Uma noite no Palácio

No imaginário popular, governantes são seres poderosos, sofisticados, cercados de mimos e confortos, que ganham muito e praticamente nada.

24/02/2013 | Tempo de leitura: 5 min

Alckmin é sempre Alckmin. Sorriso permanente, fala pausada, gestos polidos, didatismo nas respostas e uma obsessiva preocupação com a precisão do que diz
Alckmin é sempre Alckmin. Sorriso permanente, fala pausada, gestos polidos, didatismo nas respostas e uma obsessiva preocupação com a precisão do que diz

“Trabalhe em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado”
São Jerônimo


No imaginário popular, governantes são seres poderosos, sofisticados, cercados de mimos e confortos, que ganham muito e praticamente nada fazem além de frustar as expectativas de quem os elegeu. Na percepção do cidadão comum, os tais poderosos vivem em palácios suntuosos e fortemente protegidos, onde os ambientes de muito luxo e ostentação são a regra. A realidade que presenciei esta semana é bastante distinta disso tudo.

Estive na noite da última quinta-feira no Palácio dos Bandeirantes, sede oficial do governo paulista e, além de escritório do governador, também a residência onde mora com sua família. Fui acompanhado pelo repórter de política, Edson Arantes, e pelo repórter fotográfico Marcos Limonti. Tínhamos uma entrevista exclusiva agendada com o governador Geraldo Alckmin, conseguida graças à tradição quase centenária do Comércio, à persistência do Edson e à ajuda do ex-prefeito Sidnei Rocha, que aproveitou um encontro privado com o chefe do Executivo paulista acontecido há algumas semanas para reforçar nosso pedido. Funcionou.

O encontro foi agendado para 19h e, às 18h30, já estávamos na entrada de acesso aos visitantes do Palácio. Mais precisamente, no Portão 2. A burocracia para se entrar no Palácio é mínima. Uns poucos segundos e o acesso é liberado, sem complicação, sem transtornos. Dali, é seguir até um toldo branco onde há um segundo – e último - controle. Duas mulheres, uma delas policial militar, fazem a revista. Segundos depois, já estávamos dentro do Palácio. Literalmente.

Seguimos direto para a subsecretaria de Comunicação, comandada por Márcio Aith, premiado jornalista com passagens por Veja e Folha. É o próprio Aith que nos recebe, num espaço em que adjetivos como “bonito”, “confortável” ou “moderno” são simplesmente inaplicáveis para se definir o ambiente. Em mesas e cadeiras simples, um punhado de profissionais se amontoa. Anexo, a sala do próprio Aith, cuja única distinção é ser fechada.

Se a decoração é espartana, o ritmo de trabalho é intenso. Do lado de fora, integrantes do primeiro escalão concedem entrevista coletiva, de pé mesmo, para dezenas de jornalistas sobre a polêmica da entrada em vigor da nova lei dos motofretistas. Há ameaça de paralisação dos motoboys na Capital e, se isso acontecer, a metrópole acaba estrangulada. Enquanto a entrevista se desenrola, na sala do Aith o assunto é uma reportagem do Comércio, produzida pela repórter Priscilla Sales em parceria com Marcos Limonti, no ano passado, e que mostrou como a China frauda, via Paraguai, as barreiras alfandegárias adotadas pelo governo brasileiro para proteger a indústria. “Foi a melhor matéria sobre triangulação que li”, parabeniza Aith, exemplar do Comércio em mãos. Impossível esconder nosso orgulho.

Fomos então conduzidos por ele para uma sala de reuniões no andar do gabinete do governador. Se Alckmin estivesse com pressa ou impaciente, seríamos recebidos ali. Se déssemos sorte, o governador nos chamaria para seu próprio escritório de trabalho. Às sete e vinte, é o que acontece.

Na porta do gabinete, quem nos recebe é o próprio governador. Quer saber de Franca e se surpreende ao ser informado de que há mais de um ano não visita a cidade. Oferece café, servido em louça simples, e nos convida para sentar num conjunto de sofás estilo Chesterfield. O gabinete é amplo, sóbrio e elegante. Não há qualquer excesso, nenhum ajudante de ordens o acompanha durante a entrevista e apenas Marcio Aith permanece a postos.

Alckmin é sempre Alckmin. Sorriso permanente, fala pausada, gestos polidos, didatismo nas respostas e uma obsessiva preocupação com a precisão do que diz. Nada é aproximado, nenhuma informação é transmitida sem que seus detalhes sejam checados. Muitas vezes, é o próprio governador quem se levanta em busca de um relatório ou planilha. Noutras tantas, pede que as secretárias tragam mapas ou relatórios.

Durante as quase duas horas de entrevista, Alckmin acionaria em cinco momentos distintos, por telefone, secretários de Estado em busca de informações sobre pontos específicos da entrevista. Foi assim ao conferir distâncias que seriam pavimentadas em rodovias da região, ao ser questionado sobre as lojinhas do Leporace ou diante de uma dúvida surgida com relação às negociações entre Estado e Santa Casa.

O governador falou ainda sobre o cenário político, a rotina no palácio, os finais de semana com a família, leituras e, claro, sua relação com Franca. Quer passar um final de semana na cidade para visitar o convento das Carmelitas Descalças, promessa que fez a Fábio Meirelles, presidente da Faesp (Federação de Agricultura do Estado de São Paulo).

Deixamos o gabinete pouco depois das nove da noite. Do lado de fora, um batalhão de gente esperava para conversar com o governador. Na despedida, perguntei a ele se a reunião seguinte seria a última do dia. “Não. Chego às 7h no gabinete e só vou para a ala residencial depois das onze da noite. Ainda tenho muita coisa a fazer”. Pergunto se a rotina não o cansa. “Gosto muito do meu trabalho. Tenho prazer em servir. É como sou feliz”.

Aith nos acompanha de volta até a subsecretaria de Comunicação onde todo mundo ainda trabalha. Ele nos apresenta mais gente da sua equipe e, depois, se despede. Aith ainda tem que participar de uma reunião com o governador. Pergunto a que horas ele vai embora. “Se tudo der certo, lá pela uma da madrugada˜. Quero saber então a que horas ele chega. “Antes do governador começar seu dia”.

Gostar ou não do governador paulista, de suas políticas ou das ações que empreende é prerrogativa indissolúvel que cada eleitor tem. Reconhecer que na mais alta esfera do poder no Estado trabalha-se muito e com afinco é imperativo. Isso eu, Edson Arantes e Marcos Limonti pudemos testemunhar. No palácio onde faltam conforto e aconchego, sobram esforço, seriedade e dedicação de uma equipe que trabalha muito além do que imagina o cidadão comum. E sem reclamar.

CORRÊA NEVES JÚNIOR
é diretor-responsável do Comércio da Franca jrneves@comerciodafranca.com.br
 

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