A distribuição de um livro contendo um conto sobre sexo causou revolta entre os pais de estudantes do ensino médio das escolas estaduais. O governo estadual doou para alunos do terceiro ano o livro Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século (clique aqui para ler o conto), uma coletânea organizada por Ítalo Moriconi. O conto "Obscenidades para uma dona de casa", escrito por Ignácio de Loyola Brandão, gerou polêmica e indignação entre pais e professores.
O texto narra a história de uma mulher casada que recebia cartas descrevendo cenas eróticas. No final, o autor revela que a própria dona de casa era quem criava os textos como uma forma de extravasar suas fantasias sexuais e enviava para si mesma. As cenas são narradas com linguagem direta.
A pespontadeira AO, 40, que pediu para não ser identificada, foi alertada sobre o conteúdo do livro pela filha de 16 anos, aluna do ensino médio da Escola Estadual “Evaristo Fabrício”. Ela disse que reconhece que os adolescentes têm acesso a conteúdos sobre sexo com facilidade, mas que a escola não deveria distribuir textos como o de Ignácio de Loyola Brandão. “Fiquei muito indignada. É claro que eles vão ver essas coisas na internet, na televisão, na rua, mas partir da escola não acho certo. As livrarias vendem e, se quiserem, eles vão comprar coisas do tipo, mas partir da escola não. A escola tem que falar de sexo sim, mas não com palavras tão obscenas”, disse a mãe, que acredita que o texto pode influenciar provocações entre os estudantes. “Isso pode gerar bullying (agressões físicas ou morais) na escola”.
A dona de casa MFN, 47, é outra que critica a distribuição do livro e sugere que o material seja recolhido. “Fiquei assustada quando li. Achei uma barbaridade. Acho que nem revista pornográfica usa aqueles termos, que são muito pesados”. O filho dela de 16 anos também estuda na Escola “Evaristo Fabrício”. “Falei para meu filho que o livro não deveria estar na escola e ele disse que sou exagerada, mas não concordo. Alguém tinha que ler antes de chegar aos alunos”.
Nas instituições de ensino, o assunto dividiu opiniões. Maria Helena Ramos é professora na rede estadual há dez anos e disse que muitos docentes ficaram surpresos com o conto. “O assunto gerou muita polêmica. Ficamos horrorizados e concluímos ser desnecessário um linguajar tão vulgar. O sexo tem sido abordado desde muito cedo e de maneira muito banalizada, mas nós educadores tentamos falar sobre o assunto de maneira diferente”. Ela é mãe de um adolescente, aluno da rede particular. “Me sentiria agredida se ele recebesse o livro com esse texto na escola. Falo de sexo com ele desde que tinha 8 anos, mas não de forma vulgar”.
Já o professor Antônio Araújo, que trabalha nas escolas estaduais há mais de 20 anos, não se opõe à distribuição do livro e sugere que o texto sirva de incentivo para o diálogo entre os pais e adolescentes. “Não vejo nenhum problema para quem lê o conto no contexto. As frases soltas podem chocar, mas não acredito que tragam influência para os alunos. Não é aquele conto que vai levá-los a praticar. Entre eles mesmos a conversa é até pior. Quem convive com essa moçada de hoje, sabe que aquilo ali é pouca coisa”.
A psicóloga Denise Emília de Andrade, por sua vez, acredita que os estudantes estão preparados para ler esse tipo de produção, mas uma discussão prévia sobre o tema, inclusive com os familiares, seria importante. “Acredito que os alunos estariam aptos a ter esse tipo de leitura se acompanhados de uma discussão prévia entre os pais e professores. A questão da sexualidade tem sido extremamente exposta, mas não discutida. Acho que para usar esse conto, os pais deveriam ter discutido isso, os professores conversarem com eles nas reuniões”.
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.