Chapolin


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Nos tempos de Miguel de Cervantes Saavedra (1547 - 1616), os romances de cavalaria estavam começando a sair de moda, mas armaduras e espadas ainda eram sinônimo de heroísmo. O escritor espanhol criou então Dom Quixote de la Mancha, um anti-herói louco e fracote, uma zombaria caricata a Arthur, Amadis de Gaula, El Cid e companhia. Na década de 70 do século XX, o mexicano Roberto Bolaños, conhecido na sua terra como Chesperito ("Shakespearsinho"), criou o Chapolin Colorado, uma crítica latino-americana bem-humorada dos super-heróis de colam produzidos nos Estados Unidos tais como o Super-Homem, Batman e o Homem Aranha. Chapolin não tinha superpoderes (além das pílulas de nanicolina que o deixavam pequenininho em um ou outro episódio), não era forte nem esperto. "O Chapolin não tinha as mesmas características dos outros super-heróis. Era tonto e medroso, mas enfrentava o medo e sabia acabar com os problemas, e é nisso precisamente que consiste o heroísmo e a humanidade", definiu a atriz e autora de novelas Florinda Meza (que interpretava Dona Florinda). A crítica ao modelo de heroísmo apresentado pelos americanos às vezes era mais ácida, como no episódio "A tribo perdida" em que uma personagem, após Chapolin cometer um erro afirma: "Devíamos ter chamado o Super-Homem ou o Batman". Ao que Chapolin retruca: "Batman não viria, pois está em viagem de lua-de-mel com o Robin. Além do mais, não precisamos desses yankees". Chapolin, cujo nome significa uma espécie de gafanhoto avermelhado que os mexicanos comem frito, não foi, contudo, o personagem da série produzida no México que mais zombava dos vizinhos do norte. Super Sam, interpretado pelo ator Ramón Valdez (Seu Madruga), usava a roupa do Super-Homem, a barba e o chapéu do Tio Sam (personagem que simboliza o patriotismo norte-americano) e carregava um saco de dinheiro na mão. Super Sam, com carregado sotaque americano, não se importava com ninguém, só entrava em ação interessado em ganhar uma grana e repetia à exaustão o jargão capitalista "Time is money!" (Tempo é dinheiro). Nos episódios de Chapolin não raro se montavam sátiras a clássicos da literatura como Fausto, Dom Quixote, Drácula, Guilherme Tell e O Alfaiate Valente, Branca de Neve e os Sete Anões; da História como o Rei Salomão, Júlio César e Cristóvão Colombo; e do cinema como filmes de Chaplin, do Gordo e o Magro, Dançando na Chuva e a Múmia (cuja versão original foi feita em 1932. O de 1999, com Brendan Fraser, é um remake). Chapolin também viria a ser satirizado, ou melhor, homenageado pelo criador do desenho animado Os Simpsons, Matt Groening, que criou o personagem Bumblebee Man (Homem Abelhão), um humorista mexicano que se veste de abelha. Bart Simpson assiste ao programa do Homem Abelhão em vários episódios (quando não está assistindo ao desenho Comichão e Coçadinha, uma sátira a Tom e Jerry, ou ao programa do palhaço Krusty, uma sátira ao Bozo). O anti-herói de Cervantes, o anti-herói de Bolaños e a América Latina que ele representa tem ainda um outro ponto em comum: se aproveitam de sua nobreza.

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