Amor/humor


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O poema, talvez o menor, brasileiro, seja esse: Amor/humor, de Oswald de Andrade (Do primeiro caderno de um aluno de poesias, 1927), mas é um achado.

Amor é instável, assim o Humor. Não somos rotineiros nas emoções, flutuamos nos estados anímicos. Amor tem humores: muito sério é entediante, mas humor sem amor naufraga a ternura.

Freud dedicou um estudo, em 1905, às piadas corriqueiras que temperam de humor nosso cotidiano. Os seres humanos atenuam seus conflitos, seus dramas, com humor. Rir tem parentesco com o gozo sexual. Há entre amor e humor mais pontes do que a vã filosofia imagina. O palhaço, no circo, detrás da máscara, provoca o riso das deficiências humanas, e até da humilhação. São atitudes pueris, as representadas pelos palhaços, mas inspiram ternura. O palhaço personifica um “ser” que temos, escondido, e o convoca, em adultos e em crianças. A risada geral é reveladora, desmascara o respeitável público (menos o palhaço, que sustenta, a sério, a sua máscara).

Chaplin une Amor ao Humor, de forma universal, através do Vagabundo, que entra e sai de enrascadas, buscando o amor. O personagem sofre perseguições, cria confusões, rimos de suas peripécias sempre românticas, e isso nos relaxa, convocando uma pacificação de sentimentos, como quando acabamos de fazer um amor bem feito, depois das angústias de muitos desencontros.

No Humor e no Amor é o acordo entre o “eu” e o “outro” que faz acontecer o instante mágico, o alívio temporário para os conflitos e desacertos humanos. Sem alguém a compreender a piada ou sem quem aceite e corresponda ao sentimento amoroso, a ponte entre o “um” e o “outro” se rompe - não há graça (em muitos sentidos) e não há alívio.

Não há riso se a piada não é compreendida. Não há amor sem correspondência. No Amor e no Humor há que acontecer o impensável. Quando acontece é tipo o encontro Sol-Lua. Belo, poético, surpreendente, variável, aparentemente igual, mas sempre diferente, o Ocaso.

Em latim, a etimologia da palavra ocaso vem de “morto”, e dá origem às palavras “ocasião” e “ocidente”. Mitologicamente, o deus Rá, egípcio, mergulha no horizonte para acordar os que adormeceram na sua ausência, o ocaso. O riso, acordado, “mata” a charada e instala uma situação social de entendimento mútuo, compreensão íntima. No Amor é preciso morrer o “eu” para nascer o “nós”.

Amor/Humor é a conjugação perfeita da alegria (“a prova dos nove”).

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