Morreu na manhã de ontem enquanto ainda dormia em sua casa, o joalheiro francano Quequer Luiz Bortolato. Há cinco anos se tratava de enfisema pulmonar e, em função disso, vinha reduzido suas atividades. Não deixou o trabalho, no entanto. Ainda na semana passada, finalizou e entregou a última das joias personalizadas que criou ao longo dos últimos 54 anos.
Era autodidata. Empregou-se aos 15 anos na joalheria Caio Silva, estabelecida na Rua do Comércio, centro de Franca. Seu dom de criar empolgou rapidamente seus contratantes. Quequer não se limitava ao comum. Havia sempre um toque diferente, especial, nas jóias que esculpia. Em resposta, clientes novos, impelidos pelo conhecimento dos trabalhos ‘daquele ourives’, passavam a pedir que fosse dele “o último olhar” nas peças, antes de serem entregues.
Quequer trabalhou na Caio Silva por cerca de 5 anos. Criou, na sequência, sua própria ourivesaria. Seus trabalhos chegaram rapidamente a São Paulo e atraíram a atenção da joalheira H. Stern e de artistas, personalidades públicas e políticas. Uma das responsáveis por levar a arte de Quequer para a capital paulista foi Hebe Camargo, casada à época com o francano Lélio Ravagnani. Em resposta Tônia Carrero e Elizabeth Savalla, dentre muitos nomes do teatro e da televisão, bem como nomes expressivos da alta sociedade paulistana, encomendaram jóias ao artista. Do Brasil ao exterior foi apenas um pulo. Ele teve clientes na Itália, Espanha e Estados Unidos.
Nas décadas de 70 e parte dos anos 80 – Quequer tinha saudade destes tempos onde não havia insegurança e as pessoas podiam ostentar joias originais, de metais e pedras nobres sem grandes riscos – dedicou-se a criar peças com dois ou mais usos (aliança que podia ser usada como aliança e pingente; miniaturas que iam a colares, pulseiras e tornozeleiras; alianças com aplicações que giravam de acordo com a posição da mão etc) tornando essas peças ‘coqueluches da moda’, como se dizia.
De espírito simples e amigo, sempre disposto a conversar com pessoas, continuava atento para produzir ‘novas revoluções’. A partir do final dos anos 80 e início dos 90, ‘lapidou’ o estilo no qual permaneceria o restante de sua carreira vitoriosa. Comprometimento com a personalidade de seus clientes tornou-se algo essencial. Surgiam suas ‘jóias conceituais’. Nos últimos anos produziu, como ‘artesão no ouro’ que se tornou, fivela com detalhada imagem da propriedade rural de seu contratante, utilizando 175 gramas de ouro branco e amarelo.
O caráter e a integridade de Quequer emolduram também sua obra. Podia-se confiar nele quanto a questões de tempo, confiança e contratação de trabalho. Socialmente, era um homem discreto, caseiro. Fez Bodas de Ouro, 50 anos de casamento com Maria José Bernardes Bortolato, em 26 de fevereiro deste ano. O casal teve duas filhas, Silmara, casada com João Geraldo Raimundo Júnior e Sandra. Foram, Quequer e Maria José, integrantes do Lions Club Franca por 10 anos. Foi também, ‘discreta e anonimamente’ como sempre determinou que fosse, presença forte na vida de incontáveis pessoas. Além disso, dos muitos aprendizes que, com ele, aprenderam a profissão, hoje vários são donos de lojas ou vivem exclusivamente das joias que lapidam.
Silmara, sua filha, contou que ‘a dor da partida é imensa’, mas que ‘seus ensinamentos, sua integridade, sua força de pai e amigo, além de suas criações – que permanecerão por todo o sempre –, serão o lenitivo de que precisamos”.
Quequer está sendo velado no São Vicente de Paulo. O sepultamento acontecerá hoje, 10 horas, no Cemitério da Saudade, com serviços da Funerária Santa Bárbara. (LN)
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