Nomeado pelo Papa Bento 16 em dezembro do ano passado como terceiro bispo da diocese, Dom Pedro Luiz Stringhini disse ao chegar a Franca que uma de suas prioridades seria apoiar os padres nos projetos para atrair jovens à Igreja. Entre as propostas estavam maior incentivo aos grupos de jovens e fortalecimento da Pastoral da Juventude. Passado seis meses à frente do bispado, Dom Pedro Luiz, como é chamado, cumpre neste domingo parte do que prometeu com a realização da V Jornada Diocesana da Juventude. “Celebrei em três universidades e percebi que os universitários também participam da Igreja, fazem parte dos grupos de oração.
Precisamos mostrar que a Igreja apóia os jovens”, disse.
No evento, que acontece no Complexo Aeroporto com uma caminhada, momentos de reflexão e missa, Dom Pedro falará sobre drogas, estudos, mercado de trabalho, saúde e família e pedirá para a juventude ter mais cuidado no trânsito. Para ele, o número de acidentes envolvendo jovens na cidade assusta.
Ovacionado na missa de posse, que lotou o Ginásio Poliesportivo em fevereiro, o bispo disse também nesta entrevista - realizada sexta-feira no horário do almoço na Cúria Diocesana - que foi muito bem acolhido em Franca e cidades vizinhas, porém afirmou não ter celebrado em todas as cidades da região. “Ainda não rezei em Ribeirão Corrente”.
Defensor da família tradicional, com pai e mãe presentes, Dom Pedro Luiz convidou os fiéis para a Festa Diocesana da Família que acontecerá no sábado dia 28 e lembrou que a família precisa ser sempre valorizada. Sobre os gays, disse que a Igreja nunca fechou as portas a este público. “A Igreja Católica não faz distinção de sexo, cor, condição social. As igrejas não perguntam qual sua opção sexual”.
Em época de eleições, o comandante da Diocese, que compreende 19 cidades, disse ser a favor do plebiscito para limitação das terras e afirmou que o Governo pouco fez pela reforma agrária no País. Nestes seis meses, Dom Pedro rezou missa no Assentamento Boa Sorte, em Restinga, e visitou um acampamento Sem terras em Orlândia. Sempre presente em Brasília, onde atua na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o bispo destacou a Lei da Ficha Limpa e disse que os fiéis não devem se vender nas eleições em troca de favores. “Temos cartilhas de orientação do voto, mas acredito que a maioria das pessoas tem consciência na hora de votar”.
Na entrevista, que durou uma hora e meia, Dom Pedro Luiz também falou que, se houver necessidade, fará novas mudanças de padres, da criação das áreas pastorais que serão transformadas em paróquias e de um polêmico caso de denúncias de abusos sexuais envolvendo adolescentes e o padre Dé, ex-vigário da Paróquia São Vicente de Paula. Ele criticou a lentidão da Justiça: “A Justiça precisa ser mais rápida para sabermos se o padre é culpado ou não”.
Comércio da Franca - O senhor completa em agosto seis meses à frente da Diocese de Franca. Hoje o bispo enxerga a diocese de uma forma diferente de quando chegou?
Dom Pedro Luiz Stringhini - Sim. Penso que em seis meses deu para conhecer muita coisa. Deu para conhecer as paróquias e as comunidades. Constituímos as sete novas áreas pastorais, conheço bem os padres e, ao mesmo tempo, muita gente do povo, forças sociais como os meios de comunicação e o hospital onde fui atendido. Mas ao mesmo tempo vejo que tenho muito a fazer e a conhecer aqui na diocese. Ainda não celebrei (missas) em Ribeirão Corrente e em algumas outras comunidades.
Comércio - Depois deste tempo, o trabalho começa a dar resultado?
Dom Pedro Luiz - Exatamente. Fiquei doente dez dias depois da posse. Mas graças a Deus foi rápida a minha recuperação e pude entrar rapidamente no ritmo. Respeitei aquele tempo que os médicos pediram para trabalhar apenas um período. Devagar fui entrando, meio que sem querer, num ritmo mais intenso, mas sem exagero. Tenho o trabalho na Comissão das Pastorais Sociais da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que me tira um pouco o tempo. Como falo um pouco na rádio, então as pessoas sabem quando estou falando de outras cidades.
Comércio - Em seis meses o senhor criou áreas pastorais na diocese. Há a necessidade de novas paróquias?
Dom Pedro Luiz - Estas sete áreas pastorais eram lugares, igrejas e até municípios que não tinham padres e que hoje já têm. Isto foi um passo. O passo seguinte sim será, canonicamente, se tornarem paróquias. No prazo de seis meses ou um ano se tornarão novas paróquias. Tenho também insistido para que nós façamos uma boa pastoral vocacional, para que tenhamos mais padres. Hoje o número de seminaristas é pequeno.
