Um prédio abandonado e depredado, em pleno centro, na esquina das ruas Campos Sales e Simão Caleiro, esconde uma importante parte da história do ensino em Franca. Construída a partir de 1950, a estrutura abrigou o IFE (Instituto Francano de Ensino), conhecido popularmente como Ateneu Francano. Pioneira na cidade, a escola foi por muitos anos oportunidade de qualificação em cursos de contabilidade para quem não tinha condições estudar fora. Foi a partir dela, dos movimentos estudantis que lá se formaram e do empenho de um dos seus proprietários, o professor Alfredo Palermo, que Franca ganhou duas faculdades: o Uni-Facef e a Faculdade de Direito.
Fundado pelo professor Augusto Marques, em meados de 1920, o Ateneu teve início com o curso de contabilidade em uma casa na Rua Padre Anchieta. O nome foi adotado por conta do livro O Ateneu do escritor Raul Pompéia, publicado pela primeira vez em 1888, que descrevia um internato no Brasil.
A primeira turma de contadores do Ateneu formou-se em 1929. Entre os formandos estava Abdias do Nascimento, ex-político e um dos principais ativistas sociais na luta contra o preconceito racial. Vinte e um anos depois, os novos proprietários, Alfredo Palermo, José Garcia de Freitas e Oliveira Diniz da Silva, mudaram a unidade de local e ampliaram os cursos. Passaram a oferecer a formação de professores de educação infantil e básica, além do ensino médio.
Não há nos registros como funcionou a escola entre os anos de 1942 a 1950. Sabe-se apenas que ela era administrada por Souza Alburiel, francano que morava em Poços de Caldas (MG). Também não há uma data específica de quando o Ateneu fechou as portas. Mas, ao longo da sua história, nomes conhecidos de jornalistas, professores, doutores e políticos de Franca passaram pela escola, seja como alunos ou professores. Lúcia Gissi Ceraso e Otávio Martins de Souza, professores com atuação de destaque em Franca; o jornalista José Cyrino Goulart e os empresários Hugo Betarello e Jorge Cheade estão entre eles.
Relatos de ex-alunos do período em que Palermo, Garcia e Diniz conduziam a unidade, mostram que a instituição teve um papel importante para o surgimento dos cursos superiores. Alfredo Machado Neto, reitor do Centro Universitário Uni-Facef, lembra que a graduação começou nas dependências do Ateneu. À época, o curso de Ciências Econômicas e Administrativas era particular, mas não demorou para que ela se tornasse instituição municipal. “Uma pessoa que participou de tudo isso e merece ser lembrado é o professor Alfredo Palermo”, disse.
Machado foi um dos alunos do curso de técnico em contabilidade. Formou-se em 1968. Ele conta que a sala de aula era frequentada por 30 homens e mulheres, sempre no período noturno. Segundo ele, a escola foi fundamental para seu ingresso no mercado de trabalho. “Participei de um concurso para a Receita Federal e meu conhecimento de contabilidade foi muito útil. Embora precisasse ter graduação - e eu tinha em economia e administração -, minha aprovação se deu por conta da contabilidade”.
Aos 76 anos, Ibrahim Haddad, hoje professor aposentado, lembra do movimento iniciado a partir dos alunos do Ateneu para trazer a Faculdade de Direito a Franca. “Numa noite, embaixo da escadaria, no intervalo das aulas, ouvimos dizer que Ribeirão Preto teria o curso. Foi uma punhalada no coração porque vários cursos já haviam ido para lá”. Os alunos elaboraram um abaixo assinado na escola e em outras unidades de ensino em Franca, entregaram ao prefeito da época, Onofre Gosuen. A iniciativa contribuiu para que, em 1957, fosse criada a Faculdade de Direito.
Ibrahim lembra com nostalgia os tempos em que viveu no Ateneu, entre os anos de 1954 e 1956. “Era uma escola alegre. Muito difícil uma família da época ter um filho que não tenha estudado lá. Posso dizer que grande parte dos profissionais do ramo de contabilidade e que posteriormente se tornaram advogados e professores, estudaram no Ateneu. É uma lástima ter fechado. Uma escola quando se fecha é muito triste”.
O PRÉDIO
Depois de abrigar os cursos do Ateneu, o prédio de dois andares da Rua Campos Sales continuou como unidade de ensino e ofereceu cursinhos para vestibulares e abrigou, ainda, uma escola particular. Nos últimos anos, esteve fechado e foi depredado. Os vidros estão quebrados, a pintura velha e pichada. Nos registros da Prefeitura ainda constam os sócios de 1950 como donos do prédio, mas o local foi vendido e o nome do novo proprietário é desconhecido.
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