Devoto da sedução, o designer de calçados Fernando Pires, 59, usa essa característica como principal matéria prima de suas criações. Há 23 anos no mercado, Pires viu seu nome ganhar projeção nacional após passar a ser citado como mestre do sapato de luxo por celebridades como Hebe Camargo, Cláudia Raia, Xuxa, Susana Vieira, Fernanda Montenegro e outras mulheres de igual fama.
Em seu ateliê ele emprega 18 profissionais distribuídos entre a linha de produção e o setor administrativo. Juntos, eles produzem artesanalmente aproximadamente 700 pares de sapatos por mês. Depois de encerrar as atividades de suas franquias nos estados do Rio Grande do Sul e Espírito Santo e manter em funcionamento apenas a unidade da cidade de São Paulo, Pires quer dar mais importância ao setor de e-commerce do site exclusivo da marca e, em busca de fortalecer os negócios com lojas multimarcas, retomou a temporada de exposições em feiras do setor calçadista, incluindo a 45ª Francal, onde ele concedeu essa entrevista exclusiva.
Qual o conceito do sapato Fernando Pires?
O primeiro conceito é que ele seja sedutor. Se você partir desta premissa você seduz o lojista, que vai seduzir a consumidora, que vai seduzir o namorado, o marido e causar inveja nas amigas. Esse é o meu conceito: fazer um sapato extremamente sedutor, que não seja vulgar, tenha sensualidade, seja feminino e principalmente que seja exibido. É um sapato que é para chegar e causar. Construí o meu DNA nesses 23 anos. Trabalho nesta linha, procuro não sair desse caminho.
Além da sensualidade inerente, é possível aliar, com harmonia, conforto e estética?
Sem conforto, não dá. Não dá para se fazer um sapato que tenha um design maravilhoso, diferenciado, mas que uma pessoa não consiga passar algumas horas em cima. Nem tenho feito mais formas novas. Mesmo as que tenho são testadas antes: mando fazer um protótipo, a pessoa experimenta para mim e vamos sentir o conforto. Se tiver alguma coisinha, a gente modifica a forma ou, então, lixo. É impossível você ter um sapato para ter que tirar de baixo da mesa escondido.
Além da sensualidade, quais quesitos um sapato precisa atender para garantir que a mulher estará bem calçada?
Salto alto sempre, indiscutivelmente. Tenho alguma coisa baixa, mas não tem a minha cara, faço porque tenho algumas clientes que alcançaram uma certa idade e dizem que precisam. Então voltei a fazer porque não tinha nenhuma mais. Não faço sapato para você sair de dia, para caminhar pela Oscar Freire. Ninguém vai caminhar de saltão. Meu sapato é para sair à noite. Tenho prazer em fazer salto alto sempre, começo o perfil do desenho com o pé já com inclinação. Depois é que vou ver o que acontece. Indiscutivelmente, salto alto é a maior arma - que não é secreta - poderosa que a mulher tem.
Hoje você é referência em sapatos femininos de luxo. Como se deu a projeção de seu nome e a construção de sua grife nesses 23 anos?
Foi espontâneo. Tenho assessoria de imprensa há apenas duas semanas. O que acontece é que as artistas são muito linguarudas. Quando elas gostam, mesmo que elas tenham comprado, elas falam espontaneamente. Algumas eu presenteio ou presenteava, como a Hebe. Ela vivia falando: “Assim você vai à falência, eu não quero que você me dê, tenho dinheiro para pagar”. Mas eu dizia que era um prazer vê-la como uma diva. Então, elas são as grandes culpadas. Hebe, Cláudia Raia, que é minha madrinha, foram as pessoas que começaram a gritar lá atrás.
O que mudou no conceito da moda em calçados nos últimos 15 anos?
É muita gente fazendo sapato, pelo amor de Deus. Antes tinha muita gente, mas não faziam o meu sapato. Eu era sozinho no mercado fazendo saltão, meia pata, acrílicos, cristais. Fui precursor em muita coisa, mas o Brasil não reconhece isso, não aplaude.
Com menos expressividade, sua linha de sapatos masculinos também tem diferenciais importantes. Como você a descreve?
Não é um sapato que você encontraria em qualquer outra loja de sapato. O masculino é muito boring (enfadonho). Eu faço um sapato para ser percebido, para as pessoas perguntarem dele. Eu faço sapato de paetês, de cristais. É um sapato para o cara entrar em um lugar e, ou vão falar “Ih, é veado” (risos), ou então “Nossa, que sapato lindo”. Porque tem preconceito, não é? O homem é muito preconceituoso. Mas isso está mudando, já estão passando creminho, perdendo essa resistência.
Feiras como a Francal ou a CouroModa existem para lançar coleções específicas de uma época do ano. Você acompanha esse mercado?
Meu sapato é atemporal, mas tenho uma coleção primavera/verão 2014. Claro que você vai encontrar vários sapatos que sobrevivem há anos, têm uma vida longa, são os meus clássicos - como os sapatos de cristais, de acrílico. Sempre tem alterações, os cristais ganham novos desenhos, novas cores, mas são os meus clássicos - não os abandono nunca. Tem sapatos que já têm sete anos de idade e continuam sendo sucesso.
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.