Joaquim: O menino que sumiu

O país acompanha apreensivo o desenrolar dos dramáticos fatos que cercam o sumiço de Joaquim Ponte, de três anos, na vizinha Ribeirão

10/11/2013 | Tempo de leitura: 4 min

“O inferno é esperar sem esperança”
André Giroux,
escritor canadense

O país acompanha apreensivo o desenrolar dos dramáticos fatos que cercam o sumiço de Joaquim Ponte, de apenas três anos, na vizinha Ribeirão Preto. O garoto desapareceu, literalmente, de dentro da sua própria casa, no Jardim Independência, na madrugada de terça-feira. Não deixou qualquer vestígio. Diz a mãe, a psicóloga Natália Ponte, que seu atual companheiro e padrasto do garoto, o técnico em informática Guilherme Longo, foi quem colocou Joaquim para dormir na noite de segunda-feira. Pela manhã, por volta de sete horas, Natália teria se dirigido ao quarto do filho, recentemente diagnosticado com diabetes, para aplicar nele uma injeção de insulina, ritual repetido a cada seis horas. A cama estava vazia. No quarto, na casa, nas cercanias, nenhum sinal do menino.

O que exatamente aconteceu ainda é mistério. Sabe-se que o padrasto é dependente químico. Quem disse isso foi o próprio rapaz. Segundo sua versão, depois de colocar Joaquim para dormir, por volta de meia-noite, saiu para comprar drogas. Deixou a porta da frente destrancada. Ainda de acordo com ele, sem conseguir encontrar entorpecentes, resolveu voltar para casa. Ao chegar e sem perceber nada de anormal, foi direto para o seu quarto.

Desde terça-feira, milhões repetem, incrédulos, a mesma pergunta: como pode um menino de três anos sumir de dentro de casa, no meio da noite, sem deixar rastro, sem ser visto por ninguém, sem um grito que denunciasse algum malfeitor? Por enquanto, não há qualquer mínima explicação para o garoto que tinha uma vida normal.

Joaquim Ponte estuda desde agosto no colégio Lacordaire. Desde uma semana antes do sumiço, faltava por conta de uma crise diabética que o atingira durante a aula. Carismático e querido, o menino jamais teve na escola qualquer comportamento que denotasse falta de cuidado. “Nunca observamos nada de anormal (...) A relação dele com a mãe e o padrasto era muito tranquila”, disse, em entrevista ao portal G1, Ivete Morandini, assessora da diretoria da escola.

Nem mesmo o pai do garoto, o promotor de eventos Arthur Paes, que mora em São Paulo e visitava Joaquim quinzenalmente, ouvira qualquer tipo de reclamação do seu filho com relação aos cuidados que recebia em casa. Ainda assim, Paes recorre a um argumento difícil de ser refutado. ‘Não acuso nenhum dos dois (mãe e padrasto), mas tenho certeza de que pelo menos um dos dois sabe o que aconteceu. Meu filho não saiu sozinho e ninguém entrou lá para pegá-lo’, disse, angustiado, ao mesmo portal.

A Polícia Civil tem sinalizado que acredita na particpação do casal no sumiço do garoto. Contradições nos depoimentos de ambos - não detalhadas pela polícia - teriam reforçado as suspeitas. Além disso, o fato de um cão farejador indicar que o garoto e o padrasto caminharam juntos rumo a um córrego próximo seria um indício a mais. O delegado responsável pelo caso, Paulo de Castro, chegou a pedir a prisão temporária de Natália e Guilherme, mas a Justiça negou. A magistrada considerou que ambos têm colaborado com as investigações.

Por mais absurdo que possa parecer, sumiços abruptos são mais comuns do que se imagina. Um dos mais notórios é o da britânica Madeleine McCann, ocorrido em 2007. Madeleine tinha quatro anos. Passava as férias com os irmãos menores, gêmeos de 2 anos, e obviamente com os pais, um casal de médicos ingleses, em Algarve, região litorânea de Portugal. Os pais deixaram as crianças no quarto do hotel e foram jantar com amigos num restaurante a 100 metros de distância. Durante a noite, o grupo se revezou nas idas ao apartamento para checar se estava tudo bem. Por volta de 22h, constataram que Madeleine tinha sumido. A garota nunca mais foi vista. Policiais de toda a Europa fizeram buscas e conduziram profundas investigações. Os pais chegaram a ser acusados, mas nada foi provado. Até hoje, Madeleine segue desaparecida.

Só em São Paulo, a cada dia, 57 pessoas somem de casa. No país, são 500 casos semelhantes a cada 24 horas. No mundo todo, são 4 milhões de indivíduos por ano - homens, mulheres, crianças - em situação parecida. É gente demais. Neste contingente, há de tudo. Drogados, endividados, desiludidos, desesperados e portadores de doenças degenerativas formam o maior contingente. A grande maioria acaba localizada. Mas, só no caso brasileiro, há pelo menos 2.500 pessoas que, a cada ano, desaparecem definitivamente. São pessoas que somem para nunca mais serem vistas.

Organizações internacionais suspeitam que muitos destes indivíduos, no Brasil ou no Exterior, sejam vítimas de quadrilhas especializadas no tráfico de pessoas (para trabalho escravo, comércio de órgãos para transplante ou adoção, no caso de crianças). A atividade, para lá de abjeta, tem adeptos porque é extremamente lucrativa - alguns estudos apontam que rende três vezes mais do que tráfico de drogas.

Joaquim Ponte segue desaparecido. Todos os esforços devem continuar a ser empreendidos para ele seja localizado com vida, por mais que o avanço das horas torne essa chance, progressivamente, menor. Enquanto não se chega a um desfecho, qualquer que seja ele, é importante que a polícia não descarte qualquer possibilidade, por mais remota e absurda que pareça. Neste mundo tão áspero e insano, sete brasileiros desaparecem, a cada dia, para nunca mais serem vistos. Que o destino permita que o pequeno Joaquim Ponte não seja mais um a engrossar estes números.

Corrêa Neves Júnior, diretor executivo do GCN
email - jrneves@comerciodafranca.com.br

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