O advogado Odorico Antônio Silva, do Sindicato dos Sapateiros, é um cidadão lúcido, ácido e cáustico, às vezes, mas sempre lúcido. Conheci-o por seus textos sobre a Francana, torcedor apaixonado, cobrador inclemente...
Não vou contar aqui a história de Odorico. Quero falar apenas de duas características da personalidade dele, ambas raras: diz sempre e sem subterfúgios o que precisa ser dito, e... diz sempre o que pensa, mesmo que machuque. Porque raras, estas características assustam. Odorico e eu nos tornamos companheiros de arquibancadas nos jogos da Francana. Fez-se figura conhecida porque sempre expressou, sem papas na língua e sem falsos pudores o que achava dos times, dos jogos, das diretorias do clube.
Muitos ainda se lembram da ojeriza que desenvolveu por um antigo centroavante do time – o Vidotti, que achava, “fazia corpo mole em algumas ocasiões”. Aliás, penso que Vidotti era apenas o mote usado por Odorico para, a plenos pulmões, reclamar de atletas contratados por telefone, do mau uso do dinheiro do clube, de negócios escusos quando de transferências de jogadores etc. E, virava e mexia, além dos altos brados no campo, expressava-se também em texto contundentes.
Ainda é visto em alguns jogos da Francana mas não grita mais. “Cansei. Não adianta!”, diz. Mantém o amor pelo clube. Vai, mas reclama agora com seus botões. Mantêm-se, rotineiramente, dedicado só ao trabalho mas, ressurge um leão, quando algo não lhe atravessa a garganta: se não está bom, porque dizer que está? Ou não dizer nada?
Na quarta-feira desta semana publiquei Migalhas, dele (leia em http://www.comerciodafranca.com.br/materia.php?id=52595). Sem meias palavras, Odorico cobrou: “tentando suprir a falta de consideração e respeito que tiveram todos aqueles que se omitiram em homenagear ou se manifestar em relação à morte do professor Alfredo Palermo, um ícone da cultura francana, tais como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Faculdade de Direito de Franca, a Unesp, a Facef, a Unifran, a Apeosp, a Prefeitura Municipal, a Câmara de Vereadores, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, o IEETC, a Câmara dos Deputados e dos ditos intelectuais ou cultos personagens citadinos e outras entidades consideradas culturais e mais aquelas das quais não me lembro no momento, porque não realizaram nenhuma manifestação e sequer pediram a realização de uma missa pelo sétimo dia”.
Em sua visão pontiaguda, acerta. Reconhecimento é artigo em extinção neste tempo de criaturas desprovidas de emoções. Tem gente que acha que quando alguém faz algo pela cidade – ou por quem precisa – não está fazendo mais que obrigação. “Se tem como fazer, tem mais é que fazer”, disse-me uma dessas criaturas, dia destes, quando contei sobre empresários que, anonimamente, andam pela periferia identificando causas a serem apoiadas.
Este <b>Comércio</b> prestou a Alfredo Palermo, seu colaborador por mais de 60 anos, na ocasião de sua morte, todas as homenagens que pode, mas sabe que ainda foi pouco e que deverá ainda fazer mais, quando surgir oportunidade. Quanto ao reconhecimento à dedicação do professor à cidade para a qual ele fez até um hino e ensinou várias gerações, pouco. Aliás, nada. Odorico, observava. Deixou até passar o tempo para ver se alguém se manifestava, mas, de novo, nada. Não se conteve.
A verdade mais verdadeira de nosso tempo é que as pessoas perderam a capacidade de reconhecer. Instituições acompanharam. Há quem pense que um mestre, quando ensina, “não faz mais do que a obrigação para a qual é pago”. E há quem diga que só Deus pode recompensar devidamente alguém. É mais simples. E menos trabalhoso.
Há outros Alfredos por ai. A maioria nasce, cresce, vive fazendo diferença na vida de tantos e morre, sem que ninguém se lhes perceba, mas isso precisa mudar. Este mundo precisa de modelos, de ídolos. O problema é que nenhum de nós perde tempo em olhar em volta do próprio corpo. Há de mudar, no entanto. Penso que Odorico tenha que reproduzir seu jeito de ser, incendiando um rastilho de pólvora capaz de chacoalhar a mesmice do que está por ai, lembrar que é preciso aplaudir, incentivar, tornar forte e determinante quem se move pelo outro, quem não pensa só em si.
Conforme disse ao início, este texto não o escrevi para falar de Odorico, mas é como se fosse. Não quero nem lembrar que esse mundo velho sem porteiras pode piorar se gente como ele se cansar e deixar de apontar o que precisa ser apontado. Andamos – quase – todos, como os 3 macaquinhos: surdos, cegos e mudos.
<b>AGRADECIMENTOS</b>
Ontem, hoje e amanhã, acontece em Rifaina o Se Liga Verão, promoção do GCN Comunicação para ampliar o conhecimento e divulgar a capacidade turística da cidade de Rifaina, com sua praia artificial, região de ranchos, pousadas etc. Agradeço a gentileza e a competência com que o tte. cel. João Paulo Macedo Brandão Júnior, comandante do 15º BMP/I – e, sob suas ordens, às companhias de Polícia Militar, Rodoviária e de Bombeiros – atendeu ao chamamento, disponibilizando-se a, pessoalmente, coordenar grandiosa operação de segurança aos milhares de visitantes, previstos para estes dias. Até um helicóptero Águia, da PM, fica na cidade para dar suporte e tranquilidade a atividades de resgate e salvamento, se necessário. Agradeço, ainda, ao sub-Delegado Seccional de Franca, Daniel Paulo Radaelli, que, procurado, imediatamente determinou-se a garantir, em Rifaina, plantão permanente da Polícia Civil, desde 16 horas de ontem e até as últimas horas das atividades previstas para o domingo. É, aliás, a primeira vez que a cidade tem plantões permanentes da PC. E é, de longe, o mais representativo esquema de segurança pública já armado naquela cidade, em todos os tempos.
<b>Luiz Neto</b>
Jornalista, editor de Opinião do Comércio - <i>luizneto@comerciodafranca.com.br</i>
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