O Labirinto do Fauno, o filme, HOJE!


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Ana Regina M. Caldeira, psicanalista pela SBPRP, escolheu a obra-prima para mais um evento de Cinema & Psicanálise, hoje, 19/06, 15 horas, no Centro Médico.


O diretor e escritor Guillermo Del Toro criou um conto de fadas para adultos, gótico, no estilo dos Irmãos Grimm, com a tessitura de um clássico. Violência e sangue se misturam ao mágico, com muita beleza.


Seguimos Ofélia, púbere, no nome se adivinha a tragédia (desde Hamlet, “Ofélias” têm destino sinistro) na viagem em busca da sua origem. Ela vive uma realidade de Terror: seu padrasto Vidal é um franquista, que quer “limpar” a Espanha, em um cenário da Guerra Civil Espanhola. Ela e sua mãe Carmen, grávida, vão a um acampamento militar onde Vidal enfrenta um grupo de anarquistas e comunistas. Vidal, bruto, mau, obcecado pelo pai também militar, carrega um fetiche macabro, o relógio que marcou a hora da morte do pai. Vidal multiplica a morte, ao contrário do que sugere seu nome, espalhando o Terror em sua volta. Quer um filho para a continuidade da saga. Uma cadeia narcísica.


Ofélia inicia outra viagem, interior, fantástica. Encontra um Fauno que revela ser ela uma princesa do Mundo Subterrâneo, e que para ser re-integrada necessita realizar três tarefas (conforme a estrutura do conto de fadas). Os monstros reais e fictícios se mesclam o padrasto e os personagens mágicos (o sapo gigante, o Homem Pálido, o ogro) e Ofélia precisa enfrentá-los e assumir sua nobre origem. A criança (figura central do conto de fadas) precisa aprender a discriminar entre o Mal e o Bem.


O filme retrata a indiferenciação de Ofélia na visão da Realidade e da Fantasia, sua experiência emocional mesclada (e sinistra) em busca de re-conhecer-se. Ela cuida de uma mãe doente, tenta esquivar-se da maldade e perversão do padrasto, vive da sua imaginação. A câmera do diretor exprime a busca, o olhar curioso de criança que não se espanta com o sobrenatural, que enxerga o mundo através de suas fantasias.


A Alice, de Lewis Carrol, vive uma aventura diferente, ela discrimina o sonho da realidade, em cada etapa. A viagem de Alice contém a sua volta.


Ofélia queda no labirinto de sua alma, segue o ambíguo Fauno, figura limítrofe entre o Bem e o Mal. Vagueia entre o Moinho e a magia da Caverna e do Labirinto. Há possibilidade de recriar sua própria origem, a partir do útero da Terra, na Fantasia. Nos dois mundos o sinistro, o terrível.


GDT propõe ao final um raio de esperança, tristemente belo, esplendorosamente delicado, ao som de uma lullaby. Distinguir o Bem do Mal é tarefa digna de uma heroína, e é também nossa, adulta, frente à Perversão dominante na nossa Cultura Contemporânea.


O Fauno representa a Natureza, neutra, embora não acolhedora (Pan, o mitológico fauno, é classicamente representado como o Diabo, símbolo da tentação que devemos superar). Salvar a alma da Perversão de todos os dias é adquirir força de espírito para enfrentar o Terror. Vidal, o padrasto, representa o Terror, o sangue derramado gratuitamente, a sede narcísica de uma genética que reproduza o Mal, a busca sinistra de uma raça superior, que extermine o que a ela se oponha. Diz GDT: “Vidal foi mandado para destruir um grupo de pessoas e ele vai sem sequer questionar quem são ou porque fazem o que fazem. É triste, acredito que existem pessoas que creem poder matar outros “para seu próprio bem”, que ficam em paz, confortados pelas suas crenças.”


GDT fala de 2 tipos de contos de fada, os que ajudam a “lutar contra o Dragão”, os monstros, etc., os que auxiliam a lutar fora do útero materno. E os que nos conduzem ao útero terreno, asfixiante e terrorífico, do qual precisamos sair, para revelar nossa integridade, inteireza de Ser no Mundo.


Diz: “eu sei, de fato, que a imaginação e esperança me mantiveram vivo durante os momentos mais duros da minha vida. A realidade é brutal e o matará, não tenha dúvidas disso, mas nossos contos, criaturas e nossos heróis têm uma chance de viver muito mais do que qualquer um de nós.”


Fé do diretor à obra, mantendo a crença ao que vai além do que nos domina e nos submete, à Arte. Manter a consciência do que precisamos preservar: quem somos, contra, ainda que, além de, apesar do que tenta nos matar de dentro (e de fora) de nós mesmos. Psicanalistas têm fé semelhante.


Quando o filme foi apresentado em 2006, em Cannes, foi aplaudido durante 22 minutos. Esperamos nossa fiel platéia francana, para o aplauso. Vamos todos entrar neste labirinto, e voltarmos acrescidos -dele. Até sábado!

Serviço
Título: O Labirinto do Fauno
Diretor: Guillermo Del Toro
Distribuidora: Warner Bros
Classificação: 16 anos
Onde: Centro Médico/ Sede Campestre,
hoje, 15 horas
 
 
Maria Luiza Salomão
Psicanalista e Psicóloga

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