Diante d’Ele ainda se vira o rosto


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Acender velas na procissão das mazelas sociais, vem requerer da mídia um fôlego a mais no processo investigativo da triste realidade com a qual a sociedade se depara. O Comércio da Franca, nesta perspectiva, respira fundo e mostra diariamente as agressões que o corpo social tem sofrido, causa da deformação desse seu rosto, da mesma forma que o rosto de Cristo foi dilacerado. Sexta-Feira da Paixão, um corpo mutilado e um rosto deformado que nem aparência humana tinha mais, graças ao flagelo e, diante do qual, “se vira o rosto”. Pende do madeiro, a Árvore da Salvação, o filho de Deus, Jesus Cristo; o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem! Na cruz, o rosto, o olhar, os pés e as mãos foram transfigurados, perderam todos os seus encantos e o sangue que escorreu pela fronte ocultou sua beleza. Triste analogia essa, o corpo social e o Corpo Celestial se fundem na mesma dor. Impossível deixar de contemplar nos rostos sofredores de nossos irmãos o rosto de Cristo que questiona a complacência daqueles que “diante deles têm virado o rosto”. O sangue que escorre das mãos impiedosas dos abusadores, cuja ignomínia dispara a violência contra crianças, que sofrem dentro de suas casas, é o mesmo que oculta a beleza do Salvador. Espancadas e vítimas de abuso sexual desde o berço. Ora o choro da criança que incomoda, ora a ira contra a vida, tem quebrado seus ossos e provocado fraturas de crânio, pois bater-lhes com a cabeça na parede pode silenciá-los mais rapidamente. Crucificadas estão nossas crianças na prostituição caracterizada como exploração do trabalho infantil, pois a miséria humana não pergunta de onde veio. São rostos sofredores que doem em nós, impossível não percebê-los. Crucificados estão os “velhos”, também chamados idosos, espancados pelas “cuidadoras” (família ou não) até a morte, senão física e moral como foi mostrado na TV em rede nacional. Além da indignação nada mais provocou. Bater em velho deve estar banalizado também. Nenhuma discussão, nenhuma reflexão, sobre a missão de ser “filho” ou “filha”, o que implica em presença, amor e cuidados por parte de quem deles recebeu a vida. Velho é trapo! Diante dele se vira o rosto! Crucificados estão os enfermos nas intermináveis listas eletivas e nas filas da humilhação do SUS, criado como perspectiva de justiça. O que seria uma conquista de direitos acaba sendo um atestado de morte a quem depende do sistema. Nessa longa espera o óbito pode chegar primeiro. “O coração do poeta é um hospital onde morrem todos os doentes”, disse Augusto dos Anjos. Logo, é melhor morrer no coração do poeta do que na fila do SUS. Esta Sexta-Feira Santa precisa ser diferente. A Campanha da Fraternidade, inspirada no Documento de Aparecida, convida a descermos da Cruz e ir com Jesus “às periferias mais profundas da existência: o nascer e o morrer, a criança e o idoso, o sadio e o enfermo”. “Nessa profundeza escondem-se ainda os dependentes de drogas, os detidos em prisões, os migrantes”. As desigualdades sociais ferem não só o corpo social, como o corpo de Cristo, mutilado em razão delas. Clamam pela solidariedade, “como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço”. Clama à classe política e a todos que sentirem-se tocados à visão desse Rosto, que possam manifestar-se em gestos concretos, principalmente na defesa da vida, contra a cultura da morte que a sociedade teima em instalar no meio de nós. Temos um motivo: “Cristo Ressuscitou, verdadeiramente Cristo ressuscitou” e está no meio de nós! Feliz Páscoa.

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