Comércio - Faltam padres na Diocese de Franca?
Dom Pedro Luiz - A diocese não tem nenhuma paróquia sem padre. Nós temos uma boa cobertura. Mas é claro que um número maior é sempre bem vindo. Nós temos dez seminaristas e ano que vem devemos passar para 18 pelo menos. Temos sim a meta de aumentar o número de vocações e sobre tudo de boas vocações. Por isso existem encontros vocacionais e um acompanhando para que se conheça os candidatos que se propõem a entrar.
Comércio - Na primeira visita a Franca, o senhor disse que um dos focos do seu trabalho seria os jovens e, neste domingo, acontece a Jornada da Juventude na cidade. Como está sendo este contato?
Dom Pedro Luiz - Já estive com os jovens muitas vezes. Crismei e vou crismar muitas turmas de jovens. Estamos organizando, como em todas as dioceses, o setor da juventude. São jovens de diversos grupos e expressões. Há jovens que estão nos grupos de jovens das paróquias, há jovens nas universidades. Pude celebrar em três das universidades. Vejo que há muitos universitários que estão participando da Igreja. Temos este encontro maior neste domingo, 22, que estamos chamando de Congresso da Juventude. Não sou eu que estou organizando, mas vou estar com eles. Vou fazer a caminhada, vou celebrar, porque todo tipo de apoio é importante para a juventude.
Comércio - Dentro deste trabalho com os jovens, qual a mensagem que o bispo quer levar até eles?
Dom Pedro Luiz - Antes de tudo o sentido da vida. Depois perspectivas de vida. Esperança. A noção de que esta realidade das drogas é uma realidade que está destruindo a vida dos jovens. O cuidado com a própria saúde, com o futuro. O cuidado com a própria segurança. Uma coisa que me espanta é a quantidade de jovens que morrem em acidentes. Alta velocidade, embriaguez. Todos estes temas da vida são temas que tocam a família, tocam a juventude.
Comércio - O senhor falou sobre o problema com as drogas. Existe a possibilidade da diocese desenvolver um trabalho de prevenção com a Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes)?
Dom Pedro Luiz - Tenho conversado com muita gente sobre o problema das drogas. Vejo a preocupação de todos, do delegado, da psicóloga, da escola, da Secretaria da Educação. A gente vê todo mundo interessado em dar alguma resposta. Ao mesmo tempo vemos as famílias muito impotentes e a igreja também se sente impotente. Não tem respostas únicas e definitivas. Também pude visitar as casas maiores para dependentes. A diocese quer dar apoio a estes trabalhos que existem. E tudo que puder ser criado para combater as drogas é importante. Estou na expectativa de que o padre Gilson - Padre Gilson Sobreiro, fundador da Fraternidade “Servo dos Pobres” - que está vindo para nossa diocese, e que tem pelo Brasil a fora casas de acolhida, venha ainda neste semestre abrir uma casa de acolhida em Franca.
Comércio - Por falar em família, o senhor acredita que esta instituição está banalizada? A Festa Diocesana da Família, que a Diocese de Franca realiza no sábado dia 28, é para valorizar o modelo de família, com pai, mãe e filhos?
Dom Pedro Luiz - A Igreja é uma família ampliada. É a família feita de famílias. Quando a gente vai celebrar naqueles lugares que só têm idosos ou só mulheres, a gente vê que falta alguma coisa. Quando venho celebrar na Catedral às 19 horas, fico bem impressionado em ver famílias e muitos jovens participando. Nós temos a Pastoral Familiar que busca os diversos aspectos para ajudar a família. Ou seja, a preparação para o matrimônio, aquele que já é casado e aquele que está em dificuldade. Depois temos o ECC, Encontro de Casais com Cristo, que reúne casais nos finais de semana e reflete sobre a vida familiar, sobre a vida eclesial, sobre a vida social. Então a defesa da família é sempre ponto de honra para a Igreja.
O próprio Jesus teve sua família. Jesus, Maria e José formam a sagrada família de Nazaré. A Festa da Família é um pouco a expressão para valorizar a família. Por que agosto é o mês da família. Mas não resta dúvida que uma mentalidade consumista e relativista vai relativizando tudo e colocando muitas vezes o consumo em primeiro lugar. A vida humana vai ficando em segundo plano. Sobre a banalização e o desprezo da família, a gente tem que chamar a atenção sem dúvida nenhuma.
