Médicos e 'pacientes'


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A ética médica volta à discussão. Pela sexta vez modifica-se o chamado Código de Ética Profissional, adaptando-o aos tempos modernos. Louvável, não fosse o corporativismo que continua blindando maus profissionais.

 

A voz do povo – ainda a voz de Deus? – pronuncia-se apavorada: "estamos nas mãos de um número crescente de novos doutores, 'rápidos, frios, capitalistas', capazes de prescrever panacéias que aliviam momentaneamente mas não resolvem os problemas reais que a gente tem".


"Tiram a gente da frente, porque atrás vem gente", disse-me um idoso que vira e mexe vai ao "Janjão", em busca de receitas para "ganhar" seus remédios de uso contínuo, ou "tentar" uma consulta "quem sabe com alguns pedidos de exames laboratoriais" para dores novas que a idade traz dia sim, dia também.


Perguntei-lhe: "e o que acontece?". E ele: "Meu filho, estão cada vez mais rápidos! A gente entra, sentados estão, sentados ficam, olhos baixos. Perguntam: o que você tem? Caramba, estive lá mês passado, mas ele, quando não olha, não sabe que sou eu. Se me tratasse só um pouquinho melhor, talvez eu me sentisse capaz de reagir e até melhorar, mas não".


Tristemente continuou queixando-se das receitas iguais obtidas em consultas diferentes, analgésicos e antinflamatórios que minimizam mas não vão à raiz das doenças. Disse-lhe que contaria sua história e perguntei-lhe se podia me dizer o nome do doutor. E ele "deixa para lá, filho. Pode ser que o doutor nem me atenda mais se souber que lhe contei sobre o jeitão dele. Ou então, pode até fazer alguma coisa contra mim". Corporativismo transverso, diria antiga mestra minha: "o doutor sabe que o paciente nunca vai expô-lo, por medo. E continua agindo assim"!


Outro corporativismo, o classista, é burocrático mas profundamente eficiente. Se um profissional é denunciado, pode ter certeza que todo o processo correrá em absoluto segredo. O Cremesp jamais vai a público comunicar uma punição. E, pior, sabe-se que pouquíssimos são efetivamente punidos. Há casos que se tornam públicos por causa do trabalho da imprensa e da gravidade dos crimes cometidos. Afora isso, nada. Tal e qual faz a Igreja com seus ministros, empurram-no a outra cidade. Lá, continua ele...


Tenho conversado muito com médicos "de outros tempos". São profissionais sempre disponíveis, capazes de encarar o paciente no fundo dos olhos. Suas folhas de serviços e sua clientela bem atendida falam por eles. Alguns, colocados de lado em prol da "moderna medicina" voltam a ser ansiosamente procurados quando falham as técnicas modernas. Já há casos de profissionais que empregam nos consultórios a "secretária da secretária". A secretária veterana, segundo o doutor, "perde o jeito de dizer não" e então, a moça nova "dá o recado com a 'firmeza necessária'".


Neste século XXI, o do marketing de relacionamento, jovens que se formaram médicos querem recuperar o investimento no menor intervalo de tempo possível. Jamais vão entender, mas pacientes precisam muito mais de carinho e um "cadiquim" de dedicação do que das drogas modernas, extremamente caras, que oferecem uma contra-partida financeira – como, aliás, descreveu o colunista Denilson Carvalho neste Comércio esta semana (leia em http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=55355). Aliás, aproveito e digo ao Denilson que já houve uma tentativa corporativa de defesa, olhos fechados à gravidade do fato que ele descreveu.


Interessante. Relendo o que grafei neste texto percebo que escrevi tentando retratar o bom médico, aquele que senta à beira da cama do paciente; que aperta a mão ou diz uma palavra positiva a quem vai a seu consultório; que faz diferença na vida de seus pacientes a ponto de consolidarem, com eles, uma aliança de saúde e amizades vitoriosas. Acabei fazendo o contrário. Há muito mais profissionais desatentos "no mercado da saúde" de hoje do que restam aqueles de quem a gente não se esquece...

 

NENZINHA FRANCHINI
Morreu ontem Maria Aparecida – Nenzinha – Franchini, empresária e fundadora da APAE de Franca. De perfil rápido e objetivo, não perdia tempo em prosas desnecessárias. Comandou, com mão de ferro, junto ao irmão Antônio Carlos, a Franchini e Cia. Ltda, representante Brahma na cidade e vasta região. Recebeu inúmeros prêmios pela capacidade de formulação de negócios. Quando jovem e estudante, integrou equipes de basquetebol, modalidade de adorava. O sepultamento aconteceu ontem mesmo, 17h30, no Cemitério da Saudade, após velório no São Vicente de Paulo.


O PLANETA SE REVOLTA?
Este planeta que todos nós, de uma forma ou de outra, degradamos, começa a se manifestar. Tenho comentado com amigos sobre o quadro de catástrofes seguidas deste ano. Há algumas décadas tínhamos registros de terremotos graves, de mais de 5, 6 ou 7 graus, anos distantes uns dos outros. Agora, em apenas 3 meses e meio, fenômenos naturais atingiram o Haiti, Japão, Peru, Estados Unidos, China, Brasil. Foram terremotos, ciclones, chuvas fortes, deslizamentos, tsunamis, com milhares de mortos. Até o Corcovado, no Rio de Janeiro, rocha pura e terra consolidada registrou deslizamentos que causavam o fechamento das estradas que demandam ao Cristo Redentor. E nem entro no mérito da questão Morro do Bumba, casas sobre lixo com a conivência do poder público que levou "infra-estrutura" até o local. Os espíritas falam em carma coletivo. Os geólogos dizem que estão avisando faz tempo. Os maias, grandes observadores das leis cósmicas, deixaram pistas sobre uma época (2012). Verdade é que o planeta grita. Ontem, novo problema inédito: um vulcão, na Islândia, lançou fumaça capaz de parar o trânsito aéreo em 8 países. Será que ainda dá tempo?

 

Luiz Neto
Jornalista, editor de Opinião do Comércio - luizneto@comerciodafranca.com.br

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