora. Há ainda quem creia que Dilma representa o continuísmo popular de Lula. Vem Marina e repete o que disse há quatro anos: “A alma de Dilma não é a alma de Lula!” Está certa: foi ao ponto. Mas essa frase de efeito não consegue atingir em cheio o pensamento de parte do eleitor brasileiro. Quando você pensa que esses fatos estão assim definidos na sua intrínseca e contraditória indefinição, vem a Copa, que ocorre a cada quatro anos, coincidindo com as últimas eleições presidenciais no Brasil. 
 
E aí, qual é a linguagem do eleitor brasileiro nesse calor da hora? Talvez comece a ser aquela falada por Lula há quatro anos, agregada pelo verde-amarelismo de uma Copa. Relembro que Dilma subia nas pesquisas na medida em que a seleção brasileira avançava no campeonato na África do Sul. Política e futebol num só caldeirão aquecido pelo fogo da paixão nacionalista. Olhar vesgo!
 
Copa é Copa; política é política, ambas não se misturam. Bobagem das grossas apostarem na possibilidade de vitória da Dilma por conta de uma campanha vitoriosa da nossa seleção na Copa 2014 no Brasil. Dilma se sair reeleita o consegue independentemente dos resultados da seleção, e graças a mérito próprio e de seus militantes. Bobagem das grossas é pensar na vitória de Aécio Neves se o capitão da seleção brasileira levantar a taça de campeão da Fifa. 
 
O rodoanel que contornava em 2010 São Paulo e toda a elogiável administração Serra não foram capazes de fazer frente ao que significaram o pré-sal, o equilíbrio econômico e as vitórias preliminares da seleção brasileira frente a uma disputa eleitoral. Esta é a linguagem ou o pensamento raso de uma parcela do eleitor brasileiro. E não devia ser assim; ao menos, retirem das costas de nossos jogadores a responsabilidade de definição por este ou por aquele candidato. Pensar e analisar a ficha política de cada candidato talvez não bastem, como não basta o tolo alvitre de “votar para não perder o voto”, ou seja, votar em quem esteja no primeiro lugar das intenções de voto.
 
A velha pergunta volta à tona: a opinião pública faz a estatística ou a estatística muda a opinião pública? Ou ainda: você acredita mesmo que os resultados da Copa interfeririam de forma cabal para os resultados das eleições presidenciais?
 
Everton de Paula, acadêmico e editor 
email - evertondepaula33@yahoo.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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