Mixórdia: o caso da mãe que espancou a filha de 7 meses

Franca assiste o desenrolar de um caso abominável, capaz de gerar em quem o acompanha sentimentos que vão da estupefação à revolta.

26/05/2013 | Tempo de leitura: 5 min

Não há redenção possível, justificativa plausível ou atenuante razoável para o que fizeram. Quaisquer que fossem as circunstâncias, mãe é sempre mãe
Não há redenção possível, justificativa plausível ou atenuante razoável para o que fizeram. Quaisquer que fossem as circunstâncias, mãe é sempre mãe

‘Um pai pode negligenciar um filho, irmãos e irmãs podem se tornar inimigos inveterados;
maridos podem abandonar suas esposas, e esposas os seus maridos. Mas o amor de uma mãe resiste a tudo’
Washington Irving,
escritor americano


Franca assiste, há uma semana, o desenrolar de um caso abominável, capaz de gerar em quem o acompanha, ainda que à distância, sentimentos que vão da estupefação à revolta, e para o qual nenhuma teoria psicológica parece suficientemente boa a ponto de oferecer uma explicação minimamente razoável. Foi na última segunda-feira que uma menina de quinze anos, mãe de um bebê de sete meses, internado na Santa Casa com muitos machucados e fraturas, admitiu em depoimento à polícia ser a autora das agressões.

A confissão foi o ponto a partir do qual os detalhes deste caso tenebroso vieram à tona. Numa inversão inacreditável da natureza humana - e, registre-se, de grande parte dos mamíferos de todas as espécies - a jovem mãe foi capaz de esmurrar violentamente seu bebê, junto com seu namorado (e ‘padrasto’ da criança), até quebrar-lhe várias costelas. Foi capaz também de negar-lhe socorro, permitindo que a criança sofresse atrozmente, medicada precariamente apenas com dipirona (um analgésico e antitérmico) administrada de forma improvisada.

Foi só depois de dez dias de muito choro e sofrimento do bebê que a garota, pressionada por alguns familiares do namorado, procurou socorro médico para sua filha. Ainda assim, continuou com sua canalhice e mentiu no pronto-socorro. Disse que a menina tinha ‘caído’. O bebê foi encaminhado então para internação na Santa Casa. Foi ali que o médico que a atendeu, depois de fazer exames e raios-x, desconfiou da versão de queda e informou a polícia que os ferimentos eram bastante graves e muito mais compatíveis com agressão.

É a partir daí que a delegada Graciela Ambrósio entra na história, começa a investigar o caso e descobre o show de horrores que une, numa mesma teia desgraçada, famílias desestruturadas, usuários de drogas, jovens criados sem qualquer cuidado e, no extremo mais frágil, um bebê agredido covardemente por aquela que lhe deu a luz e que deveria ser seu porto seguro, seu referencial de valores e princípios, sua garantia de proteção e apoio em qualquer circunstância. A sua própria mãe.

O resumo da ópera é assombroso. Aos quinze anos, a mãe-agressora nunca teve parada. Morou cinco anos com a mãe, outros cinco com o pai e um tempo com os avós paternos. Relaciona-se sexualmente com homens desde que tinha pouco mais de dez (!) anos. Aos treze, depois de quatro meses de namoro com um rapaz um pouco mais velho, engravidou. Como não era difícil imaginar, o ‘relacionamento’ não prosperou. O casal se separou meses após a descoberta da gravidez, voltou a se unir quando o bebê nasceu e, semanas depois, separou-se outra vez. Na sequência, a garota engatou um outro namoro e, quase imediatamente, foi morar na casa da família do rapaz. Que, aos 18 anos, tem ficha criminal considerável. (Leia mais detalhes sobre este caso em reportagem de Priscilla Sales, publicada às páginas 14 e 15).

Se o contexto é pavoroso, a versão apresentada pela menina para explicar seu ataque hediondo não fica atrás. Segundo ela, os murros foram desferidos num ‘acesso de fúria’ provocado por ‘ciúmes’ e ‘intriga’. O ‘exemplar’ casal estava na segunda-feira, 13 de maio, num lugar conhecido como ‘praça do Skate’, no Leporace. A dupla foi abordada pela Polícia Militar e flagrada com entorpecentes. Ambos foram levados à delegacia. Liberados (como acontece, com grande frequência, com os bandidos neste país), voltaram para a casa. Num desvario, imaginaram que tinham sido descobertos por conta de uma ‘denúncia’ feita pelo pai biológico do bebê. O que fizeram então? Desforraram na criança de sete meses. Sem dó, misericórdia, piedade. Sem humanidade.

É quase impossível aceitar que alguém seja capaz de agredir um bebê, por pior que seja essa pessoa, por menor que seja a relação afetiva que ela tenha com a criança. É simplesmente absurdo pensar num adulto agredindo um bebê, um corpo franzino incapaz de minimamente se defender. Quando se constata que a agressão foi feita pela própria mãe, o que já seria abjeto fica ainda pior. Se houvesse uma escala para covardia, essa garota-mãe e seu cúmplice teriam ultrapassado, e muito, quaisquer limites existentes.

Quem acompanha o caso não ignora o ambiente de miséria afetiva ao qual esta garota esteve exposta desde sempre. Também não deve ser desprezado o fato de que uma iniciação sexual tão precoce tenha deixado sequelas. Da mesma forma, é lamentável que o consumo de drogas esteja tão presente em seu entorno. Mesmo assim, não há redenção possível, justificativa plausível ou atenuante razoável para o que ela e seu namorado fizeram. Porque, quaisquer que fossem as circunstâncias, mãe é sempre mãe.

Neste mundo tão injusto, o amparo permanente de nossas mães é a única certeza absoluta que temos, o único amor incondicional efetivo. Uma mãe, seja ela mais ou menos carinhosa, superprotetora ou desencanada, liberal ou conservadora, nunca, em tempo algum, abandona suas crias, sua prole, seus filhos. Quando alguém contraria essas premissas é porque, a despeito da aparência física ou do DNA, já deixou de ser humano, na exata acepção do termo, há um bom tempo.

Na tarde de sexta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva do ‘padrasto’. O rapaz está foragido. Nas próximas horas, a Justiça decidirá se também a mãe do bebê deve ser detida - tecnicamente, ‘apreendida’, porque se trata de menor de idade. Independente da punição que venha a ser aplicada a este casal, seria muito bom que o bebê fosse encaminhado para adoção. Criado como foi nestes primeiros sete meses, as perspectivas que se apresentam são para lá de sombrias. Ficar longe deste núcleo de gente esquisita é o melhor destino que a vida pode reservar para o bebê. Numa nova família, onde haja amor, respeito e proteção, suas chances voltam a existir. Que a Justiça faça a sua parte e a afaste deste pardieiro. A vida, certamente, fará o resto.

CORRÊA NEVES JÚNIOR
é diretor-responsável do Comércio da Franca jrneves@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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