Conceitos fora de moda: Honra & Honor


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NÃO se tem ouvido (ou lido) a palavra “honra”. A carne da palavra já não faz algum sentido? Quem adjetiva a si, ou a outrem, como honrado? Quem clama pelo substantivo honra, como uma bandeira, à qual se deve reverência? Quem usa, hoje, do verbo honrar para definir a ação: o compromisso profissional, princípios éticos, o Ideal, afetos significativos, os laços de dívida e gratidão para quem nos favorece, agora ou então?

Na Bíblia honra comparece, e a primeira oração que me vem à mente é “honrar pai e mãe”. Segundo Silveira Bueno, honra é 1. consciência do dever, sentimento de dignidade e respeito. 2. reconhecimento de valor elevado; mérito, respeito. 3. (fig.) castidade, virgindade.

No dicionário Lello de Sinônimos (poético e de epítetos da língua portuguesa) de J.I. Roquete e José da Fonseca há considerações sobre a honra, relacionada com dignidade e decoro: “no que o mundo chama honra há muitas vezes mais vaidade que virtude; no que se chama decoro tem não poucas vezes mais parte a opinião publica que a razão; e no que se chama dignidade domina de ordinário mais a hipocrisia que a sinceridade.”

Onde desaparece o sentido maior da Competência, da Coragem em enfrentar os riscos, não há espaço definido para o conceito de Honra.

Na p. 317, op.cit., há dois termos: honor e honra. “Os nossos antigos mui acertadamente usavam estes dois vocábulos (honor e honra) com distinta significação. Mas os modernos, talvez porque o primeiro cheirava a castelhano, ou entenderam que ambos significavam a mesma ideia, condenaram ao esquecimento o honor, e só usam honra.” (...) Honor significa “independente da opinião publica, qualidade inerente à pessoa”. (...) “perdi meu honor, maldizendo e ouvindo pior”(...) “A honra deveria ser fruto do honor”(...)”Um homem de honor é a honra de sua família. Herda-se o honor, e não a honra”.

O que me remete ao mote de Goethe: “conquista aquilo que herdas dos seus pais”. Conquista-se a Honra, através de ações próprias (honradas segundo o conceito alheio). O difícil é conquistar, para si, o honor, a qualidade a ser assimilada, sendo ou não reconhecida pelos outros.

Hoje nenhum dos dois vocábulos é de linguagem corrente. Não deve ser acaso, já que a linguagem do cotidiano revitaliza e re-significa palavras em “estado de dicionário”, segundo o poeta. O resquício último da palavra honra, está na “Medalha de Honra”, conferida academicamente, mas parece pertencer a um universo distante do dia a dia.

Estamos em uma sociedade onde grassa a corrupção, em que assistimos à Perversão (em gestos, atos, palavras) aceita como natural, e, por força de submissão, omissão, ou indiferença, aceita como imutável. (Desrespeitar filas e sinais de trânsito, comprar objetos “piratas”, subornos “inocentes” ou graves para proteger nossa pele, nosso bolso, nossos interesses pessoais, contra o Bem Comum).

Valores a escorrer pelos ralos. E as palavras mumificadas, frias, famélicas, sedentas de significado, esconsas ao sol da sabedoria e do entendimento. Palavras sem valor, palavras de arquivo. Só a verdade que circula na Poesia, quando ela vem despregada da alma, para poder exibir honor nos seus versos de poetas antigos. Só na poesia eu leio honor.

Quem, hoje, se condiz em morrer honrado? Quem lapida laboriosa, inquieta e solitariamente, a rigor, quem luta contra a corrente pelo seu honor?

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