Caminhando no ano litúrgico vamos, pouco a pouco, seguindo Jesus
Hoje ele se manifesta como o profeta do Pai. É aceito por uns, rejeitado por outros. Nele se cumpre a profecia de Simeão: “Este menino será sinal de contradição”. Como profetas do Pai, somos chamados a acolher a salvação como dom de Deus, salvação aberta a todos. Vejamos os ensinamentos da Palavra de Deus.
PRIMEIRA LEITURA —JEREMIAS 1
Talvez Jeremias não tenha nem vinte anos quando percebe o chamado de Deus para ser profeta. É um jovem bom, sensível, inteligente. Deus o escolheu para uma missão difícil e arriscada: anunciar a sua Palavra aos reis, aos governadores, aos sacerdotes e a todo o povo. Como será a vida de Jeremias? Será uma sequência de fracassos. Até mesmo as pessoas mais simpáticas, bem o sabemos, quando iniciam a missão de profeta, são colocadas à margem, criticadas: ninguém mais as tolera.
É surpreendente: o profeta nunca é um personagem aplaudido e elogiado pelas multidões, e menos ainda pelos que retêm em suas mãos o poder. Depois de um primeiro momento em que talvez ainda seja visto com certa simpatia, começa a sentir-se marginalizado, visto com maus olhos, hostilizado e perseguido. Por que acontece isso? Porque o profeta contempla o mundo com os olhos de Deus. Tem o dom de uma acentuada sensibilidade espiritual. Sente-se amargurado quando o povo escolhe os caminhos da morte.
Uma energia irresistível, divina, o impele a erguer sua voz para denunciar o pecado, as opressões, a exploração, as violências e a incompetência daqueles que conduzem o povo à ruína.
Na segunda parte da leitura Deus anuncia a Jeremias o que lhe acontecerá. Não o engana, não lhe promete uma vida fácil. Será, lhe diz o Senhor, como um soldado acorrentado pelos inimigos, como uma fortaleza cercada por um exército sedento de sangue. A leitura termina com palavras de esperança e de conforto. O Senhor anuncia a Jeremias: “Serás atacado, mas não conseguirão vencer-te, pois estarei ao teu lado para proteger-te”. O Concílio afirma que cada cristão é um profeta.
Se pensarmos que nesta luta pela justiça estamos sós, então seremos tentados a desanimar. Sobretudo não devemos esquecer, nas horas de angústia, as palavras dirigidas ao profeta Jeremias; “Não conseguirão vencer-te, pois estarei contigo para livrar-te”.
SEGUNDA LEITURA — 1 CORINTIOS 12
Em Corinto, havia discórdia e inveja por causa dos carismas. Depois de ter afirmado que todos os dons provêm do Espírito e se destinam à edificação da comunidade, Paulo indica para os cristãos um caminho mais excelente que todos: a caridade. Afirma que a caridade é superior a todos os outros dons.
O amor do qual Paulo nos fala é como o de Deus: não encontra o bem, cria-o. É nesta ótica que deve ser interpretada a frase que Jesus repete com frequência: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”. Na nossa maneira de pensar os primeiros são os bons e os últimos são os maus. Deus inverte esta escala: prefere os pecadores, porque mais necessitados do seu amor. Pode alguém ser dotado de excelentes qualidades, tomar retumbantes iniciativas; mas se não for movido pelo amor totalmente gratuito e desinteressado, se for dominado pela vaidade e pelo desejo de promover a si mesmo, não possui a “caridade”.
Na segunda parte da leitura, Paulo fala da caridade como se fosse uma pessoa. Afirma que ela é paciente, suporta a injustiça, não guarda rancor. É amável, sempre disposta a fazer o bem para todos. Não é invejosa, orgulhosa, não falta com o respeito. É desinteressada, preocupa-se com os problemas dos outros. Não cede às provocações, e sempre triunfa sobre o mal. Na terceira parte a caridade é comparada aos outros carismas. Estes acabarão, não serão mais necessários, serão esquecidos, como os brinquedos das crianças que, depois de um certo tempo, não divertem mais e são abandonados; a caridade, ao invés, será eterna, permanecerá para sempre.
EVANGELHO — LUCAS 4
O trecho de hoje deve ser interpretado como o prelúdio que apresenta o destino do Mestre e anuncia o drama da sua morte na cruz. Seus adversários se recusam a aceitá-lo porque se sentem perturbados por sua mensagem, pela sua nova interpretação da palavra de Deus. São também as mesmas razões que conduzem a rejeitar Jesus (e seus profetas) também em nossos dias.
O primeiro destes motivos: conhecem-no muito bem. “É o filho de José”. Tendo a convicção de conhecerem plenamente o seu conterrâneo, em verdade nada sabem a respeito dele. O segundo motivo que provoca a revolta dos conterrâneos de Jesus é que ele não realiza milagres na sua cidade. Se é o Messias, então que se manifeste com gestos extraordinários, como fez Moisés! O milagre é a sua Palavra: ela é que produz os milagres, que transforma a vida das pessoas, das famílias, das comunidades e cria um mundo novo.
A segunda parte do Evangelho de hoje nos apresenta provocação ainda maior. Para explicar o motivo que o leva a não repetir na sua aldeia os milagres realizados em Cafarnaum, Jesus cita os exemplos de Elias e de Eliseu; o primeiro deu farinha e óleo para a viúva de Sidônia, o segundo curou da lepra um oficial da Síria. Estes dois grandes profetas, em vez de ajudar as viúvas e os leprosos do seu povo, foram em socorro de pessoas estranhas. Os habitantes de Nazaré entendem perfeitamente onde Jesus quer chegar: quer dar a entender que a salvação que Deus traz não é um privilégio exclusivo de Israel. As palavras de Jesus irritam a assembleia: são um desafio à mesquinhez e ao acanhamento das suas ideias religiosas.
A justiça de Deus não é como a nossa. Nós nos consideramos justos porque condenamos o malvado; ele é justo porque, com o seu amor, consegue salvá-lo.
José Geraldo Segantin
Pároco da Catedral de Franca - segantin@comerciodafranca.com.br
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