
Na noite do dia 19 de abril de 2008, cinco funcionários da CBI Madeiras, de Franca, retornavam de avião à cidade após uma visita a trabalho em João Pinheiro (MG). No trajeto, enfrentaram uma forte tempestade. Relâmpagos e granizo nas nuvens faziam o bimotor balançar muito. Os passageiros tiveram de se segurar nos bancos para se protegerem. Ao passar por Franca, o piloto decidiu arremeter e seguir para o aeroporto de Ribeirão Preto, porque não tinha visibilidade na pista. Por volta das 19 horas, a apenas oito minutos do novo destino, um dos passageiros, o contador e professor Isac Dione Ferreira, 27, ouviu um dos companheiros gritar que o avião estava muito baixo. Neste momento, ele olhou pela janela e viu folhagens batendo no vidro. A aeronave havia caído num canavial, às margens da rodovia Altino Arantes, perto de Batatais. “A gente não tinha noção do que era aquilo, porque estava chovendo e escuro. Todo mundo já estava apreensivo porque não conseguiu pousar em Franca e o avião balançava muito, parecia um liquidificador ligado com coisas sólidas dentro”, disse Isac.
A cena foi revivida por Isac nos últimos dias. A queda do avião que matou o empresário Cássio Signolo Ferrari, 48, e o designer gráfico Fabiano Ferro, 38, na sexta-feira passada, 13, no meio de um cafezal às margens da rodovia Rionegro e Solimões, e a proximidade com o dia 19 de abril, quando completará quatro anos do acidente que sofreu, intensificaram as lembranças. “A cada acidente de avião que vejo, agradeço mais pela minha vida. Fico emocionado e sempre penso que a dor que as famílias das vítimas estão enfrentando poderia ser sentida pela minha.”
Para Isac e o piloto do bimotor, Alair Oliveira, o fato de sobreviverem ao acidente foi um milagre. “Realmente Deus estava lá com a gente, porque foi grave. Poucas vezes um fato desses fica sem vítima fatal. Sinto que foi mesmo um milagre. Não era nossa hora”, disse Isac.
Ele guarda o jornal e fotos do avião destruído, com bancos arrancados, o para-brisa quebrado e o interior totalmente danificado. A aeronave teve perda total e foi vendida para um ferro-velho. Isac comparou as fotos do avião em que estavam com as do que sofreu a queda na semana passada. “As imagens são parecidas e só ajudam a reforçar que foi um milagre. Quem vê as fotos do avião em que a gente estava não acredita que todos se salvaram.” Todo 19 de abril, Isac faz uma festa para a família, como se fosse seu segundo aniversário.
APÓS A QUEDA
Os cinco passageiros voavam num bimotor modelo Seneca II. Alair Oliveira pilotava o avião que tinha como passageiros Isac Dione, Paulo Eduardo Maciel, seu filho Paulo Roberto Maciel e Itamar Pimenta.
Após caírem no canavial, os ocupantes conseguiram deixar a aeronave, exceto o piloto, que estava desacordado e os companheiros pensaram que ele havia morrido. Eles próprios o resgataram. A queda ocorreu a cerca de 200 metros da rodovia Altino Arantes e, orientado pelo barulho dos carros, Itamar chegou até a pista e conseguiu pedir socorro. Os celulares não funcionavam e do local do acidente não conseguiam fazer contato. “Eu estava desesperado. Saí do avião muito zonzo porque tinha batido a cabeça. A gente ficou na chuva esperando o socorro por três horas. Chorei neste momento de desespero”, relembra Isac.
O contador disse que pensou que não iria se salvar. “Temi muito pela minha vida. Lembro que apalpava cada centímetro do meu corpo para ver se estava inteiro. Só tive um corte na cabeça, com sete pontos, o que é irrisório diante do que podia ter acontecido.” O piloto fraturou a bacia e os demais ocupantes sofreram ferimentos leves.
Isac, que estava acostumado a voar a trabalho, só voltou a entrar em um avião neste ano, quando viajou em lua de mel para Porto Seguro (BA) no mês passado. “Tive muito medo da decolagem e pouso. A gente se lembra da queda, ficou marcado. Mas esse acidente me fez mudar. Valorizo cada dia da minha vida e as pessoas que amo, minha família e minha mulher.”
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