“Posso estar tranqüila assim, mas que eu estou sofrendo, estou. Mas eu fiz a escolha certa. Eu deixei ela viver o tempo dela. O tempo que Deus permitiu que ela vivesse. Chegou o momento. Ele me deu uma jóia, um diamante para eu cuidar e eu cuidei até quando Ele veio buscar”. A frase da dona de casa Cacilda Galante Ferreira, 37, marca a despedida à filha caçula Marcela de Jesus Ferreira, bebê anencefálico (sem cérebro) nascido em Patrocínio Paulista. A criança morreu ontem, às 22 horas, na UTI da Santa Casa de Franca, após sofrer parada cardiorrespiratória em decorrência de uma pneumonia.
Por conta da anomalia, acreditava-se que Marcela teria apenas algumas horas de vida. Mas a criança resistiu e, superando as expectativas médicas, sobreviveu por um ano e oito meses. Ela nasceu no dia 20 de novembro de 2006, em Patrocínio.
Segundo a mãe, Marcela estava bem, mas ontem pela manhã começou, de repente, a passar mal. “Às 7 horas dei o leite para ela (por sonda) e ela vomitou um pouco. Depois voltou a ficar roxa e com falta de ar”. Por volta das 10 horas, a mãe seguiu com a filha para a Santa Casa de Patrocínio. A criança passou por exames que detectaram pneumonia em um dos pulmões. “Ela ficou bem mal. Estava com pneumonia, mas sem febre, sem sintomas. Foi assim, de repente”, disse a mãe.
Às 14 horas, a criança foi transferida para a Santa Casa de Franca, de ambulância, ao lado dos pais, da médica Márcia Barcelos, que a acompanha desde o nascimento, e enfermeiras. No hospital, foi direto para a UTI, onde foi entubada. “O coração estava sempre funcionando bem devagarinho. Essa foi a crise mais forte que ela teve, com certeza”, afirmou Cacilda.
Marcela morreu às 22 horas. Cacilda estava em Patrocínio e voltou para Franca, onde recebeu a notícia da médica da UTI. “Ela não estava respirando direito e vomitando demais. O coraçãozinho parou. Ela foi ficando fraquinha”, disse a mãe.
EXEMPLO
Desde que decidiu prosseguir com a gravidez, mesmo sabendo que a filha nasceria sem cérebro, Cacilda ficou conhecida como uma mãe de fibra e fé inabaláveis. A dedicação à filha caçula era de 24 horas por dia. Ontem, à 1h30, enquanto esperava a liberação do corpo de Marcela, Cacilda falou com a reportagem. Manteve o mesmo semblante de sempre. Calma e firme, comentou a partida da filha e do sentimento de missão cumprida. “Acho que eu sempre estive preparada (para a morte de Marcela), desde quando fiquei sabendo que ela ia nascer assim (sem cérebro)”.
Cacilda ainda não decidiu se voltará a morar no sítio onde vivia com a o marido e as duas filhas mais velhas antes do nascimento de Marcela. O que fará com as roupinhas e outros pertences da filha também só será decidido depois. “Vou ver o que faço. O futuro a Deus pertence”.
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FÉ, ATÉ O ÚLTIMO MOMENTO
Marcela será enterrada vestindo uma camiseta com a imagem de Nossa Senhora, calça jeans e sapatinhos. A camiseta foi um pedido da mãe, devota da santa. Religiosa, Cacilda batizou a filha como Marcela em homenagem ao padre Marcelo Rossi.
A criança será velada no salão Santo Agostinho, em Patrocínio Paulista, onde será enterrada hoje, às 17 horas, no cemitério municipal. Os trabalhos são da Funerária São Francisco.
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