1.001 músicas para ouvir antes de morrer


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Você colocaria Tem Espaço na Van, do Ed Motta, como uma das músicas fundamentais da nossa época? Ou Luz e Blues, do Olodum? Ou Só Tinha de Ser Com Você, com Fernanda Porto?

Bom, a editora Sextante lançou no último setembro o livro 1001 Músicas para Ouvir Antes de Morrer, um volume que vem esquentando o debate musical nos trópicos. O livro é organizado pelo inglês Robert Dimery, mesmo coordenador de 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer, publicado em 2007 pela mesma Sextante. Como naquele caso, não há nenhum crítico, especialista ou jornalista sul-americano da área da música entre os votantes da lista.

A novidade desta nova seleção de Dimery é que ele, ao final das 1.001 canções, faz uma nova lista de 10.001 músicas fundamentais para que as pessoas baixem e ouçam. As canções mencionadas no início desta reportagem estão nessa categoria. Basta uma pequena chacoalhada que a seleção vai sendo questionada até por quem está nela.

‘Não me meto em escolha de ninguém; mas, pra contrariar, sugiro O Motobói e Maria Clara, do disco Tropicália Lixo Lógico (2012)’, brincou Tom Zé, que teve Desafio (dele e de Gilberto Assis, do disco Jogos de Armar, 2003) selecionada.

Na lista das 1.001 canções essenciais, os brasileiros são os clássicos: Jorge Benjor (Taj Mahal), Tom Jobim e Elis Regina (Águas de Março), Mutantes (Minha Menina), João Gilberto (The Girl from Ipanema, com Stan Getz) e Tom Jobim (Corcovado, com Frank Sinatra).

Mas houve pelo menos uma zebra: Let’s Make Love and Listen to Death from Above, do grupo paulistano Cansei de Ser Sexy, está entre as escolhidas. ‘Pegue cinco mulheres bacanas, incluindo a exuberante cantora que veste collant, Lovefoxxx, e um homem com vários talentos e o que você tem? O sexteto brasileiro Cansei de Ser Sexy, cujo nome deriva de uma frase atribuída a Beyoncé’, escreve a londrina Olivia McLearon, escritora obcecada por Madonna.

Entre as regras da seleção está a escolha de músicas que tenham letras (excluindo-se assim as instrumentais) e que abranjam boa parte do século 20. ‘Essas músicas mudaram o mundo’, defende o organizador, Robert Dimery, autor de diversos livros e colaborador de publicações como Time Out e Vogue. ‘A escolha se provou um trabalho hercúleo, com as listas sendo constantemente modificadas, músicas obscuras dando lugar a seleções mais populares, e vice-versa, e naturalmente, mais debates acalorados.’

Em 2007, quando do lançamento de 1001 Discos, Dimery falou com a reportagem. Disse acreditar que a noção de álbum, colocada em xeque pelo comércio de música digital, ainda era importante. ‘Acho que esse lado da coisa não vai desaparecer - basicamente, as pessoas querem baixar música barata e colocar nos seus iPods e muitos deles não estão preocupados com a embalagem. O que, no meu modo quadrado e fora de moda de ver as coisas, é uma vergonha’, afirmou.

Mas, três anos depois, já aderia ao download publicando este 1001 Songs You Must Hear Before You Die: And 10.001 You Must Download, em 2010. Nesse trabalho, contou com prefácio do colecionador, produtor e músico Tony Visconti, que sugere em seu texto: ‘Você realmente deve comprar, roubar, baixar ou pedir emprestadas as 1.001 músicas recomendadas neste livro. Não sei se conseguirei fazer isso um dia, mas, como o título sugere, morrerei tentando’.

Embora precioso do ponto de vista do auxílio historiográfico, o trabalho de Dimery não se pretende de rigor científico. Nessa seleção nova, por exemplo, ele acrescenta um símbolo nas resenhas (uma seta indicativa) que revela que aquela música em questão foi ‘influenciada’ por uma outra. ‘Certamente não estamos sugerindo que os artistas tivessem a intenção de que as músicas ficassem parecidas. Entenda essa parte do livro como uma divertida especulação que sugere uma herança musical comum entre essas duas músicas’.

Ao descrever Taj Mahal, de Jorge Benjor (do álbum Ben, de 1972), o crítico lembra que foi esse riff de guitarra que formou a base de Da Ya Think I’m Sexy?, de Rod Stewart. A atitude de Dimery é simplesmente a de um apreciador da música - que tem a pretensão de não ter preconceitos. ‘Acredito na preservação da identidade musical das diferentes culturas, e não gosto de música que abandona completamente suas raízes’, afirmou.

O leitor vai encontrar de O Sole Mio, de Caruso (da primeira década do século), a Time to Pretend, do MGMT (2008). O leque é amplo: luminares da cultura pop, como Beyoncé e Britney, perfilam lado a lado com astros do universo indie, como Guillemots e Weezer.


CO-FUNDADOR DA ROLLING STONES

Robert Dimery

Os sites e blogs trazem pouco sobre a vida pessoal de Robert Dimery, escritor e editor independente, colaborador de revistas importantes como a Time Out e a Vogue. Inglês que vive em Londres, lançou a moda dos “1001 para ouvir antes de morrer”: depois de 1001 discos, chegou em setembro ao Brasil a tradução para o português de “1001 songs...”. Outro dado se faz notar no currículo deste prestigiado crítico: ele foi co-fundador da célebre revista Rolling Stones, o que, por si só, referenda seu nome em qualquer antologia do gênero ao qual se dedica.

O primeiro dos livros, 1001 albuns you must hear before you die, lançado em 2007, tornou-se referência para fãs e especialistas. Com o objetivo de elencar o que de melhor se produziu entre os anos de 1955 e 2005, em estilos tão diversos como jazz e pop, blues e heavy metal, soul e música experimental, Dimery reuniu 90 jornalistas e críticos de todo o mundo, para a produção de textos e obtenção de imagens. Dele fizeram parte artistas brasileiros como Caetano Veloso, cujo Circuladô recebeu elogios substantivos. O livro trazia letras, autores, informação do contexto e a importância seminal da obra no seio da música popular.

Agora, outra lista. Não mais de discos em seu conceito quase ultrapassado diante dos avanços da digitalização. Mas de músicas importantes para entender o movimento do mundo nas últimas décadas. Jazz, funk, blues, pop, rock, disco, R&B, heavy metal, bossa nova, hip-hop, soul convivem harmoniosamente nas páginas do guia. Escrito novamente por um time de especialistas coordenados por Dimery, apresenta a história das canções, sua ficha técnica completa e resenhas que explicam por que devem ser apreciadas. Dos Beatles a Beyoncé, de Bob Dylan a Kurt Cobain, de Joni Michell a Amy Winehouse, de Tom Zé a Tom Jobim, o leitor encontra algumas obras primas que merecem ser eleitas como aquelas que podem compor a trilha sonora de uma vida. (SM)


Serviço
Título: 1001 Músicas para Ouvir Antes de Morrer
Ano: 1912
Autor: Robert Dimery
Editora: Sextante
Preço: R$ 59,90
Onde: nas livrarias de Franca
 

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