A videira e os ramos


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Uma nova semana nasceu e o domingo, dia do Senhor, abre as portas do coração de Deus que deseja alimentar a nossa vida com sua Palavra

Nós somos os ramos da videira que é Cristo e esses ramos devem produzir muitos frutos saborosos. Vejamos o que a Palavra de Deus nos diz neste domingo: três anos depois da sua conversão a Cristo, Paulo decide empreender uma viagem a Jerusalém. Quer encontrar-se com Pedro e conhecer aquela comunidade que anteriormente havia perseguido cruelmente. Todos sabem que ele mudou completamente a sua vida, entretanto, em relação a ele ainda existe muita desconfiança e antes de acolhê-lo é bom verificar com cuidado a firmeza da sua decisão. Neste ponto intervém Barnabé, um discípulo conhecido e estimado por todos pela sua generosidade e pela sua dedicação à causa do evangelho. Toma-o consigo e o apresenta à comunidade.

PRIMEIRA LEITURA
O ensinamento principal dessa passagem (Atos dos Apóstolos 9) é o seguinte: Paulo, o grande missionário, que anunciou o evangelho pelo mundo inteiro, não trabalhou sozinho, não viveu à margem da comunidade, mas procurou de todas as formas entrar em comunhão com os irmãos de fé e não desanimou diante da desconfiança e das suspeitas dos mesmos.
O comportamento dele deve servir de exemplo. Também nós encontramos dificuldades para entrar e permanecer em comunhão com os irmãos da nossa comunidade: há incompreensões, contrariedades, divergências; às vezes somos até tentados a abandonar tudo e seguirmos caminho por conta própria. A Igreja é composta por homens que têm muito boa qualidades, mas também defeitos. Não obstante. não devemos renunciar à unidade.
Após esse primeiro e difícil impacto com os novos irmãos de fé, logo começa para Paulo um sério conflito com os membros mais fanáticos do seu povo, que procuram até matá-lo.

SEGUNDA LEITURA
Em alguns momentos pode surgir a dúvida: sinto-me unido a Cristo, ou não? Na leitura deste dia (1ª Carta de São João 3) nos é dado um sinal inequívoco para verificar a presença, ou não, do Espírito em nós: as obras do amor. No versículo que antecede imediatamente o texto, João nos manifesta desta forma o seu pensamento: “Se alguém possui bens deste mundo e, vendo seu irmão passando necessidade, lhe fecha o próprio coração, como pode estar nele o amor de Deus?” e conclui: “Filhinhos, amemo-nos não com palavras ou com a língua, mas com fatos e verdade”. O sinal, portanto, de que em nós está presente o Espírito de Cristo, não são as palavras, mas as obras concretas .
Ao analisarmos nossas ações com sinceridade temos que admitir que cometemos erros. De determinados defeitos e de certos hábitos dificilmente conseguimos nos livrar e por isso nos sentimos impelidos ao desânimo, pensando que Deus nos rejeita e que um dia nos condenará. João nos transmite palavra de consolo: se amarmos de fato os irmãos, não devemos temer pelas nossas misérias e tampouco pelo julgamento severo do “nosso coração”.
Também aqueles que ainda não chegaram ao conhecimento de Cristo, se cumprirem obras de amor em favor do ser humano, podem estar certos de terem em si a vida divina.

EVANGELHO
Isaías apresenta (São João 15) a infidelidade de Israel desta forma: um homem tinha plantando uma vinha num outeiro fértil: dedicara-lhe muitos meses de trabalho: tinha antes tirado as pedras e arrancado as ervas daninhas; em seguida plantou-se de cepas escolhidas, que comprara de uma terra distante: edificou uma torre no meio e construiu um lagar... O que mais podia fazer pela sua vinha? Contava com uma colheita de uvas, mas... só produziu uvas azedas!
A videira não é formada só pelo tronco: há também os ramos e são justamente esses que produzem frutos, não o tronco. Jesus é o tronco e os discípulos, os ramos. Um ramo separado da planta, durante um certo tempo, continua vivo, mas, depois de certo tempo, o ramo cortado mostra todos os sinais de morte. O mesmo acontece com aqueles que se separam de Cristo e da própria comunidade: logo cessam de viver e de produzir frutos.
A videira precisa de muitos cuidados. Todos os anos deve ser podada. Os ramos devem ser diminuídos para que a linfa se concentre em poucos ramos, fortes e vivos. Todas as árvores, especialmente quando muito grandes, têm também muitos galhos secos. Referimo-nos imediatamente àqueles cristãos que exteriormente ainda estão unidos à Igreja, que ainda têm seus nomes registrados nos livros da paróquia, mas que conduzem uma vida que é o oposto dos ensinamentos do evangelho. Mas não se pode condenar a Igreja inteira por causa deles.
O tronco da videira é de excelente qualidade e além do mais há muitos rebentos que produzem uvas muitos saborosas. Deus se comporta como o vinhateiro: poda continuamente a sua Igreja. As tesouras que usa são... a palavra de Deus. O cotejo com a pessoa de Jesus e com a palavra de Deus é uma permanente e necessária poda. Ela põe às claras as nossas limitações, as falhas que nos impedem de produzir frutos de amor. Ela revela como são fátuas certas manifestações externas da nossa religiosidade.
A videira não produz uvas para si mesma, mas para os outros, e Deus não é um patrão que colhe o produto, que verifica o seu peso, que vai comercializá-lo no mercado, que verifica as notas e por fim paga a quem trabalhou. O ramo encontra sua própria realização e satisfação exatamente produzindo uvas para os outros.
O cristão não produz obras de amor para ter depois uma “recompensa”. Ele é como o Pai do céu: ama sem esperar nada em troca. A recompensa para o discípulo unido a Cristo é a sua alegria ao verificar que o amor de Deus se manifesta através dele.

José Geraldo Segantin
Pároco da Catedral de Franca - segantin@comerciodafranca.com.br

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