BAURU - 128 ANOS

Assassinato de Azarias Leite sofreu pressão para ser esclarecido

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Giaxa/Bauru Ilustrado
Praça Rui Barbosa; morte de Azarias impactou política estadual
Praça Rui Barbosa; morte de Azarias impactou política estadual

A morte do fazendeiro impactou a política estadual e nacional ainda que coronéis naquela época fossem assassinados praticamente todos os dias.

Mas houve pressão pelo desvendamento do caso. Tanto que um delegado veio da Capital paulista a Bauru para esclarecer o caso. Falava-se nos jornais locais, por exemplo, que Azarias Leite havia solicitado segurança pessoal ao então secretário de Justiça de São Paulo dias antes de ser assassinado.

Na verdade, ao menos segundo disse o secretário, o fazendeiro foi até São Paulo para questionar se o delegado de quem era aliado em Bauru seria de fato transferido - neste caso, aí sim, temendo por sua segurança -, mudança que acabou não se concretizando.

"A julgar por essa comunicação, as pesquisas estão bem encaminhadas e a polícia, orientada para esclarecer o fato com todas as circunstâncias que o rodearam", disse o Estado de S. Paulo em 21 de outubro de 1910, um dia após a morte do coronel.

O autor do crime foi preso em 25 de outubro e descrito como "o preto" - o País acabara de abolir a escravidão - Joaquim Honorato Pereira. Ele não mostrou resistência e disse quem eram os mandantes, entre eles um subdelegado.

Mas uma queixa-crime que a viúva Vicentina Ferreira Leite enviou à Justiça mostrou: os mandantes, na verdade, eram testas de ferro do verdadeiro responsável por encomendar o crime: um juiz de direito da Comarca de Agudos, receoso pela iminente transferência da região do Poder Judiciário.

Coronel da região foi assassinado a mando de juiz 

Se há elementos que apontem para um juiz como mandante do assassinato de Azarias Leite, em 1910, já restou comprovado que um dos coronéis da região - o Tonico Lista, de Santa Cruz do Rio Pardo (98 quilômetros de Bauru ) - também foi morto a mando de um magistrado.

Lista já era rico, dominava a política e a ele eram atribuídos, sem provas, crimes que aconteciam na comarca. Pouco importavam os prefeitos nomeados, já que todos eram indicados por Tonico a partir de 1906.

Foi quando chegou à cidade um juiz jovem disposto a exercer a justiça com independência, cuja atuação Tonico não gostou. Mesmo assim, avisado por alguns amigos, decidiu visitar o coronel e até confrontá-lo.

O primeiro encontro foi cordial, mas dias depois houve uma discussão ríspida. O coronel, então, deu 24 horas para o jovem juiz deixar Santa Cruz. Partiu - mas onze anos depois voltaria indiretamente para assassinar o coronel.

Era 8 de julho de 1922. O coronel Lista cumpria seu ritual diário de ir à venda de seu amigo Mizael de Souza Santos, o "Zaeca", onde costumava tomar café e ler jornal. De repente, um soldado da Força Pública entra, bebe uma pinga, sai pela rua e retorna novamente. Tonico percebe algo estranho, mas não teve tempo.

Segundos depois, ele é mortalmente alvejado a tiros. Não morreu na hora, mas não suportou a viagem de trem para São Paulo, em busca de recursos médicos. Terminava ali a história de um dos vultos mais fascinantes da história da região. O mandante teve graves perturbações psicológicas e se suicidou em 16 de maio de 1932 em sua residência no Rio de Janeiro.

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