
A Câmara Municipal de Campinas iniciou a nova legislatura com um cenário de debates acirrados e desafios estruturais. O presidente do Legislativo, Luiz Rossini (Republicanos), em entrevista à Jovem Pan Campinas, ressaltou que o fenômeno da “nacionalização municipal” — em que discussões federais dominam a pauta local — deve marcar os próximos meses, especialmente com a proximidade das eleições presidenciais de 2026.
"A tendência é voltar [a polarização], talvez não com a mesma intensidade, mas um grau de polarização, sim. Até por conta das próximas eleições presidenciais, que acabam afetando a discussão no âmbito local", afirmou Rossini, lembrando que o ambiente já ficou tenso recentemente na Casa. "Quando a PGR decidiu iniciar o processo contra Bolsonaro por conta do episódio de 8 de janeiro, houve manifestações da esquerda aplaudindo e, depois, defensores do ex-presidente se contrapondo. O ambiente esquentou."
A preocupação do presidente da Câmara é evitar que esses embates políticos desviem o foco das questões locais. "A gente não pode deixar isso avançar para um estágio de ofensas pessoais. O presidente tem que tentar controlar e manter a discussão dentro dos limites toleráveis, éticos e aceitáveis", disse.
Disputas ideológicas podem ofuscar pautas municipais
Rossini alertou que a polarização pode dificultar debates mais profundos sobre questões essenciais para a cidade. "Muitas vezes, problemas que são necessários discutir, debater e aprofundar, ficam meio que relativizados", avaliou. Segundo ele, esse comportamento já foi evidente na última eleição presidencial, quando o debate programático foi praticamente ignorado. "Era um contra o outro, ficou uma polarização burra, do ponto de vista da política."
O presidente do Legislativo também criticou o impacto das redes sociais nesse cenário. "O duro é que isso reflete o pensamento da população. O que fica depois são os likes, os cortes, que as pessoas continuam reverberando." Apesar disso, ele garantiu que a Casa não pode perder o foco das pautas municipais. "Temos que continuar discutindo os problemas que afetam a população de Campinas."
Projetos prioritários: PIDS e nova sede da Câmara
Entre os temas centrais que devem ser discutidos nos próximos meses, o Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS), em Barão Geraldo, e a possível mudança da sede da Câmara para o Palácio da Justiça são destaques.
Sobre o PIDS, Rossini explicou que o projeto visa adequar a legislação urbanística para permitir o desenvolvimento de um polo de inovação e tecnologia na região. "O conceito desse modelo foi resultado de uma consultoria internacional contratada pela Unicamp, e a Prefeitura entendeu que é importante fazer ajustes na Lei 208 para flexibilizar alguns usos e ocupações", disse. O tema é polêmico e gerou grande debate no ano passado, mas deve avançar na nova legislatura. "Foram realizadas duas audiências públicas e agora a Secretaria de Planejamento está ajustando as emendas para enviar à Câmara."
Já a possível transferência da sede da Câmara do bairro Ponte Preta para o Palácio da Justiça, no Centro, segue em pauta. "Sou um defensor dessa tese", afirmou Rossini. "A Câmara já funcionou lá de 1948 a 1970 e hoje, de acordo com estudos, o espaço comportaria a estrutura do Legislativo." A justificativa principal seria a maior acessibilidade da população e a valorização do Legislativo no coração da cidade.
O investimento estimado para a mudança seria de R$ 20 milhões, um valor considerado viável pelo presidente. "Se fôssemos construir uma nova sede, o custo passaria de R$ 100 milhões", comparou. Nesta quinta-feira, um novo passo foi dado com a transferência do prédio oficializada pelo Governo de São Paulo para a Prefeitura de Campinas.
Licitação do transporte e novatos
Outro tema destacado por Rossini foi a licitação do transporte público, um processo aguardado há anos. "Desde 2015, o modelo atual é considerado irregular pelo Tribunal de Contas. Precisamos resolver isso, e o novo edital prevê critérios mais rígidos para garantir um serviço de melhor qualidade para a população", explicou. A proposta inclui mudanças na remuneração das empresas, que será baseada em indicadores de qualidade, reduzindo os incentivos para descumprimentos contratuais.
O presidente também comentou sobre a atuação de vereadores novatos, como Vini Oliveira, que tem se destacado com fiscalizações amplamente divulgadas nas redes sociais. "As ações de fiscalização são legítimas e necessárias, é função do vereador. Mas a forma como se divulga isso gera questionamentos", ponderou Rossini. Ele destacou o episódio da tentativa de abertura de uma CPI para investigar irregularidades em um concurso da Rede Mário Gatti, que acabou sendo retirada após esclarecimentos. "Foi um gesto de maturidade dele reconhecer que o momento não era adequado para a CPI", concluiu.
Com um cenário de debates intensos e grandes desafios estruturais, a Câmara de Campinas inicia sua nova legislatura buscando equilibrar embates políticos com decisões que impactam diretamente a vida da população.
Fundo animal adiado
A Câmara Municipal de Campinas realizou, na noite desta quarta-feira (26), a oitava Reunião Ordinária do ano, mas o principal projeto previsto na pauta, que criaria o Fundo Municipal de Proteção Animal (Fumupa), foi retirado de votação pelo próprio autor, vereador Hebert Ganem (Podemos). A decisão foi tomada para aprimorar o texto antes de ser levado novamente ao plenário.
Com a retirada do projeto, a sessão foi marcada pela aprovação de projetos de denominação de ruas e concessão de honrarias.
O Fumupa tem como objetivo assegurar recursos exclusivos para ações voltadas à proteção e ao bem-estar animal na cidade. A proposta prevê que o fundo financie iniciativas como controle populacional de animais, identificação, apoio a entidades protetoras e campanhas de conscientização sobre guarda responsável.
Uma das principais fontes de arrecadação do fundo será a destinação de multas aplicadas a infratores da legislação de proteção animal, além de recursos de dotações orçamentárias específicas, doações voluntárias e emendas parlamentares.
O vereador Hebert Ganem justificou a retirada do projeto como uma medida para refinar pontos técnicos do texto, garantindo uma proposta mais robusta antes da votação final. “Queremos assegurar que o fundo tenha uma estrutura bem definida e seja eficiente na destinação dos recursos”, explicou.
Ainda não há uma data definida para que o projeto volte a ser pautado no plenário.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.