BAURU - 128 ANOS

Azarias Ferreira Leite: o perfil de uma época

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
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Azarias Leite foi presidente da Câmara de Bauru
Azarias Leite foi presidente da Câmara de Bauru

Era 20 de outubro de 1910 quando a Gazeta de Notícias, jornal que fez história no Rio de Janeiro e circulou entre 1875 a 1956, anunciou com destaque na segunda das oito páginas de sua edição: "Última hora: assassinato de um chefe político em Bauru". O texto, através de um telegrama, havia chegado no final do dia anterior pela Agência Americana.

"O coronel Azarias Leite, chefe hermista ali residente, foi barbaramente assassinado pelos seus adversários políticos quando vinha de sua fazenda para assumir o cargo de diretor no Banco de Custeio Rural", prenunciou a notícia.

Leite foi encontrado no caminho rumo à sua fazenda com vários ferimentos por armas de fogo. O texto dizia que os ânimos em Bauru estavam "exaltadíssimos". De fato o Brasil vivia o primeiro clima eleitoral naquele ano. A disputa se dava entre hermistas - grupo no qual Azarias Leite se incluía, que apoiava Hermes da Fonseca - e civilistas, estes alinhados ao nome de Rui Barbosa à presidência.

Hermes da Fonseca levou o pleito e assumiu o Brasil dias depois da morte do coronel bauruense. Mas tudo à custa de fraude nas urnas, como reconhece o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O esquema foi facilitado pelo fato de que Fonseca tinha apoio de Nilo Peçanha, então presidente da recém-inaugurada República.

Azarias, então presidente da Câmara de Bauru, era desafeto do governador paulista, Albuquerque Lins, republicano e candidato a vice de Rui Barbosa. O próprio telegrama da Agência Americana confirma isso.

"O coronel era presidente da Câmara e do diretório oposicionista ao governo do Estado. Nasceu em Minas Gerais e possuía uma das melhores fazendas no município de sua residência [Bauru]".

Autêntico bandeirante e fazendeiro poderoso ao lado de outros pioneiros de Bauru, Azarias dividia o diretório do partido conservador junto de Gerson França e Álvaro de Sá, abastado médico de Bauru na época que chegou a ser prefeito de Bauru, e não escapava das turbulências e conflitos que o Brasil vivia naqueles tempos.

Em 1892, por exemplo, recusou ser nomeado intendente do Espírito Santo da Fortaleza - como Bauru se chamava antes da virada do século - e acabou substituído por outros nomes.

Pouco depois, em 1901, a família Mesquita nem havia assumido totalmente o jornal O Estado de S. Paulo ainda quando Azarias Leite escreveu críticas ao jornal - que as publicou quase que na íntegra. O coronel contestava uma nota publicada em 23 de dezembro de 1900 sobre um júri que ocorria em Bauru. Aos olhos de hoje dificilmente se nota algo de mais na notícia do Estado - mas os tempos eram outros.

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