Nocaute

Diogo Mainardi é craque. Inteligente, culto e muito bem preparado, é um polemista nato, herdeiro direto dos estilos de Ivan Lessa e Paulo Francis

26/01/2014 | Tempo de leitura: 4 min

‘O primeiro dever da inteligência é desconfiar dela mesma’

Albert Einstein, físico alemão
 
 
Diogo Mainardi é craque. Inteligente, culto e muito bem preparado, é um polemista nato, herdeiro direto dos estilos de Ivan Lessa e Paulo Francis, seus mentores. Avis-rara do jornalismo nacional, desconfia das verdades consagradas pela maioria e quase sempre nada contra a corrente. Afastado da mídia impressa desde 2010, reserva suas opiniões sobre política, economia e cultura apenas para os espectadores do Manhattan Connection.
 
O programa, há 20 anos no ar, é comandado pelo âncora Lucas Mendes, há décadas radicado em Nova Iorque. De lá também participam Caio Blinder, que foi editor de Mundo da Folha de S. Paulo, e Pedro Andrade, expert na vida noturna da ‘Big Apple’. Diogo Mainardi faz seus comentários a partir de Veneza, na Itália, onde mora. E Ricardo Amorim, economista, entra na mesa-redonda virtual a partir de São Paulo. Há semanas sem participações especiais. Noutras, o quinteto recebe convidados. Domingo passado, havia uma. Luiza Helena Trajano Rodrigues, presidente do Magazine Luiza. Para nós, a sempre ‘Luizinha do Magazine’.
 
Foi um massacre que ninguém esperava. Durante quinze minutos, os espectadores assistiram, ora pasmados, ora divertidos, a uma sucessão de teses serem demolidas impiedosamente. O surpreendente é que, muito diferente do que sempre acontece, não foi o entrevistado que acabou desmascarado. Quem ditou o ritmo do programa, corrigiu números e informações e levou seus debatedores a rever suas premissas foi Luizinha. 
 
Da primeira participação de Lucas Mendes, atribuindo à empresária uma suposta crítica à imprensa - o que ela negou, contextualizando sua declaração - à conclusão num bate-rebate antológico com Diogo Mainardi sobre preço versus qualidade no atendimento, o Show de Luizinha foi impagável. No meio disso tudo, Luizinha ainda confrontou Caio Blinder ao negar que o varejo brasileiro viva qualquer crise como o jornalista havia apregoado. Apresentou números e dados que mostram a distância que separa lojistas brasileiros dos americanos e comemorou as centenas de milhares de empregos gerados. Disse ainda que esta será a ‘década do Varejo’. 
 
Mas o principal duelo daquela noite colocou em cantos opostos Luizinha e Mainardi. Quem tomou a iniciativa de partir para cima, com uma pergunta quase inquisitória, foi Mainardi, que lembrou a subida dos juros, a redução do crédito, o aumento da inflação e o sucateamento da indústria. Disse que a inadimplência havia crescido pelo segundo ano consecutivo. Depois de apresentar seus dados, sustentou que haveria uma inevitável queda no emprego num horizonte próximo. Diante disso, provocou a empresária ao perguntar quando ela venderia o Magazine Luiza para a Amazon, gigante americana do varejo na internet, já que na opinião dele não haveria alternativa.
 
A resposta veio em partes. Primeiro, de forma suave, Luizinha tentou alertar Mainardi de que ele baseava suas informações em dados errados, especialmente os índices de inadimplência. ‘Diogo, eu acho que algumas informações suas... assim... eu gostaria de te passar depois por email. A inadimplência está totalmente sob controle’. Mainardi rechaçou o alerta e insistiu que a inadimplência havia crescido. Luizinha pontuou os números corretos, mostrando que a inadimplência havia, de fato, recuado. Incrédulo, Mainardi tergiversou e disse que era um efeito isolado, apenas do Magazine Luiza. Mais uma vez, foi rebatido por Luizinha, que mostrou que eram números de todo o varejo. Por fim, o próprio Lucas Mendes pôs fim à discussão ao garantir que os dados de Luizinha estavam corretos. A cara de tacho de Mainardi diante da insistência de Luizinha em mandar para ele, por e-mail, os dados corretos, foi indisfarçável. ‘Me poupe, Luiza... me poupe’, tentou contemporizar. 
 
Na sequência, Luizinha voltou ao assunto da Amazon para dizer que, apesar de respeitar muito o concorrente, não está à venda. ‘Nenhum brasileiro aqui pretende vender seus varejos para a Amazon’, garantiu. Luizinha ainda falaria sobre conjuntura, concorrência, tecnologia e até ‘rolezinho’. Sempre simples, direta, nada rebuscada, a empresária distribuiu carisma e desconcertou os jornalistas, que patinaram e terminaram sem reação diante do raciocínio rápido e fundamentado da empresária.
 
Os duelos da noite, especialmente os que envolveram Luizinha e Diogo Mainardi, transformaram-se em concorridos tópicos de dicussão na internet e estiveram entre os assuntos mais falados da semana nas redes sociais. Não faltou inimigo de Mainardi para celebrar a performance de Luizinha como se fosse seu obituário profissional.
 
Impossível ter certeza de como um tropeço deste tamanho acontece mas, para quem vê de longe, parece óbvio que sobrou soberba na mesma medida em que faltou preparação. A tese que Mainardi queria discutir sequer está errada. É verdade que a economia brasileira cresce num ritmo menor do que o esperado e que isso deixa mais vulneráveis as empresas nacionais. Mas daí a dizer que o jogo acabou para o empresário brasileiro, especialmente quando baseado em números errados, há uma enorme distância. 
 
Jornalistas, como políticos, são generalistas que têm conhecimento superficial sobre muitas coisas. Não poderia ser diferente. Exatamente por isso, precisam se preparar e estudar, sempre. É necessário também algum grau de humildade para ouvir o que o interlocutor diz, despido de preconceitos ou prejulgamentos. Sempre que um jornalista - ou um político - ignora estes preceitos, assume o risco de cometer gafes ou fazer papel de palhaço, por mais craque, talentoso ou brilhante que seja. No último domingo, no ‘palco’ do Manhattan Connection, Luiza Helena Trajano Rodrigues era a única que, nem de longe, lembrava Bozo ou o Arrelia.
 
Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN 
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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