Ato falho


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É comum ouvirmos a frase: fulano cometeu um ato falho. Esse ato falho geralmente se refere a um equívoco ao que foi dito, escrito, lido, escutado ou até um esquecimento temporal. Esse “erro” é atribuído com frequência ao estresse, cansaço, falha na memória, etc; contudo, embora esses fatores possam contribuir, é possível que esse ato falho pode estar denunciando a pessoa que o cometeu. O ato falho pode ser uma falha evidente do mecanismo psíquico e pode ocorrer para evitar o desprazer. Ele revela um sintoma de algum tipo de conflito psíquico. Através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado, portanto, pode-se dizer que nenhum gesto, pensamento ou palavra acontece acidentalmente. O ato falho é diferente do erro comum, é um erro na fala, na memória ou ação física causada pelo inconsciente. É objeto de estudo da psicanálise. O ato falho revela a incompletude do sujeito: “penso onde não sou e sou onde não penso” (Lacan); portanto, não há ritual sem falhas. É uma forma de expressar elementos que não seriam aceitos se fossem transmitidos de forma direta.

O ato falho ocorre de forma natural, por exemplo, quando se substitui o nome da pessoa com quem se está conversando por outra, ou quando se chama uma pessoa pelo nome de outra, ou até mesmo quando esquecemos o nome. O motivo real dessa troca ou esquecimento pode ser analisado por um especialista. Veja esses exemplos: A esposa acidentalmente troca o nome do próprio marido pelo nome do amante. Ela reprime, esconde a existência do amante, mas acaba revelando a existência do relacionamento extraconjugal através do ato falho. O marido chama a sua esposa de mãe. Esse ato falho pode revelar que existem sentimentos contraditórios no papel da esposa na relação conjugal com o papel da mãe. Talvez o marido possa desejar ver a sua esposa no papel de mãe e, como não pode dizer abertamente, de forma clara, ele reprime, mas acaba revelando através do ato falho.

Saiba que, por ser humano, não há como ficar livre do ato falho; no entanto, esse mecanismo, se bem analisado pode revelar algo profundo do inconsciente do sujeito. A pessoa que busca análise tem a possibilidade de ir ao encontro dos seus desejos inconscientes, que estão reprimidos, recalcados, mas que se manifestam. O ato falho já colocou muitos políticos em situações embaraçosas. Certamente, você, caro leitor do Comércio, deparou-se com situações embaraçosas em razão dessa falha. Imagina se ao invés de escrever nesse artigo o nome do jornal Comércio da Franca escrevesse o nome do outro jornal local. Seria um ato falho, cuja intenção dependeria de análise para ser interpretada, no entanto, uma coisa é certa, não haveria mais espaço para esse articulista nesse jornal. Será? Talvez sim, talvez não! Isso iria depender de como o interlocutor (diretor, leitor, redator) analisou esse ato falho. Uma coisa, porém é certa. O ato falho manifesta um desejo do inconsciente muitas vezes desconhecido (racionalmente) pela pessoa que o cometeu. O ato falho pode ser uma excelente oportunidade para se conhecer melhor, mesmo que ele te coloque em uma situação embaraçosa. É fato que o ser humano é incompleto e dependente do outro, já que é o outro quem nos identifica. Escrevo nesse espaço, mas é você leitor quem me identifica como articulista.

Acir de Matos Gomes
Advogado e professor universitário

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