Recentemente alinhavei um pequeno texto sobre o Evangelho de Tomé (http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=54678), tendo como obra básica de estudo o livro de Humberto Rohden, O Quinto Evangelho - A mensagem do Cristo segundo Tomé.
Hoje pretendo examinar, ainda que de forma perfunctória, o evangelho atribuído a Judas, tendo como base da pesquisa a obra Evangelho de Judas e outros mistérios de Sérgio Pereira Couto, publicada em 2007.
O autor Sérgio Pereira Couto é jornalista, escritor de mais de 20 livros, além de editor e repórter de revistas de ciências. O evangelho atribuído a Judas Iscariotes, assim como os de Tomé, Bartolomeu e Maria Madalena, dentre outros, são chamados de Evangelhos Apócrifos, pois não são reconhecidos oficialmente pelo Cristianismo. No caso específico deste, os escritos foram descobertos na década de 70 num local próximo à cidade de El-Minya que dista mais ou menos 120 quilômetros do sul do Cairo, no Egito. Só foi revelado publicamente em fevereiro de 2006 pela revista National Geographic, que adquiriu os direitos de publicação exclusiva pelo valor de um milhão de dólares.
O manuscrito foi reconhecido por especialistas que o examinaram como pertencente a um período entre os séculos III e IV. Seria cópia de uma versão ainda mais antiga, datada de 150 D.C., originalmente redigida em grego. A obra, encontrada em estado precário, é composta de 26 páginas de papiro, escritas em copta dialectal, que segundo Sérgio Pereira Couto, foi a última forma de escrita utilizada no Egito antigo. Judas Iscariotes era filho de Simão Queriote. Segundo os Evangelhos Canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, Judas foi o discípulo que traiu Jesus. Paradoxalmente o nome Judas deriva do nome hebraico Judá, que significa 'abençoado' ou 'louvado'. Judas, o traidor na versão oficial, depois de Simão Pedro é o discípulo mais vezes citado nos quatro evangelhos reconhecidos pelo Cristianismo (20 vezes).
O manuscrito encontrado deixa claro que Judas foi o discípulo favorito do Mestre. Também foi o único que teve conhecimento da verdadeira identidade Dele. Ao contrário da versão oficial, segundo o autor Sérgio Pereira Couto 'A descoberta de novos textos sagrados pode mudar radicalmente a interpretação que fazemos atualmente das Escrituras Sagradas. O evangelho perdido de Judas Iscariotes, por exemplo, revelaria que a traição, tão pregada pela Igreja, não aconteceu da maneira como todos conhecem, mas sim teria sido uma forma do então discípulo atender a um pedido do próprio Mestre, que queria ser denunciado aos romanos e, assim, cumprir sua missão por meio do padecimento'.
Esse evangelho apócrifo, obviamente, gera polêmica no mundo cristão. A versão de que Judas não teria traído Jesus foi explorada pelo cineasta Martin Scorsese no controvertido filme A última tentação de Cristo.
Minha pretensão não é, seguramente, corroborar ou negar a autoria dos manuscritos como sendo de Judas Iscariotes. Mesmo porque, na versão oficial, Judas teria se enforcado após a crucificação de Jesus. No entanto, entendo que a história não pode deixar de reconhecer que Judas Iscariotes contribuiu, decisivamente, para que Jesus cumprisse a sua missão. Se o fez na condição de traidor, ou se agiu a pedido do Mestre, é questão que deve ser analisada sob a ótica, o ponto de vista e principalmente a crença de cada um.
Setímio Salerno Miguel
Advogado empresarial e professor da Faculdade de Direito de Franca
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