Comércio - E as novas concepções de família? Agora se fala muita sobre casais gays adotarem crianças. Como o senhor vê essa possibilidade?
Dom Pedro Luiz - A Igreja tem dificuldade de entender. É claro que uma criança abandonada na rua que passa a ser atendida por um casal constituído, é muito bom. Mas de repente, pode ser atendida por um homem só, ou por uma mulher só ou até por um casal de pessoas do mesmo sexo. A Igreja não entende e não vê bem que este tipo de união seja colocada no mesmo pé de igualdade que a união entre um homem e uma mulher. A Igreja sempre vai buscar o modelo de família. Não se pode igualar este tipo de união a um casamento. Vamos sempre continuar pautando a família como base da sociedade, o matrimônio como base da família e o amor como base do matrimônio.
Comércio - A Igreja então é contra a adoção de crianças por casais homossexuais?
Dom Pedro Luiz - A Igreja tem tido reserva sim. Seja com o casamento de pessoas do mesmo sexo e também com este tipo de adoção. Entre uma situação ideal e uma criança ser jogada no lixo, claro, o primeiro que tiver sensibilidade tem que socorrer aquele que está caído.
Comércio - As pessoas homossexuais são bem vindas na Igreja Católica?
Dom Pedro Luiz - A Igreja não tem fechado as portas para ninguém. Quando você entra em uma igreja nunca ninguém perguntou sobre idade, sexo, raça, sobre orientação sexual. Sem dúvida, todos são bem vindos. Agora, claro, as exigências do Evangelho são exigências para todos. O amor a Deus, o amor ao próximo, o respeito. E regras de convivência são regras para todos.
Comércio - Como é o trabalho que o senhor desenvolve dentro da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)?
Dom Pedro Luiz - Na CNBB a gente se intera de muitos assuntos. Se tornou uma instância de diálogo para pensar os rumos do Brasil junto com as forças sociais que querem dialogar. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), por exemplo, os parlamentares, os candidatos que agora estão nos visitando. A presidência está recebendo independente do partido. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, pegou. Não é tão fácil. Foram vários desafios e várias etapas. Primeiro para conseguir 1,6 milhão de assinaturas. Elas foram colhidas uma a uma na porta das igrejas, nas ruas, nas esquinas. Depois todo um esforço de pressionar o Congresso para que aprovassem na Câmara dos Deputados e no Senado. Agora, também o acompanhamento e a vigia ao Judiciário para que não libere aqueles que foram impugnados pela lei. Houve uma grande contribuição da Igreja.
Comércio - O senhor é favorável a reforma agrária?
Dom Pedro Luiz - Por exemplo, se 1% dos proprietários detém 49% das terras, isto tem que limitar sim, mas precisa ter o cuidado porque há uma reação ingênua até de pessoas da igreja que dizem “olha o direito humano à propriedade”. Bom, direito humano à propriedade sim, mas olha também o uso social da propriedade. A doutrina social da Igreja aponta os dois lados. Não só para uma e não só para o outro. Repito: 1% dos proprietários ter metade das terras, isto certamente vem de um vício histórico do Brasil.
Comércio - Estamos em época de eleição. Como a Diocese de Franca tem orientado os fiéis para votar?
Dom Pedro Luiz - Nem temos feito este tipo de orientação, mas a CNBB tem cartilhas, tem folhetos que orientam sempre na linha da cidadania, da ética e que é um direito do cidadão participar através do seu voto. Orienta que o cidadão não deve vender o seu voto, de que ele deve votar livremente e nem tem a obrigação de votar em ninguém. O povo de forma geral já está mais conscientizado, mesmo quando as campanhas não se pautam sobre programas e sim sobre ataques. A Igreja nunca pode substituir a consciência de cada pessoa e cada um faz o discernimento devido.
Comércio - Um dos casos polêmicos que o senhor enfrentou assim que assumiu o bispado envolve um padre da diocese acusado de abusos sexuais por menores. Como está o padre Dé?
Dom Pedro Luiz - Ele está aguardando o julgamento. Até gostaríamos que não fosse tão demorado. A Igreja aguarda e o padre também aguarda fazendo o que é possível. Autorizei que ele celebrasse em casa, ele tem o direito de celebrar a sua missa. Nem tem feito de forma evidente, mas tem celebrado. Na serenidade ele está aguardando e com muita expectativa e muita vontade de que seja declarado inocente. Dentro da Igreja, o processo também está sendo elaborado. Está no Tribunal de São Paulo que tem ajudado o Tribunal da Diocese de Franca e espero que demore menos. Se o processo civil demorar tanto, o da Igreja deveria ser um pouco mais célere.
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