Preso há 3 meses, acusado rebate: ‘Não sou playboy’


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PRODUTOS DE FURTO - Policiais carregam caminhonete com objetos achados no apartamento que teria sido alugado por Leonardo Engler Pugliesi no Parque Universitário
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Há três meses e uma semana, começava a desmoronar uma das quadrilhas de Franca cujas ações repercutiram por todo Brasil. Foi no dia 24 de abril, que João Paulo Limírio, de 25 anos, e Rafael Rodrigo Rossin, de 20, foram presos. Os dois são acusados de integrar a “gangue dos playboys”, um grupo que, segundo a polícia, é formado por seis rapazes - a maioria de classe média, com pais empresários ou representantes comerciais - que praticavam furtos a residências em Franca e região.

João e Rafael foram presos durante um comando da Polícia Militar na madrugada do sábado para o domingo. Os dois estavam em um Vectra furtado de uma casa assaltada no Residencial Paraíso, bairro onde, um dia antes, outras sete residências foram arrombadas e tiveram dezenas de objetos de valor roubados, entre eles, televisores, joias, relógios, aparelhos eletrônicos e até roupas e perfumes importados. Estimativas da polícia apontam que os jovens teriam levado em torno de R$ 1 milhão em produtos.

A prisão dos dois jovens foi um dos elos que ajudaram a polícia a prender outros acusados de integrar a quadrilha: Leonardo Engler Pugliesi, 19 anos; Thiago Engler Pugliesi, de 24 anos, e Guilherme Rodrigues Alves, de 22 anos. O último acusado de ser integrante do grupo, Eduardo Alves Gera, 23 anos, foi preso na semana retrasada.

Presos no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Franca, João Paulo e Rafael aceitaram falar com o Comércio. A negociação para que eles concedessem entrevista foi feita diretamente com o advogado de ambos à época, Walter Luiz Vilhena, e durou cerca de um mês. A condição imposta pelo advogado para a entrevista foi a de que a conversa não abordasse questões relacionadas aos antecedentes criminais e aos processos que os dois respondem na Justiça Criminal.

Para que a reportagem pudesse entrevistá-los, ainda foi preciso conseguir a autorização da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo; do diretor do CDP, Valter Moreto; e do juiz de Execuções Criminais de Franca, José Rodrigues Arimatéa. Os dois presos também tiveram que assinar um documento dizendo que concordaram com a entrevista e que estavam cientes das perguntas que seriam feitas (uma das exigências feitas pela Secretaria de Administração foi de que a lista de perguntas fosse passada previamente).

Cumpridos todos os trâmites, o encontro aconteceu no último dia 5 de julho, em uma sala da ala administrativa do CDP de Franca, onde seis agentes penitenciários armados ficaram de prontidão o tempo inteiro. Na entrevista, que foi acompanhada pelo advogado e pelo diretor do CDP, os dois acusados alegaram ser inocentes, disseram que não são playboys e que não têm relação com os furtos praticados pela quadrilha. Bem diferente das fotos divulgadas pela polícia, os dois estavam com a cabeça raspada, vestiam blusa e calça marrom claro de presidiários e calçavam chinelos Havaianas. Disseram que tinham recebido as roupas naquele dia.

João Paulo parecia mais à vontade. Falante, disse que já está adaptado à vida na cadeia e falou da sua preocupação com a família. Mais tímido, Rafael foi direto nas respostas, disse que não é playboy e estava visivelmente incomodado com as algemas que prendiam suas mãos. (leia mais em textos nesta página).

No CDP de Franca, ainda estão presos Guilherme Rodrigues Alves, Leonardo Engler Pugliesi e Eduardo Alves Gera. Nenhum dos presos tem contato com outros membros do grupo. Cada um está em um pavilhão sem comunicação com outro. Rafael e João também não se encontraram no dia da entrevista. O diretor Valter Moreto determinou que eles fossem entrevistados separadamente.

JUSTIÇA
Segundo os dados do site do Tribunal de Justiça de São Paulo, até a tarde de quinta-feira, dia 21 de julho, três processos já haviam sido abertos contra os acusados de fazer parte da quadrilha que ficou conhecida como “gangue dos playboys”.

O primeiro deles foi aberto no dia 25 de abril e corre pela 3ª Vara Criminal de Franca. Nele, Leonardo, Thiago, Guilherme, João Paulo e Rafael são acusados de furto qualificado e formação de quadrilha por assaltos a casas do Residencial Paraíso. Segundo o promotor de Justiça do caso, Joaquim Rezende, o processo ainda está na fase de instrução e não tem prazo para ser julgado. No fórum, a reportagem não conseguiu consultar os dados do processo porque ele estava com o juiz. Por conta de sua estratégia de acusação, o promotor também não quis falar sobre detalhes do processo.

O segundo envolve o furto de uma residência no Centro de Franca. Por ele, respondem: Leonardo, seu irmão Tiago, João Paulo e Guilherme. Rafael não está indiciado por este crime, uma vez que não aparece nas imagens obtidas pela polícia que comprovam o uso de um cartão de crédito furtado na residência em compras numa loja de produtos para animais em Ribeirão Preto. O processo também está em fase de instrução.

Há ainda uma terceira ação criminal por acusação de tráfico e associação ao tráfico na qual figuram como réus Leonardo, Thiago e Guilherme.

João Paulo e Leonardo ainda respondem a processos individuais por outros crimes. Rafael é o único dos envolvidos a figurar como réu em apenas um processo, o do furto de residências. Por ter sido preso há apenas duas semanas, o nome de Eduardo Gera ainda não aparece como réu em nenhum dos processos.

As advogadas Solange Secchi Granero, Ana Maria Lima e Angélica Pires Martori, que representam, respectivamente, Thiago, Leonardo e Guilherme, foram procuradas pela reportagem ao longo de dez dias para dar a versão de seus clientes sobre os fatos, mas não foram encontradas em seus respectivos escritórios.

A nova advogada de Rafael Rodrigo, que se identificou apenas como Maria Conceição, não quis comentar o caso.

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