
A calma do empresário José Antônio Filho, 57, é algo peculiar de sua personalidade. Mineiro de Delfinópolis, ele veio para Franca aos 18 anos e 39 anos depois assume, pela segunda vez, em um intervalo de seis anos, a presidência do clube mais famoso da cidade, o Castelinho. Passado o processo eleitoral tumultuado, marcado por ameaças e até explosão de uma bomba, José Antônio diz que quer trabalhar - a gestão tem duração de dois anos - em prol dos sócios e dar voz aos anseios que têm. “Vou procurar fazer a parte política que é bastante importante, ouvir o sócio e compartilhar com suas necessidades.”
Cauteloso, pretende implantar seu plano diretor para o clube aos poucos, conforme a disponibilidade financeira. Os projetos são variados e têm como objetivo oferecer mais entretenimento e lazer aos frequentadores. De imediato, está promovendo uma restruturação no quadro de funcionários com a contratação de profissionais que possam auxiliá-lo na gestão do Castelinho e uma reavaliação de salários. Uma de suas intenções é melhor remunerar a equipe. Na parte estrutural planeja a construção de novos campos de futebol e uma sauna feminina, além da instalação de câmeras de monitoramento no clube.
José Antônio Filho é casado, pai de três filhas e empresário do ramo de calçados, solados e agropecuário. É sócio do clube há mais de dez anos. Segundo ele, assumir a presidência da AEC Castelinho não era seu desejo pessoal no momento. A falta de tempo em razão dos negócios onde precisa estar à frente era um dos fatores que pesavam contra. “Assumi para atender um pedido do Conselho Administrativo e porque muitos sócios me pediram. Isso é gratificante, pois não ganhamos nada, doamos o pouco tempo que temos.”
Vice-presidente na gestão passada, José Antônio disse que manterá o modelo de trabalho adotado por seu antecessor, mas com ajustes. Com um situação financeira mais tranquila - há apenas uma dívida trabalhista - e uma cartela de sócios em crescimento, o empresário acredita que será mais fácil fazer do Castelinho, com seus quase quatro mil sócios e um patrimônio avaliado em cerca de R$ 150 milhões, um clube espelho para Franca e região. O faturamento estimado para este ano é em torno de R$ 5,5 milhões.
Comércio da Franca - Como e quando começou a relação do senhor com o clube Castelinho?
José Antônio Filho - Sou de Delfinópolis, tenho 57 anos e vim para Franca aos 18. Entrei de sócio em 2000. Como faço amizades rápido e procuro corresponder desde que a pessoa se corresponda comigo, fui criando laços e com o tempo eles foram aumentando. Em 2006, quando tentavam indicar um candidato para a presidência do Castelinho, me convidaram. Aceitei e fui eleito em 2007. Fiquei por dois anos e não quis a reeleição em razão de problemas de saúde. Saí e apoiei o responsável pelo financeiro na época, que era o Clóvis (de Castro, último presidente). Ele foi eleito para o primeiro mandato e depois conseguiu a reeleição. Enquanto isso, continuei na diretoria, como vice dele.
Comércio da Franca - O senhor tem então seis anos como diretor do clube. Acredita que essa experiência facilita na administração?
José Antônio - Ganhei experiência sim. Quando assumi pela primeira vez, o clube estava quebrado. A situação era bastante delicada, mas a minha diretoria foi um divisor de águas, conseguiu enxugar gastos. De lá para cá, o Castelinho se valorizou, aumentou o número de sócios e hoje tem faturamento razoável [o valor estimado para esse ano é em torno de R$ 5,5 milhões]. O Castelinho é um dos melhores clubes da região e o meu intuito é dar sequência na administração que o Clóvis vinha fazendo, não mudar muito a estrutura. Estamos alterando agora a parte humana, contratei um gerente para ser eu aqui dentro no dia a dia. Antes não tinha e nós não conseguimos em seis anos acertar um gerente. Tenho três empresas para cuidar, o que me ocupa bastante o tempo. Só aceitei voltar a ser presidente porque a diretoria me pediu e os sócios também. Quero fazer uma administração mais profissional, com uma equipe melhor remunerada. Minha intenção nesses dois anos é fazer o Castelinho crescer, trabalhar em sintonia com o Conselho Administrativo e, diferente da minha primeira administração, não ficar envolvido com picuinhas, pois temos preocupações maiores para cuidar.
Comércio da Franca - Por que o senhor foi o candidato escolhido da diretoria?
José Antônio - A escolha do meu nome era natural para o momento. Apesar de não ter a pretensão de voltar a ser presidente não houve desconforto da minha parte e o Conselho Administrativo não tinha outro nome que despontasse. O Clóvis, como presidente, não conseguiu agradar a todos, se desentendeu com funcionários e isso trouxe problemas pessoais para ele que acabaram atingindo e prejudicando o nome da entidade simplesmente por ele estar à frente dela, ser o presidente na ocasião. Eu particularmente sou uma pessoa bastante passiva, sei lidar bem com essas situações, faço a parte política que é importante, procuro ouvir o sócio, compartilhar as necessidades, saber entender e aceitar opiniões. Quero fazer uma administração voltada ao sócio.
Comércio da Franca - A eleição foi acirrada e ocorreu por uma diferença de apenas 18 votos. O resultado surpreendeu ou era esperado pela chapa “Amigos do Castelinho”?
