No alto de uma colina, a 90 quilômetros de Franca e 60 de Sacramento (MG), está cravado Desemboque. Um lugar de vida simples e gente de fala mansa. O povoado ainda preserva as características da zona rural, vacas pastam tranqüilamente entre as casas. Em 260 anos de existência, Desemboque pouco evoluiu.
Apesar da idade, o arraial tem apenas uma rua de terra que, de uma ponta a outra, tem aproximadamente um quilômetro. As 26 casas existentes no local se espalham entre os dois lados da via. A comunidade é quase toda formada por parentes.
A vida em Desemboque, que é distrito de Sacramento, já foi bem mais agitada. Os primeiros moradores começaram a chegar há mais de 200 anos, atraídos pelo ouro. No auge do garimpo, chegou a ter 500 pessoas. Elas vinham de todas as partes do País na esperança de ficarem ricas da noite para o dia. Nos anos de garimpo, Desemboque tinha casarões onde moravam os coronéis. O tempo passou. Das primeiras casas, só restaram ruínas. As atuais são bem simples. Todas de paredes brancas. A maioria com portas e janelas de madeira. O piso é de chão batido ou assoalho.
De “grandioso”, em Desemboque, só restam as duas igrejas que resistiram ao tempo. A de Nossa Senhora do Desterro, construída em 1762, e a de Nossa Senhora do Rosário, de 1785. A primeira foi erguida para os “brancos” e a outra, para os “negros”. Uma fica na entrada do bairro e outra, bem no meio. Atualmente apenas na Igreja Nossa Senhora do Desterro são celebradas missas, uma vez por mês com um padre de Sacramento. A do Rosário está vazia há anos e só é aberta quando chega um turista ou historiador interessado em conhecê-la.
Desemboque parece mesmo ter parado no tempo. O único sinal de modernidade por aquelas bandas é a energia elétrica. Celular e telefone não funcionam. TV, apenas com antena parabólica. “Na minha casa, não tem; então, quando dá vontade de assistir, vou à casa de um vizinho”, disse Ana Paula Ferreira, 18.
Todas as residências têm água encanada vinda de um poço artesiano. Por outro lado, não há coleta de esgoto. No local, foram construídas fossas. Apesar de preservar os traços da zona rural, as crianças não precisam se deslocar para a cidade para estudar. No meio do bairro, foi construída uma escola de 1ª a 4ª séries onde estudam 22 crianças. Ao lado, está o campo de futebol construído há seis anos pela prefeitura de Sacramento para proporcionar um pouco de lazer aos moradores.
A cada 15 dias, um médico e uma enfermeira do PSF (Programa de Saúde da Família) visitam Desemboque. Quem precisa de atendimento especializado vai para Sacramento em uma van, único transporte, que passa duas vezes por semana no bairro e cobra R$ 10 pela viagem. Para os atendimentos de rotina, existe um posto de saúde improvisado.
Em frente ao posto, do outro lado da avenida principal, fica um dos imóveis mais antigos do vilarejo, onde foi instalada uma espécie de Casa da Cultura. “A idéia era fazer cursos de artesanato e colocar produtos para vender para os turistas. Mas não deu muito certo e a casa fica fechada”, disse Maria Aparecida Rezende, 32, que é responsável pela limpeza das igrejas e da escola.
Com a Casa da Cultura, os moradores esperavam ganhar algum dinheiro. Não deu. É justamente a falta de emprego o maior problema vivido pela comunidade. Quem não consegue trabalho nas fazendas vizinhas precisa ir embora. “Todas as minhas amigas se mudaram para Sacramento. Também gostaria muito de ir, mas tenho um filho pequeno. O meu sonho era conseguir um emprego de doméstica”, disse Ana Paula, que tem um filho, Jaison, de 2 anos.
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