Oi moça bonita!


| Tempo de leitura: 1 min

Absorta em pensamentos, o carro e a mente no automático, eu descia a rua lateral do Cemitério central da cidade, quando um sorveteiro, subindo seu pesado carrinho, me saudou: “oi moça bonita!”

Ele não me viu. O vidro com o filtro escuro que, por segurança, todos os carros têm usado, não permite ver a pessoa dentro do carro. Ainda mais ao longe, como ele estava. Eu gosto de guiar o carro, de vidros abertos, para sentir o Vento (este invisível conquistador). Mas este sorveteiro saudou o que, em um relance, pensou ser uma mulher, e, com seus olhos de santo, viu uma moça, e ainda, bonita!

Há pessoas que programam beleza para os olhos, e há os que programam desgraças, como a piada do otimista e do pessimista. O sorveteiro otimista viu moça bonita, e a mulher, nem moça, nem bonita, recebeu o verão do olhar do homem, não sei se moço, não sei se bonito. Eu deslizava em rápidas rodas, afinal.

De bem com a Vida, carrinho na contramão, lento e sorridente, ele ia subindo, no asfalto quente, o seu pesado instrumento de trabalho. Eu fui alinhando o másculo motor do carro com o motor delicado e leve feminino da alma, olhos no retrovisor, a bendizer as palavras ao vento do sorveteiro, na contramão do Tempo.

Aquele Dia, todo ele, ficou moço e bonito nas palavras bailarinas, a dançar nos olhos e ouvidos de quem viu e ouviu: “oi moça bonita!”.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários