O prodígio Alexandre

O prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (PSDB), é um “realizador” - e dos grandes. Quando o assunto é destruir sonhos, conquistas, avanços, ideais

27/04/2014 | Tempo de leitura: 7 min

“Nem o regime mais repressivo consegue impedir os seres humanos de encontrar formas de comunicar e obter acesso à informação”
Nelson Mandela, ex-presidente sulafricano 
 
 
O prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (PSDB), é um “realizador” - e dos grandes. Quando o assunto é destruir sonhos, conquistas, avanços, ideais, projetos e instituições, o veterinário que chegou a prefeito pelo exercício resignado da arte de bajular seu antecessor é um fora-de-série. É bom que se diga que Alexandre Ferreira não é vagabundo. Para conseguir fazer o que fez, o prefeito de Franca trabalhou duro. Foi muita dedicação e empenho para conseguir alcançar, em apenas 16 meses, o que pareceria imposível ao ser empossado no cargo: destruir o legado de seu mentor, Sidnei Rocha; esmagar o orgulho do cidadão francano; retardar o desenvolvimento da cidade e, de quebra, arrebentar coisas que funcionavam bem. Não fosse sua produtividade considerável e seu talento inato, jamais teria conseguido tanta coisa neste curto intervalo. O desempenho é de prodígio.
 
A implosão da herança recebida começou logo. Numa atitude típica de pessoas com seu nível de delicadeza, Alexandre Ferreira constrangeu a então secretária de Educação, Leila Haddad, a pedir demissão do seu cargo depois de oito anos no comando da pasta. Mulher de fibra e de honra, muito diferente de tantos outros que se aninham no “primeiro escalão”, a veterana educadora preferiu a saída digna às humilhações cotidianas perpetradas por quem acredita no “faça porque que estou mandando”. Deixou o governo, mas de cabeça erguida.
 
Viria na sequência o escândalo da São José, quando o prefeito que nunca tem tempo nem dinheiro para conversar com os servidores municipais encontrou ambos - tempo e dinheiro - para se reunir com representantes da concessionária do transporte coletivo da cidade.
Motivado, certamente, apenas por sua alma sensível, Alexandre perdoou todos os descumprimentos e infrações contratuais, concedeu novos prazos mais do que generosos e, de quebra, isentou a empresa da necessidade de implantação de itens que constavam da licitação. Se a São José algum dia sonhara em ter um prefeito que fosse uma “mãe” para seus interesses, encontrou em Alexandre uma genitora mais do que generosa e compreensiva. Coisa, mesmo, de família.
 
Dedicado e incansável, destruiu a Expoagro, tradicional festa da cidade que, depois de décadas, ficou sem shows populares pela primeira vez, substituídos por um tal de FestCultura que, nas noites de pico, conseguiu atrair uma dúzia de espectadores. Nunca se viu tanto conforto no descampado do “Fernando Costa”. É imperativo lembrar da crise com os comerciantes do Centro por conta das vagas de estacionamento, onde o chefe de Executivo, sempre elegante, emitiu “nota oficial” em que classificava a septuagenária Acif como “leviana” e outros elogios mais.
 
Houve ainda as múltiplas crises na Saúde. A mais grave, a triste sequência de mortes de quatro mulheres que sucumbiram de forma suspeita após passar por atendimentos na rede municipal. Impossível esquecer dos ratos, pombos, aranhas, escorpiões, gambás e outras pragas no PS Infantil, denunciados pelo próprio diretor da unidade, que classificou o lugar como “fétido”, e que pediu a interdição sanitária do local. Mas como o PS não oferece os mesmos atrativos da São José, o pedido foi negado pelo prefeito, que segue submetendo as crianças do município a atendimento no mesmo local. Ainda na Saúde pública, descobriu-se também uma fantástica “indústria de horas-extras”, capaz de fazer disparar salários de alguns sortudos de R$ 3,5 mil para R$ 18 mil mensais.
 
Eficiente como poucos, Alexandre Ferreira encontrou tempo para brigar com a Câmara de Vereadores por conta de mais um ato de generosidade incomum. O prefeito resolvera adquirir um prédio para servir de depósito para a merenda escolar, mesmo com seu antecessor já tendo providenciado um imóvel para o mesmo fim. Como não queria discutir a questão, provavelmente para não “perder tempo”, Alexandre deu uma rasteira na Câmara, atropelou o seu líder, Adérmis Marini, e desapropriou um imóvel por R$ 3,5 milhões. Como se vê, o prefeito não é do tipo que economiza ninharia a não ser que o assunto seja salário - dos outros. De resto, gosta mesmo de “altos negócios”.
 
