Chico Xavier: do berço ao túmulo


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FELIZES LEMBRANÇAS - Cidália Xavier, única irmã ainda viva do famoso médium, no alpendre de sua casa em Pedro Leopoldo, a 40 quilômetros de Belo Horizonte
FELIZES LEMBRANÇAS - Cidália Xavier, única irmã ainda viva do famoso médium, no alpendre de sua casa em Pedro Leopoldo, a 40 quilômetros de Belo Horizonte

Um exemplo de humanidade e humildade. A definição simples e recheada de sentimento é de Cidália Xavier de Carvalho, 87, única irmã viva do médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, que, se estivesse vivo, teria completado 100 anos no último dia 2 de abril. “Chico foi pai, foi irmão, foi companheiro, foi tudo”, diz, do alpendre da casa antiga onde mora há 60 anos na tranquila e interiorana Pedro Leopoldo (MG), a 40 quilômetros de Belo Horizonte, onde ela vive com a única filha, Meire Rose.


Cidália acha difícil elencar o que mais a marcou no convívio com o irmão morto em 2002. Mas cita uma passagem especial na infância em família católica. “Eu ia participar da coroação de Nossa Senhora e o Chico fez uma canção especial para a ocasião (mesmo não seguindo a religião da irmã). Foi lindo, um sucesso, todo mundo adorou a música. No dia, Chico discretamente me assistiu na coroação. Foi muito emocionante. Isso para mim é o maior exemplo de amor, de humildade”.


Já morando em Uberaba (MG), Chico nunca deixou de visitar sua terra natal. “Ele chegava sempre de madrugada. Lembro sempre do doce que ele mais gostava, chamado sonho cor de rosa. A gente fazia à noite para comer na noite seguinte”, afirmou.


As lembranças de Cidália recuam mais no tempo e ela fala da infância ao lado de um Chico cuidador. “Quando a gente perdeu a mãe, ele ficou no lugar, sempre carinhoso. Eu me lembro muito de quando ele ia passear comigo na linha de trem de ferro, porque eu gostava muito de ver o trem. Eu devia ter uns 5 anos. Ele era bacana demais.”
José Issa Filho, 87, morou na Rua de São Sebastião na mesma época que a família Xavier e ratifica as características narradas por Cidália. “Lembro da paciência do Chico, da risada muito alta - se escutava de longe - e da alegria. Essa menina (Cidália) era das mais novas”. Issa Filho segue descrevendo uma família pobre, de vida sofrida. “A situação financeira era muito difícil. Muita coisa ficou em cima do Chico depois da morte do pai dele. Até o cachorro (de nome Lord, famoso entre a vizinhança) ficou para ele cuidar”, conta.


E Chico cuidava de tudo. A dimensão pode ser expressa na atitude que Cidália diz que teria caso tivesse um encontro com o irmão. “Eu iria ajoelhar e agradecer por tudo, tudo, tudo. Ele foi a minha alegria”.


O comerciante Sérgio Luiz Ferreira Gonçalves, 58, é sobrinho-neto de Chico Xavier (filho de Maria Lúcia e neto de Maria Luiza, irmã de Chico). Fala do jeito mineiro do tio. Corintiano, amante da boa música, piadista de primeira e apreciador de filmes. “Ele conversava sobre tudo: política, futebol, contava piadas. Na música, apreciava Noel Rosa, Roberto Carlos e Dolores Duran. Diariamente lia jornais, seus preferidos eram a Folha de S. Paulo, o Estadão, o Diário Popular e o Estado de Minas. Muitas vezes, aqui (em Pedro Leopoldo), quando ele vinha para cá, e em Uberaba, quando eu estava lá, eu comprava para ele”.


Gonçalves segue listando as preferências do tio. “Ele gostava de assistir filmes alugados nas locadoras. Lembro-me bem que ele gostou muito de ver Jornada nas Estrelas, ET, O Retrato de Dorian Gray, Hangar 18 e filmes épicos em geral”.


VIDA SOFRIDA
Foi ainda em Pedro Leopoldo que, na sala de aula, Chico Xavier dizia fazer textos supostamente “soprados” por seres de outro mundo. Para “espantar o diabo do seu corpo” teve que se submeter a diversos castigos, entre eles rezar milhares de vezes a oração da Ave-Maria, por ordem do padre local, e até de carregar uma pedra de 15 quilos na cabeça durante uma procissão.


A mãe morreu quando ele tinha 5 anos e Chico viveu por dois anos com a madrinha, Maria Rita de Cássia, a dona Ritinha, que, segundo relatos do próprio Chico, costumava espancá-lo. Nas surras quase diárias a madrinha utilizava de varas de marmeleiro até garfos enfiados na barriga. Só com o segundo casamento do pai, em 1917, é que sua vida mudou. A madrasta, Cidália Batista, reuniu e criou, com carinho, todos os seus seis filhos e nove enteados. De todos, apenas Cidália Xavier está viva. André Xavier, outro irmão de Chico, foi o último a falecer, aos 92 anos, em dezembro de 2009 em São Paulo, onde morava.


Aos 17 anos, Chico Xavier passou a colocar no papel as mensagens dos mortos. Estava dada a largada que resultaria em um mito.

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