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A transferência da Virada Cultural para a Expoagro corre o risco desagradar ainda mais gente.

05/05/2013 | Tempo de leitura: 5 min

A transferência da Virada Cultural para a Expoagro corre o risco desagradar ainda mais gente. O saldo do que vier, bom ou ruim, é integralmente do prefeito
A transferência da Virada Cultural para a Expoagro corre o risco desagradar ainda mais gente. O saldo do que vier, bom ou ruim, é integralmente do prefeito

‘É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de quem procura instrução, queixar-se de si mesmo’

Sócrates, filósofo grego


Dificílimo encontrar alguém, de fora dos mais íntimos círculos do poder executivo municipal, capaz de entender - e, muito menos, explicar - o que aconteceu. Até agora, tudo o que se sabe são seus efeitos imediatos: inacreditavelmente, a edição 2013 da Expoagro não terá a parte artística, com tudo que isso envolve - de shows a parque de diversões e afins -, como sempre aconteceu nas últimas décadas.

É possível especular sobre as consequências mas, com relação à origem do problema, o mistério continua absoluto para quase todo mundo. Por que exatamente o prefeito Alexandre Ferreira e seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Arantes, deixaram para os 55 minutos do segundo tempo, quando o jogo já havia terminado há tempos para quem trabalha com seriedade, a realização da licitação para escolha de uma empresa para organizar a parte artística da Expoagro? De quem foi a ideia de jerico de realizar o certame tão próximo da data da feira? O que exatamente esperava a prefeitura? Houve erro ou negligência de alguém? Neste caso, de quem?

Foram muitos os absurdos que cercaram a preparação da tal licitação que pretendia escolher um organizador para a Expoagro 2013 e que terminou frustrada, sem interessados de peso e, obviamente, sem vencedores. Do meio milhão de reais pedidos antecipadamente a quem vencesse o certame até a exigência de centenas de seguranças certificados pela Polícia Federal (este é o problema, porque simplesmente não existem nesta quantidade com tal pré-requisito), passando pelas milhares de cortesias que tinham que ser destinadas à prefeitura e seus convidados, nenhuma era tão inconsequente quanto os prazos. Simplesmente não daria tempo, por maior que fosse a capacidade financeira, de trabalho ou o entusiasmo do ‘interessado’.

É fácil confirmar tal premissa. Basta olhar o calendário. O edital com todas as regras acima expostas e mais algumas foi lançado pela prefeitura de Franca no dia 9 de março, a pouco mais de dois meses do início da feira. A definição do realizador aconteceria no dia 10 de abril, data em que os envelopes com as propostas seriam abertos, a inconcebíveis 37 dias do início da Expoagro.

Se tivesse havido um vencedor, o sujeito teria pouco mais de um mês para viabilizar os artistas e seus cachês (sempre o primeiro passo, e cujas datas são habitualmente acertadas com muitas semanas de antecedência); alugar as estruturas de palco e camarotes; catracas e sistema de bilhetagem; segurança e ambulâncias; equipes de limpeza; banheiros químicos (são exigidos cem); barracas e pessoal para a praça de alimentação; equipamentos de som e iluminação; campanha de marketing e compra de espaço publicitário nos veículos de comunicação de Franca e região; reserva de quartos nos hotéis da cidade para hospedar centenas de pessoas e de passagens áreas e de jatinhos para artistas, de restaurante para fornecer alimentação para todo mundo, e por aí vai...

Enquanto se ‘divertia’ com tudo isso, o infeliz e sua equipe ainda teriam que lidar com toda a parte burocrática, que compreende alvarás (da própria prefeitura, do juizado da Infância e da Juventude, do Corpo de Bombeiros, ART/Anotações de Responsabilidade Técnica...), taxas e tributos (como Ecad, ISS e semelhantes), os contratos com os artistas propriamente ditos, além das necessárias reuniões com os promotores da Infância e das Pessoas com Necessidades Especiais, com a Polícia Militar, além de, obviamente, depositar meio milhão nas contas da Prefeitura Municipal de Franca.

No tempo que sobrasse, o insano deveria tentar encontrar patrocínios para o evento para ajudar a subsidiar o custo da festa, bem como cuidar da distribuição dos ingressos nos pontos de venda e o consequente acerto financeiro do que fosse vendido, dia a dia.

Frustrada a licitação, a prefeitura, aparentemente alheia com relação a todo o exposto acima, pareceu imaginar que faltavam interessados apenas pela formalidade exigida numa licitação e, mantendo as mesmas regras, abriu novo processo de escolha, desta vez, sem ser ‘licitação’. O que já era impossível ficou quase ridículo porque, considerado o novo prazo, o vencedor teria um mês para organizar tudo. O único interessado, cuja proposta tinha apenas uma página, ofereceu para a prefeitura R$ 50 mil, 10% do que o poder público desejava e oito vezes menos do que a RH Produções pagou pelo direito de organizar a Expoagro em 2012. Obviamente, o processo foi encerrado sem vencedor.

A prefeitura, desde então, está perdida. Primeiro, anunciou que a festa não teria shows e se resumiria à parte artística. A chiadeira foi grande e o humor no paço municipal azedou de vez. Começaram então a trabalhar numa alternativa. A saída encontrada foi transferir a Virada Cultural, que acontece num dos finais de semana da Expoagro e é organizada e bancada pelo governo do Estado, para as dependências do Parque Fernando Costa e, assim, oferecer shows ‘de graça’. O problema é que a grade da Virada Cultural nada tem a ver com o que o público espera da Expoagro. Corre-se o risco de, ao invés de minimizar o problema, desagradar ainda mais gente. Quem queria desfilar suas botas pela Expoagro ao som de sertanejo está irritadíssimo com a ‘alternativa’, enquanto aqueles acostumados ao rock, rap e MPB da Virada Cultural, oferecidos em ambientes menores, também protesta com a mudança de local.

Alexandre Ferreira tem agido com boa velocidade diante da maior parte dos problemas que enfrentou até agora mas, no caso da Expoagro, o escorregão parece inevitável. Há uma grande diferença entre rapidez e afobação. Quando tudo é feito no afogadilho, as chances de problemas ainda maiores são grandes. O prefeito assumiu o risco de fazer uma Expoagro meia boca, organizada às pressas e com muitas gambiarras. O saldo do que vier, bom ou ruim, é de sua inteira responsabilidade.

CORRÊA NEVES JÚNIOR
é diretor-responsável do Comércio da Franca jrneves@comerciodafranca.com.br

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