José Antônio - A diferença de votos foi pequena realmente, o que significa que os sócios queriam mudança. A outra chapa [a “Renovação”, liderada pelo comerciante Alexandre Abdala] estava mais unida que a nossa, essa é a verdade. O nosso grupo não acreditava na vitória. Inclusive boa parte da chapa de oposição era formada por diretores da minha antiga administração. Houve um racha pelo motivo do Clóvis ser muito autêntico, dinâmico e não ter paciência de esperar. O jeito dele causou um desconforto e alguns membros da nossa chapa foram saindo e formaram a chapa concorrente. Houve muitas divergências, mas como presidente eleito espero não ter problemas. Espero que eles [a oposição] me deixem trabalhar. Quero ser um presidente neutro, ouvir as reivindicações, saber a opinião deles e os projetos que tinham em mente e, se forem válidos, podemos implantar. O cargo de presidente de um clube como o Castelinho chama muito a atenção, mas não sou político e não pretendo seguir na carreira política. Sou natural e transparente no que faço. Trabalho ao lado dos companheiros, mas sei que divergências de bastidores existem. Na gestão passada contornei o ego de vários diretores, então sei lidar bem com isso.
Comércio da Franca - Uma semana antes da eleição, o ex-presidente Clóvis Castro sofreu um atentado a bomba na casa dele. O senhor acha que esse fato teve relação com as eleições? Chegou a ficar temeroso?
José Antônio - Fiquei temeroso sim, mas não sei se tem relação com a minha candidatura ou se é particular [do Clóvis]. Acho que não teve ligação com o fato de eu ser candidato, mas criou uma insegurança na minha família porque a gente quer colaborar com a entidade e às vezes se expõe e cria inimizades, podendo chegar a esse ponto, mas creio que não teve nada de relação com a minha candidatura. Não fui ameaçado, não recebi ligações, somente de amigos meus me questionando alguma coisa, gente da oposição, mas amigos meus, pessoas com quem convivo e tenho bom relacionamento.
Comércio da Franca - Como está o Castelinho atualmente?
José Antônio - O clube está bem, não tem mais dívidas, na verdade tem só uma dívida trabalhista, mas diferente de antigamente agora temos uma receita de caixa que permite tocar e fazer investimentos. Temos vários projetos e também precisamos fazer pequenos reparos. O número de sócios aumentou muito. São hoje 3,8 mil sócios entre patrimoniais e contribuintes e a procura continua, o que é interessante. Só não podemos deixar popularizar demais e encher o Castelinho porque não temos estrutura. Acredito que podemos chegar a 4 mil sócios, o que considero um número expressivo. Depois, a qualquer hora, podemos suspender as vendas e continuar apenas com as reposições dos sócios que não pagam, porque, quando há três meses de atraso, o devedor perde o título e nós precisamos repor. Também queremos dar maior atenção aos sócios patrimoniais, pois são eles que nos ajudam a gerir o clube e são prioridade, principalmente os que estão há mais tempo. Atualmente temos cerca de 1.280 sócios patrimoniais e eles merecem tratamento especial. O Castelinho é espelho para a região, são 11 alqueires e um patrimônio, que, somados os imóveis e terrenos, é avaliado em R$ 150 milhões.
Comércio da Franca - O clube está com as contas organizadas e o número de sócios está em crescimento. Qual a maior preocupação agora?
José Antônio - O maior problema hoje é o assoreamento da represa. Isso me preocupa todos os dias, é uma situação complicada. A represa é o espelho d’água da cidade, que acredito ser o único. Hoje a represa está tomada de terra e outros objetos e nós precisamos resolver, os sócios nos cobram uma solução. Em 2007, quando entrei pela primeira vez como presidente nós desassoreamos a represa [retirada de terra e outros materiais acumulados nela] e agora, cinco anos depois, ela está toda assoreada de novo. A terra que desce do loteamento em construção aqui perto do clube está acabando com o grande cartão postal do clube, não foi feito nada paliativo pelo loteador, não há contenção do material.
Comércio da Franca - O que deve ser feito para salvar a represa?
José Antônio - Teremos que desassorear a represa outra vez e para isso esperamos contar com a empresa loteadora e com o apoio da Prefeitura de Franca. A represa não é benéfica apenas para o clube, ela tem sua importância para a cidade. Durante muito tempo ela segurou a água que provocava aquelas enchentes na região do Galo Branco. Hoje lá existe uma vazão maior, mas a represa não perdeu sua importância. Queremos depois de desassorear novamente, revitalizar aquela área, colocar tirolesa e para isso buscaremos apoio com parceiros que estão conosco.
Comércio da Franca - Além da recuperação da represa, quais os outros planos traçados para sua gestão de agora?
José Antônio - A principal pretensão é o recapeamento do asfalto do clube e mais uma série de projetos. São muitos. Queremos por exemplo cobrir uma quadra de basquete e, se houver condições, colocar cobertura também numa quadra de tênis. Como temos uma demanda crescente de futebol, pretendemos ainda construir dois campos de saibro, pois além de ter uma manutenção menor, permite descansar o campo existente [de grama] na época da seca. No nosso plano de governo traçamos a instalação de uma sauna feminina, pois hoje os homens levam vantagem [a sauna masculina é “emprestada” às mulheres uma vez por semana] e como há um prédio desocupado anexo à sauna masculina podemos criar uma ala para elas. Tem também o projeto para monitorar o clube com a colocação de 28 câmeras em locais estratégicos como a portaria, secretaria, estacionamento, solário e piscina e esperamos, se houver tempo e recursos, melhorar a climatização da sede social, existe até a intenção de ar condicionado.
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