Foi outro desses “altos negócios”, obviamente motivado apenas por seus ideais republicanos, que Alexandre Ferreira pretendia fazer quando autorizou um estudo que pode resultar na desapropriação de um trecho para ampliação de uma avenida - dentro de um condomínio fechado. Isso mesmo, o Villagio da Colina pode se transformar em dois se o prefeito levar a cabo seu plano de esticar a avenida Eliza Verzola Gosuen até um conjunto de chácaras, coincidentemente onde ele mora com sua família. É claro que todos nós acreditamos que o fato da obra valorizar imensamente a sua residência não tem “nada a ver” e que os eventuais prejuízos sofridos pelos moradores do condomínio não podem deter o “progresso” de Franca. Quem duvidaria que são os mais nobres sentimentos e objetivos que motivam alguém com a estatura moral de Alexandre Ferreira?
 
Houve ainda a greve dos servidores municipais, quando a quintessência do seu pensamento e caráter foram expostos para todos; as múltiplas vezes em que desautorizou subordinados, como a subserviente secretária de Educação, Fabiana Sampaio, mestra em tantas coisas e doutora na arte de dizer “Amém”; a sujeira generalizada nas praças da cidade inteira; a confusa mudança no trânsito da avenida Adhemar de Barros; e por aí vai...
 
Óbvio que um desempenho tão singular chama atenção. No caso de Alexandre Ferreira, do Ministério Público, da Procuradoria da República, do Ministério do Trabalho, do Ministério Público do Trabalho e de uma Comissão Especial de Inquérito da Câmara Municipal. Todas essas instituições têm, neste instante, ações ou inquéritos em andamento para investigar atos praticados pelo governo municipal. É claro que tudo isso foi denunciado ou registrado pelo Comércio, rádio Difusora e Portal GCN. Alguns desses registros foram reproduzidos por veículos de circulação nacional, o que catapultou a imagem do “realizador” Alexandre Ferreira a todos os rincões do país.
 
Aparentemente, o prefeito ficou magoado. Sujeito discreto, o prefeito não gosta de ver seus feitos registrados para a posteridade. Com uma canetada, cancelou o projeto Jornal Escola, mantido há anos pelo GCN e que contemplava dezenas de professores da rede municipal de ensino com treinamento gratuito; fornecia 200 mil jornais por ano sem qualquer custo para alunos da rede municipal; e ainda proporcionava visitas lúdicas para que os estudantes pudessem conhecer as nossas instalações e como são produzidas as notícias.
 
Homem de criatividade ímpar, Alexandre lançou 48 horas depois outro projeto, idêntico ao Jornal Escola do GCN. Os professores só não podem usar o Comércio. E as visitas, não podem ser ao GCN. Onde serão, ele não quis dizer. “Não tenho que dar satisfações”, sapecou, com seu refinamento habitual. Também não disse quanto vai custar tão original iniciativa nem de onde sairão os recursos. É possível que, ensimesmado como ele só, prefira compartilhar tais detalhes apenas com o Ministério Público.
 
Apesar de seus esforços, os feitos de Alexandre são tão relevantes que jamais poderíamos permitir que tivessem sua exposição reduzida. Nem seria justo extinguir um projeto de tantos anos apenas porque a personalidade do prefeito não se ajustou a ele. Assim, as vagas ausentes por conta da “desistência” forçada das escolas municipais serão substituídas por outras unidades educacionais. 
 
Projeto bom tem fila de espera. Imediatamente após o anúncio da decisão de Alexandre Ferreira, dezenas de escolas estaduais e particulares que tinham tentado se inscrever no começo do ano nos procuraram para participar. O projeto não apenas será mantido como, também, ampliado, com mais professores participando das oficinas e mais alunos visitando nossas dependências, além de um conjunto maior de exemplares destinados ao uso na sala de aula. Além disso, os jornais reservados às professoras da rede municipal continuarão a ser entregues, mas em suas residências. 
 
Assim, tudo que Alexandre Ferreira protagonizar na esfera pública continuará registrado nos veículos que compõem o GCN Comunicação, da mesma forma como o Comércio tem feito há cem anos - e disponível para professores, alunos e a população. Desse compromisso, não arredaremos o pé, por maior que seja a disposição em contrário do prefeito de plantão. Nem hoje, nem nunca. 
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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