Muita gente ainda acredita em simpatia nos dias de hoje. Outras pessoas, geralmente as de maior poder aquisitivo, são mais céticas e preferem a farmacopeia científica para combater a queda de cabelos. Ainda bem, porque se todos buscassem o tal de capim-gordura para acabar com a calvície, o ecossistema seria afetado de vez.
Para o cabelo parar de cair, basta pegar uma porção de melinis minutiflora. Calma, não precisa correr atrás de um dicionário de latim, o nome científico é apenas para conferir maior credibilidade à simpatia do pessoal mais antigo. A receita caseira é muito simples e está (ou estaria?) ao alcance de qualquer vivente insatisfeito com a constante queda da proteção cefálica.
Na verdade, estaria! Pois o problema maior hoje fica por conta de se encontrar uma moita de capim-gordura. Antigamente, não. Bastava sair até mesmo a pé e, logo que a cidade acabasse, seria possível encontrar o molasses grass (agora, em inglês, eta capim-gordura!) em qualquer beira de estrada de terra ou de ferro.
Além de ser uma praga, houve uma época em que o capim-gordura arrebentava os tímpanos dos ouvintes de rádio. Tocava sem parar e música só se ouvia pelo rádio! Assim, Luiz Carlos Vinhas fez muito sucesso com este refrão: “O verde da minha roça inté dá gosto de ver / É pura mansidão / Mas tem um tar de capim-gordura oi-á / Que é danado de ruim / Praga pra crescer/ Eu nunca vi assim”...
O capim-gordura atrapalhava a lavoura. Era uma praga. Mas em compensação não havia melhor alimento para o gado. Além de a vaca produzir muito mais leite, a lactose apresentava alta qualidade protéica e cálcica. Cavalo então se lambuzava todo no meio dessa vegetação forrageira e passava a ter um pelo liso e brilhante. A saúde equina era outra. Nem precisava de ração.
No entanto, num repente, introduziram o capim-braquiária no Brasil. Com a devastação do cerrado, esse novo tipo de vegetação virou a praga da vez. Como alimentação bovina, só serve de enchimento. O pecuarista passa a gastar muito mais com suplemento alimentar. Cavalo nem come braquiária. Somente a semente, que não apresenta nutriente calórico nenhum.
Mais uma vez o meio ambiente foi alterado pelo homem. Tanto o capim-gordura, quanto o braquiária são originários da África. A primeira vegetação era muito mais proveitosa para a alimentação de animais. A segunda chegou há pouco tempo – via Estados Unidos – e infestou o solo brasileiro. A tradicional grama também vem perdendo espaço para o invasivo capim-braquiária. Até os canteiros urbanos de avenidas ou praças estão impregnados dessa praga forrageira.
Por isso, quem quiser que os cabelos parem de cair vai ter de ir muito longe para encontrar o capim-gordura. Mas compensa. Ainda mais nesta semana do Meio Ambiente. Geralmente no começo de junho o capinzal ainda se mantém todo florido numa cor roxa bem forte. Chega até doer as vistas. No entanto, a beleza da floração é indescritível. Só mesmo olhando para se extasiar com essa dádiva!
Ah, a receita! Coloque uma porção de capim-gordura em um litro e meio de água e deixe ferver bastante. Espere esfriar, lave a cabeça com sabão de coco e, logo após, enxágue os cabelos com a água do melinis minutiflora. Repita a simpatia por sete sextas-feiras seguidas. Se não valer, pelos menos limpa a cabeça!
Antônio Araújo
Professor de redação - tonin.palavras@uol.com.br
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.