‘Pancadão’: droga, briga e sexo no Distrito Industrial


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Jovens se aglomeram nas calçadas e no meio da rua Vicente Richinho, no Distrito Industrial, onde nas noites de sexta e sábado se reúnem para beber e usar drogas. Brigas e sexo também fazem parte da rotina na via
Jovens se aglomeram nas calçadas e no meio da rua Vicente Richinho, no Distrito Industrial, onde nas noites de sexta e sábado se reúnem para beber e usar drogas. Brigas e sexo também fazem parte da rotina na via

Uma rua escura, em um bairro industrial de Franca, onde garotos e garotas se encontram em busca de “diversão”. Carros com sons potentes se enfileiram e disputam lugares na via tomada pela multidão. A venda de bebidas alcoólicas não é controlada e o consumo de drogas é explícito. As meninas ficam seminuas, há brigas, sons estridentes, menores de idade e vistas grossas da polícia a tudo que se passa ali. Nas noites de sexta e sábado esta é a realidade na rua Vicente Richinho, no Distrito Industrial.

Quinze de fevereiro, uma sexta-feira, 23h50. A Vicente Richinho está quase deserta. Só se encontra ali um grupo de jovens com suas motos. À 0h15 chega o primeiro carro. É de um rapaz acompanhado de três garotas. Ele aumenta o volume, abre o porta-malas que tem uma luz azul neon e está tomado por alto-falantes. As meninas começam a dançar e rebolam até o chão. Pronto, começa o “baile” funk. Em poucos minutos, a rua está lotada. É hora de mais uma noite do “pancadão”, estilo de festa comum em São Paulo que reúne funk, muita bebida e droga à vontade.

Vários carros vão chegando e causam uma confusão infernal de sons. Rodas de garotos se formam enquanto as meninas ficam no meio dançando e se exibindo com seus micro-shorts e vestidos minúsculos. A cada rebolada, a bunda fica à mostra. Os meninos deliram assistindo à cena. Sem qualquer traço de constrangimento, elas apimentam ainda mais o “show”. No embalo de um funk, uma delas levanta a blusa e mostra os seios para a galera toda ver.

CONSUMO LIVRE
É difícil ver jovens sem alguma bebida alcoólica nas mãos. Cerveja, uísque e vodka são consumidas inclusive por menores de idade. Garotas que aparentam ter no máximo 15 anos fumam e ficam bêbadas e, com jeito provocante, enlouquecem a plateia masculina.

Crack, maconha e cocaína são usadas em grande quantidade. No meio da multidão, um garoto que aparenta ter entre 9 e 10 anos enrola um cigarro de maconha. Ele está com sua turma e ninguém parece ser maior de idade. O menino demonstra prática e, em poucos minutos, está com o cigarro pronto e fuma se exibindo para os outros, no maior estilo “bandido mau”. O Comércio flagrou toda essa sequência (veja as fotos na página ao lado).

Com o “acende, puxa e solta”, o cigarro vai passando de mão em mão até voltar para ele, que queima a última ponta e vai para o meio da turma dançar.

As drogas são vendidas no local a olho nu, sem qualquer disfarce, no meio de todos. Na mesma noite um outro garoto, também aparentando ter 9 anos, faz o chamado “corre”. Ele pega a droga com um grupo de jovens e entrega para os usuários.

As noites dos finais de semana na Vicente Richinho ainda são regadas por sexo e brigas. No decorrer da noite de 15 de fevereiro, foram ao menos três confusões.

ATUAÇÃO
À 1h50, a polícia aparece, cerca de 40 minutos depois de chamada pelo dono de uma empresa da rua. A viatura está sozinha e quando chega ao local liga o giroflex, aciona uma vez a sirene e vai se aproximando devagar. Os sons são desligados e os carros vão deixando a rua livre. Todas as pessoas ficam na calçada e abrem passagem para a viatura, que trafega pela via e só. O ambiente nem fica tenso, ninguém arreda o pé e assim que a viatura chega ao final da rua, recomeça tudo. Carros param no meio da rua, motos são aceleradas, o som é ligado e o asfalto tomado pelos jovens.

Depois da primeira passagem, a polícia é acionada de novo pelo mesmo empresário, às duas horas. Chega meia hora depois. Desta vez, em duas viaturas, mas o procedimento é o mesmo. Os policiais atravessam a rua, olham o que se passa nela e vão embora. Eles não descem e ao virarem a esquina, insultos aos policiais são ouvidos e a festa continua.

Quando já são quatro horas, a polícia aparece com um efetivo maior. De um lado, ficam duas viaturas; do outro, quatro carros da PM fecham a rua, deixando apenas um caminho para o pessoal se dispersar. Ao perceber que a situação ficou mais séria, a correria toma conta do local. Aceleradas, as pessoas esvaziam a rua rapidamente. E foi assim: da mesma maneira que começou - de repente, tudo termina. Em poucos minutos já não há mais ninguém na rua além dos policiais. Eles permanecem no local por dez minutos. Formam um cordão de homens à frente das viaturas e andam livremente pela via, desta vez, vazia.

Um silêncio duradouro toma conta da Vicente Richinho. A estreita rua fica entre a movimentada avenida Wilson Sábio de Melo e a rua Elias Silva, no Distrito Industrial. Na semana seguinte, o local promete receber adolescentes e crianças para protagonizarem cenas que mais lembram a periferia de São Paulo. Mas o palco é uma rua de Franca, que fica a apenas oito quilômetros do Centro da cidade.

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