Baião-de-dois


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Desde que ganhou as ondas do rádio, num tempo que já se distancia célere, Baião-de-dois causou curiosidade no sudeste e no sul brasileiros.
Desde que ganhou as ondas do rádio, num tempo que já se distancia célere, Baião-de-dois causou curiosidade no sudeste e no sul brasileiros.

Luís Gonzaga e Humberto Teixeira podem ter brigado muito na vida. Mas quando se uniram em parceria, criaram canções imortais. Asa branca e Assum preto estão aí, permanentes no repertório dos bons. Quem assistiu à apresentação do Coral da Osesp na Catedral, dia 15 de julho, sabe do que falo. 

 
Da dupla, queria lembrar hoje Baião-de-dois, porque foi a partir desta música, gravada nos anos 50, que o prato referido já no título, e orignário da dieta nordestina, se tornou muito conhecido no resto do Brasil. A letra diz assim: “Capitão, que moda é essa/ Deixa a tripa e a cuié/ Home não vai pra cozinha/Que é lugar só de mulé/ Vou juntar feijão-de-corda/ Numa panela de arroz/ Capitão vai lá pra sala/ que hoje tem baião-de-dois/ Ó baião que bom que sois/ Se o baião é bom sozinho/Que dirá baião-de-dois” . Acho o máximo da verve o uso de sois para rimar com dois. E a combinação da respeitosa segunda pessoa com a irreverência de toda a letra revela bem a medida do gênio. 
 
Desde que ganhou as ondas do rádio, num tempo que já se distancia célere, Baião-de-dois causou curiosidade no sudeste e no sul brasileiros. Que comida era essa afinal, o baião-de-dois? Simplemente arroz com feijão reunidos com pedaços de queijo coalho, prato de resistência no sertão, quando a seca aniquila as plantações e o que resta é o arroz da safra anterior mais algumas vagens que se conseguem colher. O feijão de corda é exatamente a semente desta vagem e também é conhecido como feijão verde.
 
Quando os culinaristas, não mais que há duas décadas, iniciaram suas pesquisas para perfilar a gastronomia brasileira, descobriram que na Paraíba o prato era conhecido como rubacão e em Alagoas por arrumadinho. E mais, de acordo com as regiões, e a partir dos ingredientes básicos, quem o elaborava agregava o que estivesse mais à mão. Pequi no Ceará, lingüiça em Pernambuco, carne seca em Alagoas. Se não tinham coentro, usavam salsa; se não havia pimentão, empregavam tomate; se faltava a manteiga de garrafa, botavam um pouco de toucinho. Mas a essência estava lá: o feijão de corda, o arroz, o queijo coalho. Uma combinação elogiada por nutricionistas, pois a reunião dos cereais fornece importante proteína e o queijo tem entre os seus componentes o cálcio.
 
Quer fazer o prato mas não sabe onde encontrar o feijão de corda? Na feira livre você acha, foi lá que comprei. Se não, pode trocar pelo feijão fradinho, mas o gosto não fica exatamete igual. Nossa receita vem da Paraíba, de onde, acredita-se, vêm também as histórias mais antigas deste prato que tem a cara do nosso povo. Ou não é verdade que nós, brasileiros, adoramos uma mistura?
 
Cozinhe em água e sal o feijão. Prepare o arroz de sua forma habitual. Numa frigideira ou panela grandes frite o bacon em duas colheres de óleo. Frite o alho, refogue o pimentão e a cebola, junte o feijão escorrido e um pouquinho do caldo. Misture o arroz cozido e a pimenta de cheiro. Mexa com jeito, usando um garfo, e reúna o queijo e a salsa. Volte a mexer. Deve ficar bem úmido. Sirva bem quente, de preferência numa vasilha de barro.

Veja o passo a passo: 

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