RECEITA

Canjicada

O nome é o mesmo, o ingrediente principal também, a doçura idem, mas o prato não é igual no Nordeste e no Sudeste. Veja a receita de Sonia Machiavelli.

Por Sonia Machiavelli | 19/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Ingredientes:

  • 1 lata de leite condensado
  • 1 lata e meia de milho para canjica
  • 1 lata de leite integral
  • 1/4 de lata de amendoim torrado e moído
  • 1 rama de canela
  • 1 pitada de canela em pó para polvilhar

Pé-de-moleque, pamonha, bolo de fubá, broinhas de amendoim, quentão e outras iguarias que só brasileiros conhecem estão na mesa junina junto a outra delícia irresistível, a canjica. Mas que se esclareça: o nome é o mesmo, o ingrediente principal também, a doçura idem, mas o prato não é igual no Nordeste e no Sudeste. Lá em cima, o que chamam “canjica” é o que conhecemos como curau, feito com milho verde granado, leite de coco, açúcar. Se você quiser comer canjica como a nossa, deve pedir mungunzá, milho branco bem cozido, temperado com açúcar e leite. É uma comida popular e também votiva, dedicada a entes da umbanda.

Essas duas palavras, canjica e mungunzá, já provocaram infindáveis discussões entre sociólogos, filólogos, folcloristas. Gilberto Freyre foi um dos primeiros a se debruçar sobre a origem delas e, por consequência, do prato. Conforme o sociólogo do Recife, a canjica seria prato de procedência nativa, como a moqueca, a paçoca, o beiju, a carne moqueada. Tudo herança dos tupinambás, que habitavam o litoral brasileiro quando os europeus chegaram no começo do século XVI. O recifense concebeu a canjica como derivada do termo tupi “acanjic”.

Entretanto, como não indicou a fonte da explicação etimológica, sua tese não se sustentou. Foi contrariada por filólogos como Nei Lopes, para quem o termo canjica não seria indígena, tendo sido importado da África junto com os escravos. Para atestar o fato, o dicionarista alega que o vocábulo que batiza o nosso prato junino tem origem no quicongo, língua falada no Congo e em Angola. Canjica seria uma metamorfose de “kanzika”, papa grossa de milho cozido que os africanos preparavam com favas em sua terra.  E há ainda uma terceira explicação dada por especialistas que veem canjica como derivação de kanja, comida experimentada na Índia pelos navegantes portugueses que lá estiveram num pedacinho chamado Macau. A canja de galinha também teria essa gênese.

Com berço no idioma tupi, no linguajar de Macau ou no quimbundo falado na região de Angola, a canjica esteve presente na cozinha do Brasil desde os primeiros momentos da colonização. Era consumida como sobremesa, apenas cozida, sem nenhum tempero. Com a chegada da cana e do açúcar, fez-se doce, e muitas vezes a ela se acrescentou o amendoim que os índios ensinaram os portugueses a comer. 

Minha mãe cozinhava canjica, colocava em prato fundo – um para mim, outro para minha irmã. Despejava leite e nós mesmas temperávamos com açúcar. Dizia que era desse modo que comia em sua casa, na mineira Passos, quando menina. Depois fomos aprendendo formas mais requintadas. A disseminação do leite condensado tornou a iguaria ainda mais saborosa e até já encontrei quem coloque também creme de leite. Branquinha é uma delícia. Com o amendoim torrado e moído vira canjicada, como a receita da foto.

O segredo da canjica é cozinhar bastante. O milho deve ficar de molho, depois de lavado e escorrido, por uma noite, no mínimo. Em uma panela de pressão, leve a canjica demolhada ao fogo com 2 e meio litros de água fria, reduzindo o fogo após a fervura. Deixe cozinhar por cerca de 1 hora. Depois de cozida, retire do fogo, deixe sair toda a pressão e abra a panela. Experimente esmagar um grão entre dedos. Se conseguir, a canjica está no ponto. Se ainda oferecer resistência, coloque um pouco mais de água fervente e volte ao fogo.

Assim que estiver super macia, junte o leite condensado e o integral.  Mexa e acrescente o amendoim torrado e moído. Deixe ferver por mais alguns minutos, até ficar cremosa. Despeje em uma tigela funda e sirva polvilhada com canela.

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