“Bebi a água da careta” ou “você bebeu a água da careta”. Quem se instalou definitivamente em Franca, depois de uma visita ou temporada na cidade, provavelmente já falou ou ouviu uma dessas frases. A referência é dada a uma mina, localizada na Rua Voluntários da Franca, cuja lenda dizia que quem daquela água bebesse, permaneceria na cidade. Para perpetuar a lenda, em 1957, o prefeito Onofre Gosuen ergueu um monumento no local.
Em uma placa de bronze foi gravado um poema alusivo a fonte. À época, um concurso cultural promovido pelo jornal Comércio da Franca escolheu o melhor verso. Ele foi escrito por José Ferreira Linhares. A água da mina passou, então, a sair da boca de uma serpente e cair em uma espécie de cuba. A figura de uma careta foi fixada na cuba. Contam os francanos da época, que a água tinha um sabor desagradável e as pessoas faziam careta ao bebê-la. Talvez essa seja uma das explicações para o nome dado à fonte.
Por quase três décadas o monumento inaugurado por Gosuen permaneceu no local. Porém, a falta de manutenção fez com que o tempo corroesse a cuba e a serpente, que eram feitas com ferro fundido. Já a mina teve seu curso de água interrompido e hoje deságua no córrego dos Bagres. Num período de quase 15 anos, o lugar ficou esquecido.
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A pedido da população, o prefeito Gilmar Dominici (PT) decidiu, em 2001, construir um novo monumento. Recuperou a careta e a serpentina que estavam depositados na Secretaria de Obras e mandou erguer uma parede revestida de azulejo. Ali foi instalado uma espécie de bebedouro. A água passou a ser encanada. Mas não demorou muito para que tudo fosse depredado por vândalos. A Sabesp (Companhia de Água e Saneamento Básico do Estado de São Paulo) cortou o abastecimento no local e a placa de bronze desapareceu. Não há registro dela no Museu e Arquivo Histórico e nem na prefeitura. O atual secretário de Obras e Serviços Ismar Tavares disse que ela foi roubada.
Em 2006, a administração de Sidnei Rocha (PSDB) moldou uma serpente parecida com a original e instalou um novo bebedouro no local. Novamente a ação de vândalos destruiu as peças. A prefeitura quer manter a tradição da fonte, mas estuda instalar a careta em outro lugar da cidade.
Hoje, quem passa pela Rua Voluntários da Franca e olha do lado esquerdo sentido à Praça Sabino Loureiro, vê apenas a parede azul construída na administração de Gilmar. Do original da década de 50, restou apenas a frase “Essa água da careta/tão bela como nunca vi/ quem beber dessa água/ nunca mais sairá daqui”.
Quem viveu os tempos da mina da careta, lamenta seu fim. “É muita tristeza para nós que somos francanos”, disse a museóloga e diretora do Museu Histórico, Margarida Borges Pansani. Historiadora de formação, Margarida também tinha o hábito de beber da água. “Quando era estudante, eu saía do Colégio e tinha de descer a pé para minha casa na Estação. Sempre parava na fonte e tomava da água”, disse.
Professor e historiador, José Chiachiri Filho, 65, disse que durante sua infância brincou muito nas águas da mina. “A molecada saia da escola e ia para lá brincar. Apesar da tentativa do Gilmar de reativar a fonte, o vandalismo nos deixou apenas a lembrança”.
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